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Entendendo os mecanismos da fome

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O que é fome?

A fome é uma ocorrência natural, caracterizada por uma série de sinais1 fisiológicos que indicam que o organismo está sentindo falta de nutrientes. Há uma diferença essencial entre fome e vontade de comer. Os principais sinais1 da fome física são sensação de estômago2 vazio ou roncando, queda de energia, sono, irritação, dor de cabeça3, entre outros. Já a vontade de comer é um evento emocional (fome emocional), um desejo que leva a pessoa a ingerir determinados tipos de alimentos sem que necessariamente esteja precisando deles, fisiologicamente. As duas espécies de fome frequentemente estão associadas, às vezes sendo difícil separar uma da outra.

Quais são as causas da fome?

Algumas causas comuns de fome incluem ficar algum tempo sem comer, falta de acesso aos alimentos, dietas, estirão de crescimento em adolescente ou atividades físicas intensas. A vontade de comer, por outro lado, é causada por certos males como ansiedade, estresse e depressão ou simplesmente por hábitos criados pelas pessoas como, por exemplo, horários estabelecidos de alimentação, ver televisão, ler um livro, assistir a um filme etc. Em consequência, com a ideia de que comeu mais que o necessário, muitas vezes a pessoa reage a isso com frustração, complexos, carência, solidão, isolamento social, o que complica e reforça ainda mais o componente emocional.

Além disso, a ingestão de alimentos é condicionada por fatores externos circunstanciais como a simples visão4 dos alimentos, apresentação estética deles, local em que é realizada a ingestão, festividades, datas religiosas, companhia de alguém etc. O consumo de alimentos depende também, além da fome, da atratividade visual deles. Não é outro o motivo pelo qual as lanchonetes e docerias expõem em vitrines e locais bem visíveis seus produtos ou vistosas fotografias deles.

Veja também “Consequências do emagrecimento rápido”, “Hiperfagia5 - características, diagnóstico6 e tratamento” e “Diferença entre fome e gula”.

Qual é a fisiologia7 da fome?

Comer adequadamente, na quantidade e qualidade certas, é uma das funções mais importantes para garantir o bom funcionamento dos seres humanos. É indispensável ajustar a nossa capacidade de ingerir alimentos à demanda deles. Se há maior gasto de energia, normalmente há mais fome e, por consequência, a pessoa deve comer mais. O processo de sentir fome e saciedade envolve vários estímulos e diferentes partes do cérebro8. A grelina, dentre outras substâncias, é liberada pelo estômago2 quando ele se encontra vazio e age diretamente no cérebro8 fazendo com que a sensação de fome seja ativada. Por sua vez, ao ingerirmos qualquer alimento, o estômago2 libera o hormônio9 PYY e outros que agem igualmente no cérebro8, gerando a sensação de saciedade. No cérebro8, o hipotálamo10 é o centro regulador da fome e da saciedade e estimula e libera substâncias de caráter orexígeno11 (que geram a fome) e anorexígeno12 (que abolem a fome), respectivamente, em determinadas situações fisiológicas13.

Quais são as características clínicas de uma alimentação normal?

Comer uma refeição bem equilibrada, e em quantidades suficientes para as necessidades orgânicas, é essencial para a saúde14. A alimentação que uma pessoa deve ter a cada dia é medida em calorias15 e varia, entre outros fatores, de acordo com o ritmo metabólico, o gênero, a idade e o nível de atividade física realizada. Em média, nas mulheres, estes valores devem ficar entre 1500 e 1800 calorias15; nos homens de 19 a 51 anos, entre 2000 e 2500 calorias15; nas crianças e adolescentes até 18 anos, entre 1000 e 3000 calorias15. Já na terceira idade, as necessidades nutricionais se alteram, já que o envelhecimento afeta a absorção, o uso e a excreção dos nutrientes.

A falta de nutrientes no organismo provoca problemas como desnutrição16, atraso no desenvolvimento mental, hipovitaminose, anemia17, anorexia18, depressão, ansiedade, retenção de líquidos, câimbra, dor de cabeça3, desconforto intestinal, memória ruim, cabelos e unhas19 frágeis, fraqueza, mal-estar, indisposição e outros processos orgânicos. O excesso, por outro lado, provoca obesidade20 e suas consequências. Entre elas, menor disposição e agilidade e maior propensão para doenças cardiovasculares.

Como a fome é sinal21 de falta de caloria22 no corpo, deve-se evitar ao máximo que a fome apareça e que o organismo esteja em “falta”, fazendo diversas refeições leves ao longo do dia. Quando a fome se manifesta e não há reposição de nutrientes, o organismo busca utilizar-se das reservas armazenadas de glicose23 e, depois delas, consome-se as proteínas24 e, por fim, as gorduras. Na fome, a pessoa procura comer qualquer alimento que não lhe seja desagradável; na vontade de comer geralmente ela procura por um alimento específico, como doce, chocolate ou outra iguaria predileta. É também comum que as pessoas comam em excesso mesmo os alimentos cotidianos comuns.

Num indivíduo sadio, a fome é regulada de modo a que a pessoa mantenha seu peso normal. A maioria dos casos de obesidade20 se deve à fome emocional, ou seja, à vontade de comer.

