Dermatoses na gravidez
O que são dermatoses na gravidez1?
Dermatoses da gravidez1 são manifestações cutâneas2 fisiológicas3 ou patológicas específicas do período de gravidez1 ou alteradas por ele. De um modo geral, elas podem ser classificadas em três grupos principais:
- Dermatoses fisiológicas3 da gravidez1
- Dermatoses alteradas pela gravidez1
- Dermatoses específicas da gravidez1
Quais são as causas determinantes das características assumidas pelas dermatoses durante a gravidez1?
As características assumidas pelas dermatoses na gravidez1 se dão em razão das alterações imunológicas, metabólicas, hormonais e vasculares4 do período gestacional. Elas acontecem devido às grandes elevações de estrogênio, progesterona, beta-HCG, prolactina5 e uma variedade de hormônios e mediadores que alteram completamente as funções do organismo.
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Quais são as características clínicas das dermatoses na gravidez1?
Algumas das alterações cutâneas2 que ocorrem durante a gravidez1 são tão comuns e transitórias que sequer chegam a ter alguma importância clínica, mas há outras que indicam ou expressam problemas de maior significação. O fato de que algumas alterações dermatológicas sejam descritas como fisiológicas3 não minimiza o desconforto sentido pelas grávidas. A ocorrência delas pode ser esteticamente significativa e comprometer a dimensão biológica, emocional e social da gestante.
1. Dermatoses fisiológicas3 da gravidez1
- As alterações de pigmentação incluem a hiperpigmentação e o melasma7. A maioria das grávidas experimenta um aumento da pigmentação nas áreas já pigmentadas, como mamilos8, aréolas, genitália9 externa, face10 interna das coxas11, axilas e linha alba12 (linha média do abdome13). Pode ocorrer também hiperpigmentação de sardas, nevos14 e cicatrizes15 preexistentes. Frequentemente, essa hiperpigmentação melhora após o parto. O melasma7 ou “máscara gravídica”, por sua vez, caracteriza-se por mancha escurecida irregular e simétrica, localizada na face10. Quase sempre, o melasma7 desaparece após o parto, mas os raios ultravioleta não só o agravam como também podem favorecer a manutenção da lesão16 no pós-parto.
- O hirsutismo17 (aparecimento ou aumento de pelos) leve a moderado, principalmente na face10, é frequentemente observado na gravidez1 e é resultado das alterações endócrinas no período, regredindo nos primeiros 6 meses pós-parto.
- Nas unhas18 pode ocorrer um rápido crescimento, o que comumente resulta em perda do brilho, onicólise19 distal20 (destruição das unhas18) e hiperqueratose21 subungueal.
- Quanto às alterações glandulares, ocorre um aumento da atividade das glândulas écrinas22, que liberam sua secreção sem que haja perda do citoplasma23 da célula24 secretora, resultando em aumento da incidência25 da miliária, da hiperidrose26 e do eczema27 disidrótico. As glândulas sebáceas28 tendem a aumentar sua função, principalmente no 3º trimestre da gravidez1, pelo aumento dos estrógenos circulantes. O surgimento e o curso da acne29 são imprevisíveis, mas em muitas gestantes surge pela primeira vez na gravidez1. A melhora de doenças preexistentes, como a hidradenite, por exemplo, sugere diminuição da atividade das glândulas apócrinas30 na gestação.
- No que se refere ao tecido conectivo31, há a formação de estrias durante o 6º e 7º meses de gestação em 90% das mulheres. Os principais fatores relacionados a elas parecem ser uma combinação da influência genética com a distensão mecânica dos tecidos e com o aumento dos níveis séricos de cortisol e de estrógeno32.
- As alterações vasculares4 são comuns e são causadas principalmente pela manutenção dos elevados níveis de estrógenos. O aumento da vascularização da vagina33, aranhas vasculares4 e eritema34 palmar35 são comuns e costumam desaparecer no pós-parto. Varicosidades e hemorroidas36 são frequentes na gravidez1, embora a trombose venosa profunda37 seja rara.
- Hiperemia38, edema39 gengival e gengivite40 são extremamente frequentes nas grávidas, principalmente no 3º trimestre da gravidez1, tendendo a melhorar no pós-parto.
2. Dermatoses alteradas pela gravidez1
Entre as dermatoses e/ou tumores preexistentes que são alterados pela gravidez1 na sua apresentação ou no seu curso (pioram durante a gestação), contam-se:
- As infecções41 podem ocorrer com maior frequência devido à diminuição da imunidade42 celular. A candidíase43 e a tricomoníase são frequentes na gravidez1. O condiloma44 acuminado pode crescer rapidamente e obstruir o canal de parto. A infecção45 pelo herpes simples não é modificada pela gravidez1, mas é relacionada à morbidade46 e à mortalidade47 fetal. No caso da varicela48, as complicações podem ser maternas e/ou fetais, como: pneumonia49 materna, morte materna, parto prematuro e varicela48 congênita50. Na gravidez1, pode ocorrer exacerbação da hanseníase, maior frequência dos estados reacionais e aumento da resistência à quimioterapia51.
