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Febre de origem desconhecida

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O que é febre1 de origem desconhecida?

A febre1 de origem desconhecida é aquela que não resulta de doença identificada, transitória e autolimitada, doença rapidamente fatal ou distúrbios com sintomas2 ou sinais3 localizados bem definidos ou com anormalidades nos exames comuns, como radiografia de tórax4, urinálise, hemoculturas e outros.

A síndrome5 da febre1 de origem desconhecida foi definida em 1961 por Petersdorf e Beeson como:

  • temperatura superior a 38,3°C em várias ocasiões;
  • duração superior a três semanas de doença;
  • falha em chegar a um diagnóstico6 apesar de uma investigação médica detalhada.

Nas últimas décadas, Durack e Street propuseram um sistema de classificação da febre1 de origem desconhecida compreendendo quatro categorias distintas:

  1. febre1 clássica (Petersdorf);
  2. febre1 associada à assistência à saúde7, em pacientes hospitalizados;
  3. febre1 em pacientes com neutropenia8 e outras imunodeficiências;
  4. febre1 relacionada ao HIV9.

Quais são as causas da febre1 de origem desconhecida?

As causas da febre1 não identificadas são divididas em quatro categorias:

  • Infecções10 (25 a 50%)
  • Distúrbios do tecido conjuntivo11 (10 a 20%)
  • Neoplasias12 (5 a 35%)
  • Diversos (15 a 25%)

As infecções10 são a causa mais comum de febre1 de origem desconhecida. Geralmente ocorrem em infecções10 oportunistas (tuberculose13infecção14 por micobactérias atípicas, fungos disseminados ou citomegalovírus15, etc.) em pacientes com infecção14 por HIV9.

Os distúrbios mais comuns do tecido conjuntivo11 incluem lúpus16 eritematoso17 sistêmico18, artrite reumatoide19, arterite de células gigantes20, vasculite21 e artrite reumatoide19 juvenil.

As causas neoplásicas22 mais comuns são os diversos tipos de câncer23.

Entre as causas diversas incluem-se reações medicamentosas, trombose venosa profunda24, embolia25 pulmonar recorrente, sarcoidose26, doença inflamatória intestinal e febre1 factícia (obtida artificialmente).

Em cerca de 10% dos adultos não é possível identificar a causa da febre1.

Veja mais sobre "Infecções10 oportunistas", "Citomegalovírus15" e "Mononucleose infecciosa27".

Como esclarecer a etiologia28 da febre1 de origem desconhecida?

Em casos intrigantes, como a febre1 de origem desconhecida, é absolutamente necessário obter do paciente uma história exaustiva e minuciosa do seu mal. E o médico deve levar o paciente a repetir seu histórico, mesmo que já tenha feito um relato inicial. Mesmo quando a avaliação inicial tenha sido informada de maneira aparentemente completa a outro médico, os pacientes muitas vezes se lembram de novos detalhes quando o questionamento é repetido.

A história visa descobrir sintomas2 focais e eventos que possam ter interesse médico, como viagens, ocupação, histórico familiar, exposição a vetores animais, histórico alimentar, etc. A história da doença atual deve abranger a duração e o padrão da febre1. A dor focal pode indicar a localização (embora não a causa) do distúrbio subjacente. A avaliação dos sistemas orgânicos deve incluir sintomas2 inespecíficos, como perda de peso, anorexia29, fadiga30, sudorese31 noturna e dores de cabeça32.

A história médica anterior deve atender a questões sobre doenças conhecidas por causar febre1, como câncer23, tuberculose13, doenças do tecido conjuntivo11, cirrose33 alcoólica, doença inflamatória intestinal, febre reumática34 e hipertireoidismo35. Também devem ser levados em conta fatores que predispõem à infecção14, como sistema imunológico36 comprometimento (distúrbios como infecção14 por HIV9, câncer23, diabetes37, uso de imunossupressores, etc.), distúrbios cardíacos estruturais, anormalidades do trato urinário38, operações e inserção de dispositivos no corpo.

Também devem ser incluídas perguntas sobre medicamentos específicos conhecidos por causar febre1. A história social deve incluir perguntas sobre fatores de risco para infecção14, como uso de drogas injetáveis, práticas sexuais de alto risco, exposição a animais vetores, tabagismo, uso de álcool e exposição ocupacional a produtos químicos. A história familiar deve incluir perguntas sobre as causas hereditárias da febre1 (por exemplo, febre1 familiar do Mediterrâneo).