Alterações da fome

A fome pode estar aumentada por razões fisiológicas13 ou patológicas, de forma transitória ou permanente, como após a realização de atividades físicas extenuantes ou gravidez25, por exemplo. Outras condições podem aumentar a fome:

  • A falta de água no organismo (desidratação26) muitas vezes é confundida com a sensação de fome.
  • O excesso de farinhas e açúcares, que têm índices glicêmicos altos e provocam picos de glicemia27, faz com que o corpo libere muita insulina28 para baixar este açúcar29 rapidamente. No entanto, ao reduzir a glicemia27, a fome reaparece.
  • O excesso de estresse e noites mal dormidas causam alterações hormonais que levam ao aumento da fome.
  • No diabetes30, como as células31 não conseguem utilizar o açúcar29 para produzir energia, ocorre uma sensação constante de fome.
  • No hipertireoidismo32 ocorre um aumento do metabolismo33 geral, causando problemas como fome constante e perda de peso, principalmente devido à perda de massa muscular.

A diminuição da fome quase sempre se deve a processos patológicos:

  • Na anorexia18 a pessoa pode se sentir depressiva, gorda, com baixa autoestima e, também por isso, perde a vontade de comer.
  • Os problemas emocionais, como estresse, ansiedade, depressão e tristeza, entre outros, são alguns dos motivos mais comuns para a falta de apetite.
  • Doenças agudas, como infecções34, por exemplo, ou crônicas, como insuficiência35 cardíaca, câncer36, diabetes30, doença pulmonar crônica (DPOC) e distúrbios neurológicos podem provocar perda de apetite.
  • Álcool e drogas podem reduzir a vontade de comer. Na maioria dos casos, tratar o vício já restabelece o apetite.
  • O uso continuado de alguns medicamentos (fluoxetina, quinidina e hidralazina, por exemplo) pode gerar a perda de apetite. Isso pode ser um efeito colateral37 temporário, mas, se permanecer, é bom procurar o seu médico para ajustar a dose ou até alterar a medicação.
Links relacionados: “Dicas para emagrecer e perder barriga”, “O perigo dos remédios para emagrecer”, “Dieta do jejum – Como é?” e “Usos e abusos dos anorexígenos38”.

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da CAPESESP, do Children's Health Watch e da Mayo Clinic

ABCMED, 2021. Entendendo os mecanismos da fome. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/obesidade/1387670/entendendo-os-mecanismos-da-fome.htm>. Acesso em: 20 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
2 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
3 Cabeça:
4 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
5 Hiperfagia: Aumento anormal do apetite ou ingestão excessiva de alimentos, geralmente associada a lesão do hipotálamo.
6 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
7 Fisiologia: Estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
8 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
9 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
10 Hipotálamo: Parte ventral do diencéfalo extendendo-se da região do quiasma óptico à borda caudal dos corpos mamilares, formando as paredes lateral e inferior do terceiro ventrículo.
11 Orexígeno: Que ou o que produz orexia, ou seja, produz uma necessidade ou desejo imperioso e contínuo de ingerir alimentos; que produz apetite.
12 Anorexígeno: Que ou o que provoca anorexia (diz-se de substância ou droga), ou seja, que ou o que produz falta ou perda de apetite.
13 Fisiológicas: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
14 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
15 Calorias: Dizemos que um alimento tem “x“ calorias, para nos referirmos à quantidade de energia que ele pode fornecer ao organismo, ou seja, à energia que será utilizada para o corpo realizar suas funções de respiração, digestão, prática de atividades físicas, etc.
16 Desnutrição: Estado carencial produzido por ingestão insuficiente de calorias, proteínas ou ambos. Manifesta-se por distúrbios do desenvolvimento (na infância), atrofia de tecidos músculo-esqueléticos e caquexia.
17 Anemia: Condição na qual o número de células vermelhas do sangue está abaixo do considerado normal para a idade, resultando em menor oxigenação para as células do organismo.
18 Anorexia: Perda do apetite ou do desejo de ingerir alimentos.
19 Unhas: São anexos cutâneos formados por células corneificadas (queratina) que formam lâminas de consistência endurecida. Esta consistência dura, confere proteção à extremidade dos dedos das mãos e dos pés. As unhas têm também função estética. Apresentam crescimento contínuo e recebem estímulos hormonais e nutricionais diversos.
20 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
21 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
22 Caloria: Dizemos que um alimento tem “x“ calorias, para nos referirmos à quantidade de energia que ele pode fornecer ao organismo, ou seja, à energia que será utilizada para o corpo realizar suas funções de respiração, digestão, prática de atividades físicas, etc. Carboidratos, proteínas, gorduras e álcool fornecem calorias na dieta. Carboidratos e proteínas têm 4 calorias em cada grama, gorduras têm 9 calorias por grama e álcool têm 7 calorias por grama.
23 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
24 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
25 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
26 Desidratação: Perda de líquidos do organismo pelo aumento importante da freqüência urinária, sudorese excessiva, diarréia ou vômito.
27 Glicemia: Valor de concentração da glicose do sangue. Seus valores normais oscilam entre 70 e 110 miligramas por decilitro de sangue (mg/dl).
28 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
29 Açúcar: 1. Classe de carboidratos com sabor adocicado, incluindo glicose, frutose e sacarose. 2. Termo usado para se referir à glicemia sangüínea.
30 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
31 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
32 Hipertireoidismo: Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma produção destes nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda de peso, hiperatividade, exoftalmia.
33 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
34 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
35 Insuficiência: Incapacidade de um órgão ou sistema para realizar adequadamente suas funções.Manifesta-se de diferentes formas segundo o órgão comprometido. Exemplos: insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória.
36 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
37 Efeito colateral: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
38 Anorexígenos: Que ou o que provoca anorexia (diz-se de substância ou droga), ou seja, que ou o que produz falta ou perda de apetite.
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