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Fuga de ideias - o que é?

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Alterações do pensamento

O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se insere. O pensamento pode estar alterado:

  1. quanto à forma, com dissociação do pensamento, descarrilhamento do pensamento, desagregação do pensamento, etc.;
  2. quanto ao conteúdo, com ideias persecutórias, depreciativas, religiosas, sexuais, de poder, riqueza, prestígio ou grandeza, de ruína ou culpa, com conteúdos hipocondríacos, etc.;
  3. e quanto ao curso, com lentificação do pensamento, aceleração do pensamento, bloqueio do pensamento, roubo do pensamento e... fuga de ideias!

O que é fuga de ideias?

A fuga de ideias é uma expressão utilizada principalmente no contexto da psicopatologia, referindo-se a um transtorno da velocidade do pensamento que, além de acelerado, torna-se desorganizado.

Um pensamento acelerado e veloz, não desarticulado nem bizarro, que salta rapidamente de um tópico1 para outro, estando cada tópico1 mais ou menos obviamente relacionado com o precedente ou com estímulos ambientais fortuitos, ainda pode ser considerado normal. Durante a fuga de ideias, uma pessoa pode expressar seus pensamentos de maneira rápida, ininterrupta, iniciando um novo assunto antes que o anterior tenha sido concluído, tornando o seu discurso pouco ou nada inteligível.

Os pensamentos podem saltar de um tópico1 para outro de maneira desconexa e inteiramente aleatória, sem nunca retornar ao tópico1 anterior e sem que as ideias tenham relação umas com as outras ou se liguem mediante associações minimamente lógicas, o que torna impossível que o pensamento chegue a uma conclusão.

Em alguns casos, é possível que se compreenda de maneira vaga e imprecisa o tema geral a que o paciente está se referindo, mas em muitos casos nem mesmo isso é possível, ou nem existe um tema dominante, porque o paciente passa inadequadamente de um tema para outro.

Quais são as causas da fuga de ideias?

A fuga de ideias é um sintoma2 associado a alguns transtornos psiquiátricos, sendo mais comumente observada em casos de mania ou hipomania, que são estados de humor elevado e expansivo. Algumas das condições em que a fuga de ideias pode ocorrer incluem:

  • a fase maníaca do transtorno bipolar;
  • alguns casos de esquizofrenia3, especialmente durante episódios psicóticos agudos;
  • e em pessoas com TDAH, especialmente na forma predominante de hiperatividade-impulsividade.

A privação do sono ou distúrbios do sono também podem contribuir para um aumento na agitação mental e na fuga de ideias.

Qual é o substrato fisiopatológico da fuga de ideias?

A fisiopatologia4 da fuga de ideias ainda não é totalmente clara, mas está relacionada a alterações no funcionamento cerebral, especialmente durante os episódios de mania, e pode ocorrer em outros contextos clínicos, como em alguns outros transtornos psicóticos e no transtorno esquizoafetivo. Durante esses transtornos, há uma desregulação nos neurotransmissores cerebrais, especialmente a dopamina5.

Nos quadros maníacos, a superatividade dopaminérgica pode levar também ao aumento da impulsividade e da agitação. Pesquisas sugerem que, durante a mania, pode haver uma hiperconectividade entre diferentes áreas do cérebro6, o que pode levar a uma maior velocidade no processamento de informações e a uma conexão mais aligeirada entre as ideias. Além disso, a capacidade do cérebro6 de inibir ou controlar os impulsos pode ser comprometida durante episódios de mania.

Ademais, fatores genéticos também desempenham um papel na fisiopatologia4 do transtorno bipolar e na fuga de ideias.

Leia sobre "Ninfomania", "Megalomania" e "Oniomania" e "Cleptomania".

Quais são as características clínicas da fuga de ideias?

A fuga de ideias não é uma doença em si, mas está comumente associada a transtornos do humor, como o transtorno bipolar, e pode ocorrer durante episódios de mania ou de um surto agudo7 de esquizofrenia3. Durante esses momentos, o paciente não tem consciência de sua anormalidade e por isso recusa qualquer intervenção médica, não percebendo que pode estar colocando em perigo a si mesmo e aos outros. Assim, amigos e familiares em contato próximo com ele podem ter que intervir.

A fuga de ideias quase nunca é um fenômeno isolado e geralmente está associada a estados de euforia. É raro ela surgir sem estar acompanhada de uma patologia8 subjacente, embora isso possa ocorrer.

Nos transtornos bipolares, ela está associada a um aumento da energia, dispersão de interesses, distraibilidade, iniciativas bizarras, agitação, perda do sono e impulsividade, que são características típicas dos episódios maníacos. Associadamente, o paciente mostra intensa verborragia e uma atividade intensa, embora desconexa.

A não ser em casos muito extremos, não há ideias delirantes no pensamento, embora sejam frequentes ideias bizarras e pouco adequadas à realidade. Além de associações alteradas, esses pacientes falam incessantemente, sem muita necessidade de que as outras pessoas estejam atentas a eles. Nos casos de esquizofrenia3, é comum que se tenha pensamento desorganizado e de conteúdos delirantes

Esses episódios são autolimitados e, sem tratamento, teriam uma duração de cerca de 4 meses. No entanto, as medicações psiquiátricas atuais são capazes de abortá-los em tempo muito menor. Passadas as crises, esses pacientes são capazes de reconhecer a inadequação de suas ideias e comportamentos, porém, isso não impede que as repitam num próximo surto.

Como o médico trata a fuga de ideias?

Não existe um tratamento específico para a fuga de ideias. O psiquiatra deve tentar reconhecer a patologia8 de base e estabelecer um plano de intervenção e tratamento, de acordo com as condições específicas do paciente.

Quais são as complicações possíveis com a fuga de ideias?

Com todos os sintomas9 que acompanham o quadro de fuga de ideias, a pessoa perde provisoriamente a sua funcionalidade social. Comumente, a fuga de ideias leva à desorganização cognitiva10, dificuldade de comunicação, perda de foco, maior risco de comportamentos impulsivos, prejuízo nas relações sociais, dificuldades no planejamento e tomada de decisão, etc.

Veja mais sobre "Psicoterapia", "Terapia cognitivo11-comportamental" e "Considerações sobre o término da psicoterapia".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic e da UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto.

ABCMED, 2024. Fuga de ideias - o que é?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1468282/fuga-de-ideias-o-que-e.htm>. Acesso em: 29 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Tópico: Referente a uma área delimitada. De ação limitada à mesma. Diz-se dos medicamentos de uso local, como pomadas, loções, pós, soluções, etc.
2 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
4 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
5 Dopamina: É um mediador químico presente nas glândulas suprarrenais, indispensável para a atividade normal do cérebro.
6 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
7 Agudo: Descreve algo que acontece repentinamente e por curto período de tempo. O oposto de crônico.
8 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
9 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
10 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
11 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
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