A pesquisa deve ser completada com um exame físico. A pele39 deve ser cuidadosamente inspecionada, incluindo o períneo40 e os pés, principalmente em diabéticos, que são propensos a infecções10 nessas áreas, e qualquer achado deve ser avaliado dentro do seu contexto próprio. Todo o corpo deve ser palpado em busca de áreas de sensibilidade, inchaço41, crescimento de órgãos ou adenomegalias, incluídos o toque retal e o exame pélvico42. O coração43 deve ser auscultado em busca de sons anormais (sopros) e sons de atritos pericárdicos (sugerindo pericardite44). Muitas vezes, as principais anormalidades físicas encontradas em pacientes com febre1 de origem desconhecida dão uma boa indicação sobre a causa da febre1 e em outras ocasiões esses sinais3 são tão sutis que não têm esse efeito.

Como o médico trata a febre1 de origem desconhecida?

Na medida do possível, deve-se evitar a antibioticoterapia empírica porque ela pode alterar a capacidade de obter culturas e estabelecer a verdadeira causa da febre1. Em alguns casos, no entanto, principalmente em pacientes muito idosos, a terapia empírica pode ser aconselhável, mas o início dela não significa o final da investigação diagnóstica. Na verdade, ela requer que o médico mantenha o paciente sob avaliação contínua ainda mais cuidadosa.

Sem a terapia empírica, o tratamento é feito apenas sintomaticamente com antitérmicos45 até que a causa da febre1 seja descoberta, quando, então, ele deve ser dirigido à causa. Outros tratamentos sintomáticos, como para dor de cabeça32 e maior hidratação, por exemplo, podem ser praticados mesmo antes que a causa da febre1 seja esclarecida. Em algumas ocasiões, a febre1 pode desaparecer espontaneamente antes que se consiga determinar a sua causa.

Leia também sobre "Lúpus16 eritematoso17", "Febre reumática34" e "Sarcoidose26".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Faculdade de Medicina da UFMG e da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

