Fuga de ideias - o que é?
Alterações do pensamento
O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se insere. O pensamento pode estar alterado:
- quanto à forma, com dissociação do pensamento, descarrilhamento do pensamento, desagregação do pensamento, etc.;
- quanto ao conteúdo, com ideias persecutórias, depreciativas, religiosas, sexuais, de poder, riqueza, prestígio ou grandeza, de ruína ou culpa, com conteúdos hipocondríacos, etc.;
- e quanto ao curso, com lentificação do pensamento, aceleração do pensamento, bloqueio do pensamento, roubo do pensamento e... fuga de ideias!
O que é fuga de ideias?
A fuga de ideias é uma expressão utilizada principalmente no contexto da psicopatologia, referindo-se a um transtorno da velocidade do pensamento que, além de acelerado, torna-se desorganizado.
Um pensamento acelerado e veloz, não desarticulado nem bizarro, que salta rapidamente de um tópico1 para outro, estando cada tópico1 mais ou menos obviamente relacionado com o precedente ou com estímulos ambientais fortuitos, ainda pode ser considerado normal. Durante a fuga de ideias, uma pessoa pode expressar seus pensamentos de maneira rápida, ininterrupta, iniciando um novo assunto antes que o anterior tenha sido concluído, tornando o seu discurso pouco ou nada inteligível.
Os pensamentos podem saltar de um tópico1 para outro de maneira desconexa e inteiramente aleatória, sem nunca retornar ao tópico1 anterior e sem que as ideias tenham relação umas com as outras ou se liguem mediante associações minimamente lógicas, o que torna impossível que o pensamento chegue a uma conclusão.
Em alguns casos, é possível que se compreenda de maneira vaga e imprecisa o tema geral a que o paciente está se referindo, mas em muitos casos nem mesmo isso é possível, ou nem existe um tema dominante, porque o paciente passa inadequadamente de um tema para outro.
Quais são as causas da fuga de ideias?
A fuga de ideias é um sintoma2 associado a alguns transtornos psiquiátricos, sendo mais comumente observada em casos de mania ou hipomania, que são estados de humor elevado e expansivo. Algumas das condições em que a fuga de ideias pode ocorrer incluem:
- a fase maníaca do transtorno bipolar;
- alguns casos de esquizofrenia3, especialmente durante episódios psicóticos agudos;
- e em pessoas com TDAH, especialmente na forma predominante de hiperatividade-impulsividade.
A privação do sono ou distúrbios do sono também podem contribuir para um aumento na agitação mental e na fuga de ideias.
Qual é o substrato fisiopatológico da fuga de ideias?
A fisiopatologia4 da fuga de ideias ainda não é totalmente clara, mas está relacionada a alterações no funcionamento cerebral, especialmente durante os episódios de mania, e pode ocorrer em outros contextos clínicos, como em alguns outros transtornos psicóticos e no transtorno esquizoafetivo. Durante esses transtornos, há uma desregulação nos neurotransmissores cerebrais, especialmente a dopamina5.
Nos quadros maníacos, a superatividade dopaminérgica pode levar também ao aumento da impulsividade e da agitação. Pesquisas sugerem que, durante a mania, pode haver uma hiperconectividade entre diferentes áreas do cérebro6, o que pode levar a uma maior velocidade no processamento de informações e a uma conexão mais aligeirada entre as ideias. Além disso, a capacidade do cérebro6 de inibir ou controlar os impulsos pode ser comprometida durante episódios de mania.
Ademais, fatores genéticos também desempenham um papel na fisiopatologia4 do transtorno bipolar e na fuga de ideias.
Leia sobre "Ninfomania", "Megalomania" e "Oniomania" e "Cleptomania".
Quais são as características clínicas da fuga de ideias?
A fuga de ideias não é uma doença em si, mas está comumente associada a transtornos do humor, como o transtorno bipolar, e pode ocorrer durante episódios de mania ou de um surto agudo7 de esquizofrenia3. Durante esses momentos, o paciente não tem consciência de sua anormalidade e por isso recusa qualquer intervenção médica, não percebendo que pode estar colocando em perigo a si mesmo e aos outros. Assim, amigos e familiares em contato próximo com ele podem ter que intervir.
A fuga de ideias quase nunca é um fenômeno isolado e geralmente está associada a estados de euforia. É raro ela surgir sem estar acompanhada de uma patologia8 subjacente, embora isso possa ocorrer.
Nos transtornos bipolares, ela está associada a um aumento da energia, dispersão de interesses, distraibilidade, iniciativas bizarras, agitação, perda do sono e impulsividade, que são características típicas dos episódios maníacos. Associadamente, o paciente mostra intensa verborragia e uma atividade intensa, embora desconexa.
A não ser em casos muito extremos, não há ideias delirantes no pensamento, embora sejam frequentes ideias bizarras e pouco adequadas à realidade. Além de associações alteradas, esses pacientes falam incessantemente, sem muita necessidade de que as outras pessoas estejam atentas a eles. Nos casos de esquizofrenia3, é comum que se tenha pensamento desorganizado e de conteúdos delirantes
Esses episódios são autolimitados e, sem tratamento, teriam uma duração de cerca de 4 meses. No entanto, as medicações psiquiátricas atuais são capazes de abortá-los em tempo muito menor. Passadas as crises, esses pacientes são capazes de reconhecer a inadequação de suas ideias e comportamentos, porém, isso não impede que as repitam num próximo surto.
Como o médico trata a fuga de ideias?
Não existe um tratamento específico para a fuga de ideias. O psiquiatra deve tentar reconhecer a patologia8 de base e estabelecer um plano de intervenção e tratamento, de acordo com as condições específicas do paciente.
Quais são as complicações possíveis com a fuga de ideias?
Com todos os sintomas9 que acompanham o quadro de fuga de ideias, a pessoa perde provisoriamente a sua funcionalidade social. Comumente, a fuga de ideias leva à desorganização cognitiva10, dificuldade de comunicação, perda de foco, maior risco de comportamentos impulsivos, prejuízo nas relações sociais, dificuldades no planejamento e tomada de decisão, etc.
Veja mais sobre "Psicoterapia", "Terapia cognitivo11-comportamental" e "Considerações sobre o término da psicoterapia".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic e da UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.