- Quanto às doenças autoimunes52, o lúpus53 cutâneo54 crônico55 não é afetado e a gravidez1 é, em geral, bem tolerada. Se a concepção56 ocorre durante atividade lúpica ou se o lúpus53 surge na gestação, a incidência25 de complicações aumenta e o lúpus53 sistêmico57 materno pode afetar a criança (lúpus53 neonatal). A esclerodermia e a dermatomiosite geralmente não são alteradas pela gestação, mas em alguns casos podem ocorrer complicações graves.
- Quanto ao tecido conectivo31, as pacientes têm risco aumentado de sangramentos no pós-parto, ruptura de grandes vasos, lacerações uterinas e prolapso58 uterino. As pacientes podem ter também risco aumentado de sangramento do trato gastrointestinal, epistaxe59 e insuficiência cardíaca60 com arritmias61 ventriculares.
- Alguns tumores podem sofrer mudanças na cor e aumentar de tamanho ou número durante a gravidez1. Os acrocórdons são tumores benignos e pedunculados que surgem frequentemente nos últimos meses da gestação. Os nevos14 podem aumentar em número, tamanho ou tornar-se mais pigmentados na gravidez1 sem que isso represente sinal62 de malignidade. Parece não haver aumento da incidência25 nem alteração no prognóstico63 do melanoma64.
- Algumas observações indicam que a dermatite65 atópica melhora com a gravidez1; a amamentação66 pode levar ao eczema27 dos mamilos8; o puerpério67 aumenta a incidência25 de dermatite65 de contato e há exacerbação do eritema multiforme68, do eritema nodoso69 e da acantose nigricans70; parece ocorrer uma piora da porfiria71 cutânea72 tardia, sem prejuízo ao feto73.
3. Dermatoses específicas da gravidez1
As dermatoses específicas da gravidez1, por seu turno, constituem um grupo de dermatoses inflamatórias raras, pruriginosas74, que só ocorrem no ciclo gravídico e puerperal. Embora raras, elas podem ter um elevado risco de efeitos adversos no feto73. Entre elas se encontram:
- A colestase75 intra-hepática76 da gravidez1, que ocorre principalmente no 3º trimestre em aproximadamente 1 a 2% das gestações. Ela é caracterizada pelo prurido77 localizado no abdome13, nas palmas das mãos78, nas plantas dos pés ou até de forma generalizada. O prurido77 remite após o parto, mas pode persistir por algumas semanas no puerpério67. Existem relatos de aumento do risco de prematuridade, mecônio79 no líquido amniótico80 e morte fetal.
- O herpes gestacional, chamado também penfigoide gestacional, que é uma doença rara que acomete aproximadamente uma em cada 50.000 gestações. Alterações imunológicas e predisposição genética parecem ser os principais fatores causais. Ocorre no 2º ou no 3º trimestre. Caracteriza-se pelo súbito aparecimento de lesões81 eritêmato edematosas, urticariformes, extremamente pruriginosas74, que progridem rapidamente para uma erupção82 bolhosa generalizada poupando face10, mucosas83, palmas das mãos78 e plantas dos pés. Não há risco materno, mas existem referências de tendência a recém-nascidos pequenos para a idade gestacional e prematuridade.
- O surgimento de pápulas84 e placas85 urticariformes e pruriginosas74 na gravidez1, às vezes referido como erupção82 polimorfa da gravidez1, que é a mais comum das dermatoses específicas, ocorrendo em aproximadamente uma em cada 130 a 300 gestações. A causa permanece obscura, mas condições relacionadas são: ganho de peso materno ou fetal excessivo, gestações múltiplas, primíparas e distensão abdominal gerada pela gravidez1.
- O prurigo gestacional, que é caracterizado pelo aparecimento de nódulos na pele86 que coçam bastante e que podem deixar manchas e cicatrizes15. É a dermatose87 específica de início mais precoce, entre a 25ª e 30ª semana gestacional. Ocorre em uma a cada 300 gestações e a sua causa é desconhecida. Caracteriza-se por múltiplas pápulas84 escoriadas no abdome13 e nas faces extensoras dos membros. A mãe e o feto73 não são gravemente afetados; exceto pelo incômodo do prurido77 que a mãe sofre. A doença permanece por toda gestação com melhora após o parto, podendo permanecer por poucos dias do puerpério67. A doença pode recorrer nas futuras gestações. Os exames laboratoriais são normais e o histopatológico é inespecífico. O tratamento é sintomático88 e geralmente insatisfatório.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Biblioteca Virtual em Saúde, do National Institutes of Health e da American Association of Family Physicians.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.