Manifestações oculares de doenças sistêmicas
O que são manifestações oculares de doenças sistêmicas?
Uma visão1 alterada nem sempre é problema primário dos olhos2. Muitas vezes ela é decorrente de doenças sistêmicas que têm repercussões sobre os olhos2 e seus anexos3, as quais podem se resumir apenas a uma simples vermelhidão passageira, como acontece num resfriado comum, até alterações retinianas graves que potencialmente podem levar à cegueira.
Os olhos2 são uma janela que nos permitem visualizar algumas doenças pelo corpo antes mesmo delas manifestarem seus sintomas4.
Às vezes, é o clínico geral que se depara com pacientes com doenças sistêmicas que podem ter manifestações oculares ou, alternativamente, é o oftalmologista5 que primeiro atende pacientes com queixas oculares que, no entanto, decorrem de doenças sistêmicas ainda não reconhecidas. Por essas razões, ambos devem estar familiarizados com as complicações oculares comuns de doenças sistêmicas.
Veja também sobre "Síndrome6 de Sjogren - diminuição de lágrima e saliva", "Artrite reumatoide7", "Hipovitaminoses" e "Anemias".
Quais são as doenças sistêmicas que têm manifestações oculares?
É impossível citar absolutamente todas as doenças sistêmicas que têm manifestações oculares, mas as principais são:
- Condições congênitas8
- Diabetes9
- Hipertensão arterial10
- AIDS
- Artrite reumatoide7
- Espondilite anquilosante
- Lúpus11 eritematoso12
- Mistenia gravis
- Discrasias sanguíneas
- Doenças da tireoide13
- Malignidades oculares
- Distúrbios do tecido conjuntivo14
- Poliarterite nodosa
- Distúrbios autoimunes15
1. Condições congênitas8
Numerosas síndromes e doenças congênitas8, incluindo síndrome de Down16, síndrome6 de Marfan, distrofia17 miotônica, neurofibromatose, esclerose18 tuberosa, distúrbios metabólicos, etc. geram manifestações oculares, às vezes tão específicas que podem ser uma grande ajuda para estabelecer um diagnóstico19 definitivo.
2. Diabetes9
O diabetes9 não controlado talvez seja a doença sistêmica que mais ostensivamente afeta os olhos2. Ele comumente produz efeitos oculares significativos, se não reconhecidos e tratados a tempo, como a catarata20, o glaucoma21, a neuropatia22 óptica isquêmica, as paresias oculomotoras e as erosões ceráticas. A retinopatia diabética23 é a principal causa de cegueira adquirida, tanto nos Estados Unidos como no Brasil.
3. Hipertensão arterial10
A hipertensão arterial10 sistêmica também pode afetar a retina24, a circulação25 coroidal e o nervo óptico. Uma variedade de alterações vasculares26 da retina24 pode ser vista em pacientes hipertensos: sinais27 agudos ou crônicos de retinopatia hipertensiva, como constrição28 arteriolar, manchas algodonosas, hemorragias29 retinianas, exsudatos30 duros, coroidopatia hipertensiva, descolamento seroso da retina24 e edema31 de disco óptico32. Essas alterações dependem em parte da gravidade e duração da hipertensão33.
4. AIDS
Em pacientes com AIDS, são muito comuns os olhos2 secos, mas eles são um achado inespecífico. As três lesões34 clássicas mais frequentes são as manchas algodonosas retinianas, a retinite por citomegalovírus35 e o sarcoma de Kaposi36 da pálpebra ou da conjuntiva37.
5. Artrite reumatoide7
As manifestações oculares da artrite reumatoide7 são mais frequentemente vistas em pacientes com formas graves da doença e naqueles com complicações extra-articulares. Além de olhos2 secos, outras manifestações oculares comuns são inflamação38 da esclera39, úlceras40 periféricas da córnea41 e uveíte42.
6. Espondilite anquilosante
Cerca de 25% dos pacientes com espondilite anquilosante tem um ou mais ataques de irite43, uma forma de inflamação38 intraocular que pode preceder a artrite44 clínica. Classicamente, os pacientes se apresentam com fotofobia45, vermelhidão e visão1 diminuída.
