Gostou do artigo? Compartilhe!

Considerações sobre a clínica da dor

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é a dor?

Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor, “a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão1 tecidual real ou potencial, ou é descrita em tais termos.” Na clínica médica, a dor é considerada um sintoma2 de uma condição subjacente.

Antes de tudo, a dor é um sinal3 que o corpo envia para o cérebro4 de que algo está “errado” e precisa de uma reparação. A localização da dor e a intensidade dela indicam a localização provável onde esse erro está acontecendo e dá uma ideia aproximada da gravidade dele. A dor permite que o corpo reaja e evite mais danos aos tecidos e motiva o indivíduo a se afastar de situações prejudiciais, a proteger uma parte do corpo danificada e a evitar experiências semelhantes no futuro.

Quais são as principais causas de dor?

A dor geralmente é causada por danos aos tecidos. As pessoas sentem dor quando um sinal3 viaja através de fibras nervosas para o cérebro4 que os interpreta sob a forma de experiência dolorosa.

Leia sobre "A dor como relatada pelo paciente", "Fibromialgia5", "Dor abdominal" e "Dor de cabeça6".

Quais são os tipos clínicos de dor?

Basicamente as dores são de quatro tipos:

  1. A dor nociceptiva normalmente é o resultado de lesão1 tecidual. Tipos comuns de dor nociceptiva são dor de artrite7, dor nas costas8 ou dor pós-cirúrgica.
  2. A dor inflamatória é causada por uma inflamação9 anormal, devido a uma resposta inadequada do sistema imunológico10 do corpo. Nesta categoria são incluídas a gota11 e a artrite reumatoide12, por exemplo.
  3. A dor chamada neuropática13 é aquela causada pela irritação do nervo. Inclui condições como neuropatia14, dor radicular e neuralgia15 do trigêmeo, entre outras.
  4. A dor funcional acontece quando quadros clínicos sem uma origem óbvia causam dor. Exemplos de tais condições são a fibromialgia5 e a síndrome16 do intestino irritável.

A descrição que os pacientes fazem da dor ajuda o médico a diagnosticá-la em um desses tipos e a tratá-la corretamente. Como há variados tratamentos para a dor, muitos deles específicos para o tipo próprio da dor, é importante caracterizar o tipo de dor que a pessoa está sentindo. A descrição do paciente deve levar em conta:

  1. Se a dor começou repentinamente ou num prazo curto ou se veio surgindo e se agravando aos poucos e é de longa duração ou permanente.
  2. O que provoca e o que alivia a dor.
  3. Se a dor é contínua ou intermitente17.
  4. Qual a intensidade da dor: se leve, moderada ou muito intensa. Como o paciente avalia a dor em uma escala de 1 a 10.
  5. Qual a “qualidade” da dor: afiada, maçante, penetrante, esmagadora, latejante, nauseante, ou outra.
  6. Onde a dor se localiza: se é circunscrita a um ponto ou se irradia.
  7. Se uni ou bilateral; se igual nos dois lados ou maior em um deles.
  8. Se a dor se modifica conforme a hora do dia, atividade, clima, época do ano, etc.
  9. Qual atividade ou posição do corpo provoca ou alivia a dor.

Quais são as características clínicas da dor?

A dor é o motivo mais comum de consulta médica na maioria dos países desenvolvidos. É um sintoma2 importante em muitas condições médicas e pode interferir na qualidade de vida e no funcionamento geral de uma pessoa.

Elas podem ser agudas ou crônicas. Há quem classifique de aguda a dor que dura menos de 30 dias, de crônica a que dura mais de 6 meses e de subaguda18 a dor que dura de 1 a 6 meses. A dor aguda em geral está diretamente relacionada a danos aos tecidos moles, como uma torção19 no tornozelo20 ou um corte na pele21, e desaparece gradualmente à medida que os tecidos lesionados recuperam sua integridade. As dores crônicas persistem além do período normal de recuperação dos tecidos ou ocorrem junto com uma condição crônica de saúde22, como a artrite7, por exemplo.

Além do desconforto ocasionado pelas dores, os pacientes com dores agudas ou crônicas podem exibir outros sintomas23 físicos, como náusea24, tontura25, fraqueza ou sonolência, e sofrem deficiências psíquicas no controle da atenção, concentração, memória, flexibilidade mental, resolução de problemas e velocidade no processamento de informações, bem como aumento da depressão, ansiedade, medo, raiva26 ou outras emoções.

As dores e seus efeitos podem afetar as pessoas a ponto de elas não conseguirem trabalhar, comer adequadamente, participar de atividades físicas ou aproveitar a vida.

Como tratar as dores?

Quanto a tratamentos, dispõe-se de algumas estratégias básicas:

  1. Remédios para dor.
  2. Terapias físicas, como compressas de calor ou frio, massagem, hidroterapia27 e exercícios.
  3. Terapias psicológicas, como terapia cognitivo28-comportamental, técnicas de relaxamento e meditação.
  4. Técnicas de mente e corpo, como acupuntura.
  5. Grupos de apoio.

