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Surto psicótico

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O que é surto psicótico?

Um surto psicótico é uma alteração aguda e temporária do estado mental em que podem ocorrer sintomas1 psicóticos, como alterações sensoriais envolvendo os cinco sentidos, confusões, ilusões ou alucinações2 e pensamentos que fogem da realidade, como nos delírios. Isso ocasiona uma grave distorção no julgamento da realidade. Nos casos mais graves, pode ainda haver agitação e agressividade, que podem colocar a vida da própria pessoa ou das pessoas próximas em risco.

Quais são as causas de um surto psicótico?

Há diversos fatores que podem levar a um surto psicótico, entre eles doenças mentais como a esquizofrenia3, o transtorno afetivo bipolar e a depressão grave. Um surto psicótico pode, inclusive, ser o episódio inicial de uma esquizofrenia3.

Além disso, condições médicas sistêmicas como doenças hepáticas4, problemas na tireoide5, acidentes vasculares6 cerebrais, lúpus7, sífilis8, AIDS ou mesmo infecções9 simples, ou o consumo excessivo de álcool ou de outras drogas também podem ser a causa de sintomatologias psicóticas.

Mais raramente, outros fatores podem estar relacionados ao surto psicótico, como efeitos adversos a medicamentos, lesões10 cerebrais, estresse psicológico severo, experiências traumáticas, privação de sono prolongada, desequilíbrio hormonal e procedimentos pós-cirúrgicos.

Parece também existir uma certa predisposição genética para sofrer um surto psicótico, a qual, acompanhada de fatores ambientais, pode desencadear o quadro. Em alguns casos excepcionais, mesmo pessoas que nunca sofreram um surto podem vivenciá-lo após uma situação emocional muito estressante ou pelo uso massivo de drogas, como maconha ou alucinógenos.

É relativamente comum esse tipo de episódio ocorrer no puerpério11, quando é chamado, às vezes, de psicose12 puerperal, cujas causas exatas não são conhecidas, mas que acontecem com mais frequência em primíparas (mulheres que dão à luz pela primeira vez), mulheres com história prévia de doença mental e naquelas com história pessoal ou familiar de episódios prévios de psicose12 puerperal.

Veja sobre "Depressão pós-parto", "Transtorno bipolar do humor" e "Psicoses em geral".

Quais são as características clínicas de um surto psicótico?

O surto psicótico é caracterizado pela presença de alguns sinais13 e sintomas1 iniciais que variam em cada caso, mas que se não forem tratados corretamente podem evoluir para uma piora e causar graves problemas. Um desses sintomas1 mais típicos é o isolamento social. Assim, nos dias ou semanas anteriores à detecção do surto, a pessoa pode evitar a interação com os amigos, faltar ao trabalho, optar pela reclusão e até evitar familiares próximos.

As dificuldades para dormir também são pródromos14 (sinais13 ou sintomas1 que indicam o início de uma doença) muito comuns e o mesmo pode ser dito dos problemas de compreensão de textos escritos ou mensagens orais.

A seguir, o paciente pode passar a ter experiências alucinatórias e delirantes, desorganização do pensamento e do comportamento, bizarrices, agitação ou agressividade. Muitas pessoas que sofreram esse tipo de episódio disseram ter experimentado flashes de luz, sombras, zumbidos, vozes, melodias, cheiros ou sabores sem base real.

Como o médico diagnostica o surto psicótico?

Não há nenhum exame de laboratório que confirme um diagnóstico15 de surto psicótico. O diagnóstico15 é inteiramente feito com bases clínicas. Os surtos psicóticos, tratados no DSM-V (quinta versão do Diagnostic and Statistical Manual) da Associação Americana de Psiquiatria como transtornos psicóticos breves, são episódios agudos caracterizados por uma duração limitada no tempo, que geralmente dura menos de um mês, o que os diferencia do diagnóstico15 da esquizofrenia3, por exemplo, para a qual se requer que os sintomas1 durem pelo menos um mês.

Existem dois tipos de surtos psicóticos: (1) os que são causados como reação de estresse intenso, chamados pelo DSM-V de "psicose12 reativa breve" e (2) aqueles que aparecem sem esses fatores de risco evidentes. Os primeiros em geral desaparecem sempre que a causa deles é controlada.

Como o médico trata o surto psicótico?

Durante um surto psicótico alguns pacientes precisam ser hospitalizados por um curto período de tempo para receberem tratamento e serem protegidos em relação à sua própria segurança ou das pessoas próximas. O tratamento do surto psicótico pode incluir medicação, terapia e mudanças no estilo de vida.