7. Lúpus11 eritematoso12
Pacientes com lúpus11 eritematoso12 sistêmico46 podem ter muitas das mesmas manifestações associadas à artrite reumatoide7, mas a manifestação mais grave do lúpus11 eritematoso12 sistêmico46 envolve a vasculatura da retina24 e do nervo óptico. O olho47 seco produz a sensação de corpo estranho no olho47, vermelhidão e coceira.
8. Mistenia gravis
Cerca de 75% dos pacientes com miastenia48 gravis apresentam manifestações oculares, ptose49 palpebral bilateral, movimentos oculares limitados e/ou diplopia50. Entre esses pacientes, aproximadamente 20% terão apenas manifestações oculares. Em qualquer paciente com ptose49 e diplopia50 de etiologia51 obscura, deve-se presumir a possibilidade de que tenha miastenia48 gravis.
9. Discrasias sanguíneas
Uma discrasia sanguínea é qualquer condição anormal ou patológica do sangue52. Até 90% dos pacientes com discrasias sanguíneas apresentam manifestações oculares. As discrasias sanguíneas mais frequentes com manifestações oculares incluem hiperviscosidade, trombocitopenia53 e todas as formas de anemia54, incluindo anemia falciforme55, que podem causar diversas formas de retinopatias, manchas algodonosas e derrames oculares.
10. Doenças da tireoide13
Anormalidades oculares também são comuns em pacientes que sofrem de disfunção tireoidiana. A oftalmopatia tireoidiana nem sempre está correlacionada com os níveis séricos de hormônio56 tireoidiano e pode ocorrer mesmo em pacientes eutireoideanos, e a doença ocular pode continuar progredindo após os exames da função da tireoide13 voltarem ao normal.
11. Malignidades oculares
As malignidades oculares são mais comumente lesões34 metastáticas, mas neoplasias57 decorrentes do tecido58 uveal dão origem ao melanoma59 ocular primário. Os melanomas oculares costumam ser facilmente tratáveis quando diagnosticados precocemente, mas podem ter consequências fatais se não forem reconhecidos e tratados de forma oportuna. Os linfomas de células gigantes60 do sistema nervoso central61 podem ter sua apresentação inicial na cavidade vítrea dos olhos2 de pessoas idosas. O diagnóstico19 pode ser obtido por meio de uma vitrectomia diagnóstica.
12. Distúrbios do tecido conjuntivo14
Os distúrbios do tecido conjuntivo14 podem dar origem a vários problemas oculares, sendo o mais comum a deficiência de lágrimas, levando a olhos2 secos ou a ceratoconjuntivite seca. Os sintomas4 de ressecamento dos olhos2 incluem ardor62, sensação de corpo estranho ou de olhos2 arenosos e fotofobia45.
13. Poliarterite nodosa
A poliarterite nodosa é uma doença inflamatória generalizada que afeta os vasos sanguíneos63 de pequeno e médio porte, mais comumente em homens de meia-idade. Além de olhos2 secos e os sintomas4 decorrentes deles, as demais manifestações oculares são ulceração64 periférica da córnea41, esclerite65, retinopatia hipertensiva e vasculite66 retiniana primária.
14. Distúrbios autoimunes15
Certos distúrbios autoimunes15, como as doenças do tecido conjuntivo14, doenças do olho47 causadas por distúrbios da tireoide13 e miastenia48 gravis, podem inicialmente apresentar-se apenas como manifestações oculares. Portanto, é extremamente importante o reconhecimento oftalmológico precoce desses distúrbios para que os pacientes possam receber o tratamento apropriado tão cedo quanto possível.
Outras doenças sistêmicas com manifestações oculares incluem metade das mais de cem doenças metabólicas e hereditárias, deficiências graves de vitaminas A e do complexo B, doenças gastrointestinais inflamatórias, hanseníase, outras doenças endócrinas além do diabetes9, como doenças das paratireoides e suprarrenais, etc.
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da University of Virginia School of Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.