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Efeitos da cafeína no organismo

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O que é a cafeína?

A cafeína (trimetilxantina) é um composto químico oleoso, de fórmula C₈H₁₀N₄O₂, classificado como alcaloide1 do grupo das xantinas. Ela é encontrada em certas plantas como café, erva-mate, chá-verde, guaraná e cacau. Pode ser consumida em bebidas, na forma de infusão, como estimulante.

De longe, o hábito de tomar café é a principal forma de consumi-la, não só no Brasil, mas também em todo o mundo.

Sobre o hábito de tomar café (cafeína)

O hábito de apreciar o café e tomá-lo em casa ou em lugares coletivos se popularizou a partir de 1450. A Turquia foi a responsável por transformar o ato de tomar café em um ritual de sociabilidade: foi lá que surgiu a primeira cafeteria do mundo, por volta de 1475. No entanto, a bebida já era utilizada desde muito antes.

A lenda de Kaldi, registrada em manuscritos que datam de 575 d.C., relata a história de um pastor de cabras na Etiópia que observou que os animais ficavam mais alegres e cheios de energia depois de mastigar os frutos e folhas dos arbustos dos campos. De lá, o café passou à Europa Ocidental, onde enfrentou algumas resistências, mas acabou se disseminando entre artistas e intelectuais, que sentiam adquirir mais energia com seu consumo.

A primeira muda de café que veio para o Brasil parece ter sido trazida pelos portugueses, em 1727. A partir do século XIX e início do século XX, o café passou a ser o principal produto de exportação do país e, ainda atualmente, o Brasil é um dos principais produtores e exportadores mundiais de café.

Veja mais sobre "Ansiedade normal e patológica", "Como melhorar a memória" e "Privação do sono e suas consequências para a saúde2".

Por que usar cafeína?

Na medicina, a cafeína é usada principalmente como estimulante do sistema nervoso central3, embora essa não seja a sua única ação. Quando absorvida pela corrente sanguínea e transportada até o cérebro4, atua como uma substância psicoativa, influenciando o humor, gerando um estado de alerta e aumentando a capacidade de raciocínio.

Ela frequentemente aparece em combinações de medicamentos antigripais para diminuir as sensações de cansaço e de tontura5, além de melhorar a absorção e os efeitos dos analgésicos6 receitados para dor. Ademais, a cafeína:

  1. Estimula a atividade cerebral e a memória, estimulando a ação dos neurotransmissores, e pode combater a perda de capacidade mental associada ao avanço da idade.
  2. Aumenta a atenção e deixa a pessoa mais alerta, especialmente pela manhã, quando acabou de acordar.
  3. Combate o cansaço físico e mental, tanto devido aos seus efeitos estimulantes quanto às suas propriedades antioxidantes, e ainda evita a sensação de indisposição que é muito comum em casos de gripes e resfriados.
  4. Melhora o desempenho e os ganhos durante a prática de atividades físicas, reduzindo a fadiga7 muscular e melhorando a resistência durante e após os exercícios, em virtude de sua ação termogênica.
  5. Acelera o metabolismo8 e, assim, tem potencial para facilitar a perda de peso.
  6. Está associada a índices mais baixos de problemas de vista, preservando a retina9 e combatendo a catarata10.
  7. Pode ser associada a um menor risco de desenvolver pedras nos rins11.
  8. Promove uma ação estimulante do humor e eleva a sensação de bem-estar, apesar desse efeito não ter uma duração muito longa.
  9. Age na dilatação dos brônquios12, estimulação do coração13 e aumento da excreção urinária.

O consumo médio diário da cafeína deve ficar em torno de 400 mg (uma xícara de café contém cerca de 80–85 mg de cafeína). Quantidades muito maiores de cafeína podem provocar taquicardia14, insônia, ansiedade, tremores e dores de cabeça15. O consumo superior a 10 gramas/dia pode ser fatal para o indivíduo.

Qual é o substrato fisiológico16 da ação da cafeína?

A cafeína é absorvida pelo intestino delgado17 dentro de 45 minutos após ter sido ingerida e distribuída por todos os tecidos corporais. A concentração máxima no sangue18 é atingida entre 1 e 2 horas. A cafeína é metabolizada pelo fígado19 em três metilxantinas, que são:

  1. Paraxantina (84%), que aumenta a lipólise (destruição das gorduras).
  2. Teobromina (12%), que dilata os vasos sanguíneos20 e aumenta o volume de urina21.
  3. Teofilina (4%), que relaxa os músculos22 lisos dos brônquios12 e é usada para tratar a asma23.

A cafeína é eliminada pela urina21. O seu papel como estimulante do sistema nervoso central3 no combate ao sono é conhecido. Quando acordada, a pessoa vai progressivamente acumulando nos neurônios24 uma certa quantidade de adenosina que acaba por provocar um estado de sonolência. Como a cafeína consumida é solúvel em água e lipídios, ela atravessa facilmente a barreira hematoencefálica e atinge os neurônios24, onde antagoniza (bloqueia) os receptores de adenosina. Em outras palavras, ela impede a ação da adenosina, restaurando o estado de alerta. A molécula de cafeína é semelhante à de adenosina e, por isso, capaz de se ligar aos receptores da adenosina na superfície das células25.