Existem muitos tipos diferentes de medicamentos que podem ser prescritos para alguém que sofreu um surto psicótico, os quais podem ajudar a reduzir ou controlar os sintomas1 da psicose12. Os principais deles são os neurolépticos16, chamados também de antipsicóticos.

A terapia eletroconvulsiva é um procedimento no qual convulsões são induzidas eletricamente visando produzir o alívio de sintomas1 mentais sérios. Este tratamento pode ser muito efetivo naqueles casos em que o paciente não responda aos tratamentos medicamentosos.

A psicoterapia deve ser empregada depois de solucionada a fase aguda e pode ser muito útil para pessoas que tiveram um surto psicótico, ajudando-as a entender sua condição e a melhor forma de lidar com os sintomas1 e a prevenir futuros surtos.

Algumas mudanças no estilo de vida podem ser úteis para qualquer pessoa que esteja passando por um quadro psicótico: dormir o suficiente, comer uma dieta saudável, se exercitar regularmente, evitar o uso de álcool e drogas e reduzir o estresse.

Geralmente, é de utilidade frequentar grupos de apoio, nos quais pessoas com sintomas1 semelhantes podem compartilhar e discutir suas experiências e estratégias.

Como evolui o surto psicótico?

Apesar de que um surto psicótico possa ser muito traumático, a maioria das pessoas se recupera inteiramente dentro de no máximo duas semanas. Contudo, existe o risco de que um surto psicótico possa se prolongar mais e até mesmo se tornar definitivo por uma depressão, transtorno de estresse pós-traumático, uso de drogas ou de álcool e tentativas de suicídio.

Leia também sobre "Depressão psicótica versus depressão maior", "Síndrome17 de Burnout", "Psicoterapias" e "Terapia cognitivo18 comportamental".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da NAMI - National Alliance on Mental Illness e da U.S. National Library of Medicine.

ABCMED, 2022. Surto psicótico. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1427390/surto-psicotico.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
2 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
3 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
4 Hepáticas: Relativas a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
5 Tireoide: Glândula endócrina altamente vascularizada, constituída por dois lobos (um em cada lado da TRAQUÉIA) unidos por um feixe de tecido delgado. Secreta os HORMÔNIOS TIREOIDIANOS (produzidos pelas células foliculares) e CALCITONINA (produzida pelas células para-foliculares), que regulam o metabolismo e o nível de CÁLCIO no sangue, respectivamente.
6 Vasculares: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
7 Lúpus: 1. É uma inflamação crônica da pele, caracterizada por ulcerações ou manchas, conforme o tipo específico. 2. Doença autoimune rara, mais frequente nas mulheres, provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico. Nesta patologia, a defesa imunológica do indivíduo se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. Essas múltiplas formas de manifestação clínica, às vezes, podem confundir e retardar o diagnóstico. Lúpus exige tratamento cuidadoso por médicos especializados no assunto.
8 Sífilis: Doença transmitida pelo contato sexual, causada por uma bactéria de forma espiralada chamada Treponema pallidum. Produz diferentes sintomas de acordo com a etapa da doença. Primeiro surge uma úlcera na zona de contato com inflamação dos gânglios linfáticos regionais. Após um período a lesão inicial cura-se espontaneamente e aparecem lesões secundárias (rash cutâneo, goma sifilítica, etc.). Em suas fases tardias pode causar transtorno neurológico sério e irreversível, que felizmente após o advento do tratamento com antibióticos tem se tornado de ocorrência rara. Pode ser causa de infertilidade e abortos espontâneos repetidos.
9 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
10 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
11 Puerpério: Período que decorre desde o parto até que os órgãos genitais e o estado geral da mulher voltem às condições anteriores à gestação.
12 Psicose: Grupo de doenças psiquiátricas caracterizadas pela incapacidade de avaliar corretamente a realidade. A pessoa psicótica reestrutura sua concepção de realidade em torno de uma idéia delirante, sem ter consciência de sua doença.
13 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
14 Pródromos: 1. Algo que antecede a; precursor, prenúncio, antecedente. 2. Espécie de prefácio; introdução, preâmbulo. 3. Na medicina: sinal ou sintoma inicial de doença; propatia.
15 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
16 Neurolépticos: Medicamento que exerce ação calmante sobre o sistema nervoso, tranquilizante, psicoléptico.
17 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
18 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
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