ABCMED, 2022. Febre de origem desconhecida. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1414925/febre-de-origem-desconhecida.htm>. Acesso em: 12 out. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
2 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
4 Tórax: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original Sinônimos: Peito; Caixa Torácica
5 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
6 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
7 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
8 Neutropenia: Queda no número de neutrófilos no sangue abaixo de 1000 por milímetro cúbico. Esta é a cifra considerada mínima para manter um sistema imunológico funcionando adequadamente contra os agentes infecciosos mais freqüentes. Quando uma pessoa neutropênica apresenta febre, constitui-se uma situação de “emergência infecciosa”.
9 HIV: Abreviatura em inglês do vírus da imunodeficiência humana. É o agente causador da AIDS.
10 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
11 Tecido conjuntivo: Tecido que sustenta e conecta outros tecidos. Consiste de CÉLULAS DO TECIDO CONJUNTIVO inseridas em uma grande quantidade de MATRIZ EXTRACELULAR.
12 Neoplasias: Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas situações pela invasão de órgãos à distância (metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon, pele e pulmões.
13 Tuberculose: Doença infecciosa crônica produzida pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis). Produz doença pulmonar, podendo disseminar-se para qualquer outro órgão. Os sintomas de tuberculose pulmonar consistem em febre, tosse, expectoração, hemoptise, acompanhada de perda de peso e queda do estado geral. Em países em desenvolvimento (como o Brasil) aconselha-se a vacinação com uma cepa atenuada desta bactéria (vacina BCG).
14 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
15 Citomegalovírus: Citomegalovírus (CMV) é um vírus pertence à família do herpesvírus, a mesma dos vírus da catapora, herpes simples, herpes genital e do herpes zóster.
16 Lúpus: 1. É uma inflamação crônica da pele, caracterizada por ulcerações ou manchas, conforme o tipo específico. 2. Doença autoimune rara, mais frequente nas mulheres, provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico. Nesta patologia, a defesa imunológica do indivíduo se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. Essas múltiplas formas de manifestação clínica, às vezes, podem confundir e retardar o diagnóstico. Lúpus exige tratamento cuidadoso por médicos especializados no assunto.
17 Eritematoso: Relativo a ou próprio de eritema. Que apresenta eritema. Eritema é uma vermelhidão da pele, devido à vasodilatação dos capilares cutâneos.
18 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
19 Artrite reumatóide: Doença auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem. Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos.
20 Células Gigantes: Massas multinucleares produzidas pela fusão de muitas células; freqüentemente associadas com infecções virais. Na AIDS, há indução destas células quando o envelope glicoproteico do vírus HIV liga-se ao antígeno CD4 de células T4 vizinhas não infectadas. O sincício resultante leva à morte celular explicando então o efeito citopático do vírus.
21 Vasculite: Inflamação da parede de um vaso sangüíneo. É produzida por doenças imunológicas e alérgicas. Seus sintomas dependem das áreas afetadas.
22 Neoplásicas: Que apresentam neoplasias, ou seja, que apresentam processo patológico que resulta no desenvolvimento de neoplasma ou tumor. Um neoplasma é uma neoformação de crescimento anormal, incontrolado e progressivo de tecido, mediante proliferação celular.
23 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
24 Trombose Venosa Profunda: Caracteriza-se pela formação de coágulos no interior das veias profundas da perna. O que mais chama a atenção é o edema (inchaço) e a dor, normalmente restritos a uma só perna. O edema pode se localizar apenas na panturrilha e pé ou estar mais exuberante na coxa, indicando que o trombo se localiza nas veias profundas dessa região ou mais acima da virilha. Uma de suas principais conseqüências a curto prazo é a embolia pulmonar, que pode deixar seqüelas ou mesmo levar à morte. Fatores individuais de risco são: varizes de membros inferiores, idade maior que 40 anos, obesidade, trombose prévia, uso de anticoncepcionais, terapia de reposição hormonal, entre outras.
25 Embolia: Impactação de uma substância sólida (trombo, colesterol, vegetação, inóculo bacteriano), líquida ou gasosa (embolia gasosa) em uma região do circuito arterial com a conseqüente obstrução do fluxo e isquemia.
26 Sarcoidose: Sarcoidose ou Doença de Besnier-Boeck é caracterizada pelo aparecimento de pequenos nódulos inflamatórios (granulomas) em vários órgãos. A doença pode afetar qualquer orgão do corpo, mas os mais atingidos são os pulmões , os gânglios linfáticos (ínguas ), o fígado, o baço e a pele.
27 Mononucleose infecciosa: Doença de progressão benigna, muito comum, causada pela infecção pelo vírus Epstein-Barr e transmitida pelo contato com saliva contaminada. Seus sintomas incluem: mal-estar, dor de cabeça, febre, dor de garganta, ínguas principalmente no pescoço, inflamação do fígado. Acomete mais freqüentemente adolescentes e adultos jovens.
28 Etiologia: 1. Ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação das causas e origens de um determinado fenômeno. 2. Estudo das causas das doenças.
29 Anorexia: Perda do apetite ou do desejo de ingerir alimentos.
30 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
31 Sudorese: Suor excessivo
32 Cabeça:
33 Cirrose: Substituição do tecido normal de um órgão (freqüentemente do fígado) por um tecido cicatricial fibroso. Deve-se a uma agressão persistente, infecciosa, tóxica ou metabólica, que produz perda progressiva das células funcionalmente ativas. Leva progressivamente à perda funcional do órgão.
34 Febre reumática: Doença inflamatória produzida como efeito inflamatório anormal secundário a infecções repetidas por uma bactéria chamada estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Caracteriza-se por inflamação das articulações, febre, inflamação de uma ou mais de uma estrutura cardíaca, alterações neurológicas, eritema cutâneo. Com o tratamento mais intensivo da faringite estreptocócica, a freqüência desta doença foi consideravelmente reduzida.
35 Hipertireoidismo: Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma produção destes nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda de peso, hiperatividade, exoftalmia.
36 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
37 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
38 Trato Urinário:
39 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
40 Períneo: Região que constitui a base do púbis, onde estão situados os órgãos genitais e o ânus.
41 Inchaço: Inchação, edema.
42 Pélvico: Relativo a ou próprio de pelve. A pelve é a cavidade no extremo inferior do tronco, formada pelos dois ossos do quadril (ilíacos), sacro e cóccix; bacia. Ou também é qualquer cavidade em forma de bacia ou taça (por exemplo, a pelve renal).
43 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
44 Pericardite: Inflamação da membrana que recobre externamente o coração e os vasos sanguíneos que saem dele. Os sintomas dependem da velocidade e grau de lesão que produz. Variam desde dor torácica, febre, até o tamponamento cardíaco, que é uma emergência médica potencialmente fatal.
45 Antitérmicos: Medicamentos que combatem a febre. Também pode ser chamado de febrífugo, antifebril e antipirético.
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