Quais são os possíveis riscos de tomar a cafeína?

Uma vez que a cafeína acelera a frequência cardíaca, ela deve ser evitada por indivíduos que apresentam problemas cardíacos, transtorno de ansiedade e manifestações sintomáticas de tremores e agitação, e deve ser usada com cautela por pacientes com úlcera gástrica26, refluxo gastroesofágico27 ou que tenham a função renal28 ou hepática29 comprometidas.

A cafeína permanece no organismo por 3 a 7 horas após sua ingestão, sendo capaz de provocar insônia ou prejudicar a qualidade do sono. Além disso, sua ação de bloquear a adenosina pode acelerar a frequência cardíaca, sendo comumente associada à sensação de ansiedade, taquicardia14 e, em casos mais graves, depressão.

Apresenta também algum potencial viciante e contraindicações, embora ambos sejam de pequena relevância. Em doses usuais, a síndrome30 de abstinência é muito discreta e fácil de ser suportada: dor de cabeça15, cansaço, fadiga7 e redução do estado de alerta. A pessoa pode apresentar ainda humor depressivo, irritabilidade, dificuldade para trabalhar, ansiedade, tremores, náuseas31 e vômitos32.

Por outro lado, embora ela possa gerar habituação33, geralmente não gera tolerância e tendência ao aumento de doses, ou só o faz muito discretamente. No entanto, o uso crônico34 dessa substância em doses maiores de 350 mg ao dia pode provocar dependência física e tolerância. Na retirada da cafeína pode aparecer uma síndrome30 de abstinência mais séria.

Ela possui também efeitos prejudiciais, provocando aumento da secreção gástrica e agravando sintomas35 de gastrite36 e úlcera37.

Leia sobre: "Criança com dor de cabeça15 - o que pode desencadear a dor", "Síndrome30 das pernas inquietas" e "Insônia - como dormir melhor".

 

Referncias:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Hospital Badim e da UNIFESP.

ABCMED, 2023. Efeitos da cafeína no organismo. Disponvel em: <https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1433320/efeitos-da-cafeina-no-organismo.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Alcaloide: Classe de substâncias orgânicas nitrogenadas com características básicas.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
3 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
4 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
5 Tontura: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
6 Analgésicos: Grupo de medicamentos usados para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
7 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
8 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
9 Retina: Parte do olho responsável pela formação de imagens. É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Possui duas partes: a retina periférica e a mácula.
10 Catarata: Opacificação das lentes dos olhos (opacificação do cristalino).
11 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
12 Brônquios: A maior passagem que leva ar aos pulmões originando-se na bifurcação terminal da traquéia. Sinônimos: Bronquíolos
13 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
14 Taquicardia: Aumento da frequência cardíaca. Pode ser devido a causas fisiológicas (durante o exercício físico ou gravidez) ou por diversas doenças como sepse, hipertireoidismo e anemia. Pode ser assintomática ou provocar palpitações.
15 Cabeça:
16 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
17 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
18 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
19 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
20 Vasos Sanguíneos: Qualquer vaso tubular que transporta o sangue (artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias).
21 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
22 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
23 Asma: Doença das vias aéreas inferiores (brônquios), caracterizada por uma diminuição aguda do calibre bronquial em resposta a um estímulo ambiental. Isto produz obstrução e dificuldade respiratória que pode ser revertida de forma espontânea ou com tratamento médico.
24 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
25 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
26 Úlcera gástrica: Lesão na mucosa do estômago. Pode ser provocada por excesso de ácido clorídrico produzido pelo próprio estômago ou por medicamentos como antiinflamatórios ou aspirina. É uma doença infecciosa, causada pela bactéria Helicobacter pylori em quase 100 % dos casos.
27 Refluxo gastroesofágico: Presença de conteúdo ácido proveniente do estômago na luz esofágica. Como o dito órgão não está adaptado fisiologicamente para suportar a acidez do suco gástrico, pode ser produzida inflamação de sua mucosa (esofagite).
28 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
29 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
30 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
31 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
32 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
33 Habituação: Em psicologia, habituação é um exemplo de aprendizagem não associativa na qual ocorre uma diminuição automática na intensidade de uma resposta a um estímulo que se repete. Ela capacita uma pessoa a ignorar o que lhe é familiar e a focar a atenção no que é novo.
34 Crônico: Descreve algo que existe por longo período de tempo. O oposto de agudo.
35 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
36 Gastrite: Inflamação aguda ou crônica da mucosa do estômago. Manifesta-se por dor na região superior do abdome, acidez, ardor, náuseas, vômitos, etc. Pode ser produzida por infecções, consumo de medicamentos (aspirina), estresse, etc.
37 Úlcera: Ferida superficial em tecido cutâneo ou mucoso que pode ocorrer em diversas partes do organismo. Uma afta é, por exemplo, uma úlcera na boca. A úlcera péptica ocorre no estômago ou no duodeno (mais freqüente). Pessoas que sofrem de estresse são mais susceptíveis a úlcera.
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