Os medicamentos simples para dor são úteis em 20% a 70% dos casos. Formas leves de dores podem ser aliviadas por analgésico29 simples, de venda livre. Se esses medicamentos não fornecerem alívio, o médico poderá prescrever outros, mais fortes, como relaxantes musculares, ansiolíticos, antidepressivos ou um curso curto de analgésicos30 mais potentes.

Injeções de esteroides podem ser aplicadas dentro de uma articulação31 dolorida para reduzir o inchaço32 e a inflamação9 e, consequentemente, a dor. Uma injeção33 epidural34 de anestésico pode ser administrada para dor por estenose35 espinhal ou dor lombar. Quando é possível identificar com clareza o nervo que está causando dor em um órgão ou região específica do corpo, pode ser feito um bloqueio desse nervo com injeção33 de uma substância anestésica. Outros recursos ainda mais sofisticados podem ser aplicados em casos de dores recalcitrantes.

Além desses recursos físicos, fatores psicológicos como apoio social, psicoterapia cognitivo28-comportamental, excitação ou distração podem afetar a intensidade ou o desconforto da dor. Em alguns debates sobre suicídio assistido ou eutanásia, a dor tem sido usada como argumento para permitir que pessoas com doenças terminais ponham fim às suas vidas.

Veja também sobre "Dores do crescimento", "Dor no ombro", "Dor no pescoço36" e "Dor na relação sexual ou dispareunia".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Johns Hopkins Medicine e da Faculty of Pain Medicine (UK).

ABCMED, 2022. Considerações sobre a clínica da dor. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1414085/consideracoes-sobre-a-clinica-da-dor.htm>. Acesso em: 5 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
2 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
4 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
5 Fibromialgia:
6 Cabeça:
7 Artrite: Inflamação de uma articulação, caracterizada por dor, aumento da temperatura, dificuldade de movimentação, inchaço e vermelhidão da área afetada.
8 Costas:
9 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
10 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
11 Gota: 1. Distúrbio metabólico produzido pelo aumento na concentração de ácido úrico no sangue. Manifesta-se pela formação de cálculos renais, inflamação articular e depósito de cristais de ácido úrico no tecido celular subcutâneo. A inflamação articular é muito dolorosa e ataca em crises. 2. Pingo de qualquer líquido.
12 Artrite reumatóide: Doença auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem. Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos.
13 Neuropática: Referente à neuropatia, que é doença do sistema nervoso.
14 Neuropatia: Doença do sistema nervoso. As três principais formas de neuropatia em pessoas diabéticas são a neuropatia periférica, neuropatia autonômica e mononeuropatia. A forma mais comum é a neuropatia periférica, que afeta principalmente pernas e pés.
15 Neuralgia: Dor aguda produzida pela irritação de um nervo. Caracteriza-se por ser muito intensa, em queimação, pulsátil ou semelhante a uma descarga elétrica. Suas causas mais freqüentes são infecção, lesão metabólica ou tóxica do nervo comprometido.
16 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
17 Intermitente: Nos quais ou em que ocorrem interrupções; que cessa e recomeça por intervalos; intervalado, descontínuo. Em medicina, diz-se de episódios de febre alta que se alternam com intervalos de temperatura normal ou cujas pulsações têm intervalos desiguais entre si.
18 Subaguda: Levemente aguda ou que apresenta sintomas pouco intensos, mas que só se atenuam muito lentamente (diz-se de afecção ou doença).
19 Torção: 1. Ato ou efeito de torcer. 2. Na geometria diferencial, é a medida da derivada do vetor binormal em relação ao comprimento de arco. 3. Em física, é a deformação de um sólido em que os planos vizinhos, transversais a um eixo comum, sofrem, cada um deles, um deslocamento angular relativo aos outros planos. 4. Em medicina, é o mesmo que entorse. 5. Na patologia, é o movimento de rotação de um órgão sobre si mesmo. 6. Em veterinária, é a cólica de alguns animais, especialmente a do cavalo.
20 Tornozelo: A região do membro inferior entre o PÉ e a PERNA.
21 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
22 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
23 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
24 Náusea: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc.
25 Tontura: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
26 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
27 Hidroterapia: 1. Uso da água sob formas diversas (banhos, duchas, loções, compressas úmidas, etc.) com fins terapêuticos. 2. Qualquer terapia que faça uso de água.
28 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
29 Analgésico: Medicamento usado para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
30 Analgésicos: Grupo de medicamentos usados para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
31 Articulação: 1. Ponto de contato, de junção de duas partes do corpo ou de dois ou mais ossos. 2. Ponto de conexão entre dois órgãos ou segmentos de um mesmo órgão ou estrutura, que geralmente dá flexibilidade e facilita a separação das partes. 3. Ato ou efeito de articular-se. 4. Conjunto dos movimentos dos órgãos fonadores (articuladores) para a produção dos sons da linguagem.
32 Inchaço: Inchação, edema.
33 Injeção: Infiltração de medicação ou nutrientes líquidos no corpo através de uma agulha e seringa.
34 Epidural: Mesmo que peridural. Localizado entre a dura-máter e a vértebra (diz-se do espaço do canal raquidiano). Na anatomia geral e na anestesiologia, é o que se localiza ou que se faz em torno da dura-máter.
35 Estenose: Estreitamento patológico de um conduto, canal ou orifício.
36 Pescoço:
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.