Considerações sobre a clínica da dor
O que é a dor?
Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor, “a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão1 tecidual real ou potencial, ou é descrita em tais termos.” Na clínica médica, a dor é considerada um sintoma2 de uma condição subjacente.
Antes de tudo, a dor é um sinal3 que o corpo envia para o cérebro4 de que algo está “errado” e precisa de uma reparação. A localização da dor e a intensidade dela indicam a localização provável onde esse erro está acontecendo e dá uma ideia aproximada da gravidade dele. A dor permite que o corpo reaja e evite mais danos aos tecidos e motiva o indivíduo a se afastar de situações prejudiciais, a proteger uma parte do corpo danificada e a evitar experiências semelhantes no futuro.
Quais são as principais causas de dor?
A dor geralmente é causada por danos aos tecidos. As pessoas sentem dor quando um sinal3 viaja através de fibras nervosas para o cérebro4 que os interpreta sob a forma de experiência dolorosa.
Leia sobre "A dor como relatada pelo paciente", "Fibromialgia5", "Dor abdominal" e "Dor de cabeça6".
Quais são os tipos clínicos de dor?
Basicamente as dores são de quatro tipos:
- A dor nociceptiva normalmente é o resultado de lesão1 tecidual. Tipos comuns de dor nociceptiva são dor de artrite7, dor nas costas8 ou dor pós-cirúrgica.
- A dor inflamatória é causada por uma inflamação9 anormal, devido a uma resposta inadequada do sistema imunológico10 do corpo. Nesta categoria são incluídas a gota11 e a artrite reumatoide12, por exemplo.
- A dor chamada neuropática13 é aquela causada pela irritação do nervo. Inclui condições como neuropatia14, dor radicular e neuralgia15 do trigêmeo, entre outras.
- A dor funcional acontece quando quadros clínicos sem uma origem óbvia causam dor. Exemplos de tais condições são a fibromialgia5 e a síndrome16 do intestino irritável.
A descrição que os pacientes fazem da dor ajuda o médico a diagnosticá-la em um desses tipos e a tratá-la corretamente. Como há variados tratamentos para a dor, muitos deles específicos para o tipo próprio da dor, é importante caracterizar o tipo de dor que a pessoa está sentindo. A descrição do paciente deve levar em conta:
- Se a dor começou repentinamente ou num prazo curto ou se veio surgindo e se agravando aos poucos e é de longa duração ou permanente.
- O que provoca e o que alivia a dor.
- Se a dor é contínua ou intermitente17.
- Qual a intensidade da dor: se leve, moderada ou muito intensa. Como o paciente avalia a dor em uma escala de 1 a 10.
- Qual a “qualidade” da dor: afiada, maçante, penetrante, esmagadora, latejante, nauseante, ou outra.
- Onde a dor se localiza: se é circunscrita a um ponto ou se irradia.
- Se uni ou bilateral; se igual nos dois lados ou maior em um deles.
- Se a dor se modifica conforme a hora do dia, atividade, clima, época do ano, etc.
- Qual atividade ou posição do corpo provoca ou alivia a dor.
Quais são as características clínicas da dor?
A dor é o motivo mais comum de consulta médica na maioria dos países desenvolvidos. É um sintoma2 importante em muitas condições médicas e pode interferir na qualidade de vida e no funcionamento geral de uma pessoa.
Elas podem ser agudas ou crônicas. Há quem classifique de aguda a dor que dura menos de 30 dias, de crônica a que dura mais de 6 meses e de subaguda18 a dor que dura de 1 a 6 meses. A dor aguda em geral está diretamente relacionada a danos aos tecidos moles, como uma torção19 no tornozelo20 ou um corte na pele21, e desaparece gradualmente à medida que os tecidos lesionados recuperam sua integridade. As dores crônicas persistem além do período normal de recuperação dos tecidos ou ocorrem junto com uma condição crônica de saúde22, como a artrite7, por exemplo.
Além do desconforto ocasionado pelas dores, os pacientes com dores agudas ou crônicas podem exibir outros sintomas23 físicos, como náusea24, tontura25, fraqueza ou sonolência, e sofrem deficiências psíquicas no controle da atenção, concentração, memória, flexibilidade mental, resolução de problemas e velocidade no processamento de informações, bem como aumento da depressão, ansiedade, medo, raiva26 ou outras emoções.
As dores e seus efeitos podem afetar as pessoas a ponto de elas não conseguirem trabalhar, comer adequadamente, participar de atividades físicas ou aproveitar a vida.
Como tratar as dores?
Quanto a tratamentos, dispõe-se de algumas estratégias básicas:
- Remédios para dor.
- Terapias físicas, como compressas de calor ou frio, massagem, hidroterapia27 e exercícios.
- Terapias psicológicas, como terapia cognitivo28-comportamental, técnicas de relaxamento e meditação.
- Técnicas de mente e corpo, como acupuntura.
- Grupos de apoio.
Os medicamentos simples para dor são úteis em 20% a 70% dos casos. Formas leves de dores podem ser aliviadas por analgésico29 simples, de venda livre. Se esses medicamentos não fornecerem alívio, o médico poderá prescrever outros, mais fortes, como relaxantes musculares, ansiolíticos, antidepressivos ou um curso curto de analgésicos30 mais potentes.
Injeções de esteroides podem ser aplicadas dentro de uma articulação31 dolorida para reduzir o inchaço32 e a inflamação9 e, consequentemente, a dor. Uma injeção33 epidural34 de anestésico pode ser administrada para dor por estenose35 espinhal ou dor lombar. Quando é possível identificar com clareza o nervo que está causando dor em um órgão ou região específica do corpo, pode ser feito um bloqueio desse nervo com injeção33 de uma substância anestésica. Outros recursos ainda mais sofisticados podem ser aplicados em casos de dores recalcitrantes.
Além desses recursos físicos, fatores psicológicos como apoio social, psicoterapia cognitivo28-comportamental, excitação ou distração podem afetar a intensidade ou o desconforto da dor. Em alguns debates sobre suicídio assistido ou eutanásia, a dor tem sido usada como argumento para permitir que pessoas com doenças terminais ponham fim às suas vidas.
Veja também sobre "Dores do crescimento", "Dor no ombro", "Dor no pescoço36" e "Dor na relação sexual ou dispareunia".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Johns Hopkins Medicine e da Faculty of Pain Medicine (UK).
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.