Estereotipias - como elas são? O que deve ser observado?
O que são estereotipias?
As estereotipias são gestos e/ou rituais repetitivos que podem ser linguísticos, motores e posturais. Geralmente são comportamentos sem explicações racionais e sem motivos aparentes que destoam do modo de ser da maioria das pessoas tidas como normais ao redor. Eles também não têm nenhuma finalidade definida e não visam, nem realizam, nenhum objetivo prático.
As estereotipias podem ocorrer como sintomas1 secundários de uma doença definida ou existirem como acontecimentos isolados, chamados estereotipias motoras ou transtornos de movimento estereotipado.
Quais são as causas das estereotipias?
As estereotipias são comuns e típicas do autismo, mas também ocorrem em pessoas com outros transtornos e mesmo em pessoas sem outros sinais2 ou sintomas1, como ações repetitivas e ritualísticas. Elas podem ocorrer também em indivíduos com:
- transtorno obsessivo-compulsivo;
- síndrome3 de Tourette;
- esquizofrenia4;
- deficiência mental;
- alguns tipos de demências;
- degeneração5 frontotemporal;
- entre outras condições.
As estereotipias podem se dever a:
- restrição comportamental, que leva a criança a ocupar seu tempo com os poucos comportamentos aprendidos;
- alterações sensoriais orgânicas que afetam a recepção e a decodificação de estímulos;
- tendência à repetição, que é uma característica inerente aos autistas.
A intoxicação por drogas estimulantes, como cocaína e anfetaminas, pode causar um período grave e curto de estereotipias. O uso prolongado de estimulantes ou lesões6 na cabeça7 podem levar a períodos mais longos de comportamentos estereotipados.
Até as pessoas neurotípicas (sem doença mental alguma) podem apresentar tais ações repetitivas como roer unhas8, balançar as pernas, morder a tampa da caneta, etc. Se a pessoa que tem estereotipias for ostensivamente impedida de executá-las, experimentará uma grande angústia e uma tendência ainda mais forte a elas.
Veja mais sobre "O hábito de roer as unhas8", "Transtorno obsessivo compulsivo ou TOC" e "Autismo - conhecendo melhor a condição".
Qual é o substrato fisiopatológico das estereotipias?
As estereotipias visam exclusivamente a autoestimulação, isto é, a criança se estimula sozinha para buscar sensações físicas prazerosas e uma regulação sensorial do organismo. Alguns autistas entendem a estereotipia9 como algo prazeroso, que os ajuda a acalmar, a concentrar e a aliviar a ansiedade. Essas respostas tendem a atingir frequências altíssimas, já que cada ocorrência é automaticamente reforçada pela produção imediata de sensações físicas prazerosas. Enquanto a criança está envolvida nessas respostas, ela não está respondendo ao ambiente e, com isso, está perdendo oportunidades de aprendizagem e interação social.
As estereotipias implicam em prejuízos funcionais para as pessoas. Dentre os prejuízos, a pessoa (geralmente uma criança) deixa de observar o contexto, o que diminui suas oportunidades de aprendizagem e prejudica sua socialização e integração, podendo gerar uma cascata de prejuízos decorrentes.
Quais são as características clínicas das estereotipias?
Os Transtornos de Movimentos Estereotipados são transtornos comportamentais e emocionais que podem ocorrer em qualquer idade, mas que habitualmente têm início durante a infância ou a adolescência. São caracterizados por movimentos intencionais, repetitivos, estereotipados, sem finalidade, frequentemente ritmados, não ocasionados por nenhum outro transtorno psiquiátrico ou neurológico identificado.
Nos autistas, as estereotipias costumam acontecer ou se acentuar em situações em que eles se sentem bombardeados por estímulos e os ajuda a se organizar internamente e processar tudo o que estão sentindo.
As estereotipias são mais frequentes nos meninos que nas meninas e aumentam com estresse, frustração e tédio.
Existe uma grande variedade de estereotipias, que podem ser vocais ou motoras. A estereotipia9 vocal se refere a um discurso repetitivo e sem sentido, abrangendo a repetição de sons ou palavras soltas. As estereotipias motoras, mais comumente observadas, são:
- andar na ponta dos pés;
- girar objetos;
- balançar as mãos10;
- balançar o corpo ou a cabeça7;
- fungar;
- girar objetos em direção aos olhos11 ou manipular de forma não funcional;
- colocar objetos na boca12;
- andar de um lado para outro;
- enfileirar objetos;
- insistir em rituais.
Como diagnosticar as estereotipias?
O médico pode diagnosticar essa condição a partir da história clínica, da observação direta e do exame físico. Testes e exames devem ser feitos para determinar possíveis causas, como transtorno do espectro autista, coreia de Huntington13, transtorno obsessivo-compulsivo, síndrome3 de Tourette, etc.
Como tratar as estereotipias?
O tratamento dependerá da causa, se conhecida, dos sintomas1 específicos e da idade da pessoa. Uma forma de auxiliar nesses contextos é ampliar o repertório comportamental da criança para que ela encontre outros caminhos para se autorregular e se estimular.
O ambiente deve ser alterado para que seja mais seguro para as pessoas que podem se ferir com suas estereotipias. A psicoterapia e as técnicas comportamentais podem ser úteis. Medicamentos também podem ajudar a reduzir os sintomas1 relacionados a essa condição. Antidepressivos têm sido usados com sucesso em alguns casos.
Como evoluem as estereotipias?
A evolução das estereotipias depende da causa delas. Movimentos estereotipados devido a drogas desaparecem por conta própria após algumas horas. O uso prolongado de estimulantes pode levar a períodos mais longos de movimento estereotipado, mas os movimentos geralmente desaparecem quando a droga é interrompida.
Movimentos estereotipados devido a traumatismo14 craniano podem ser permanentes. Os problemas de movimento não progridem para outros distúrbios como convulsões, por exemplo.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Instituto Inclusão Brasil e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.