As funções da saliva
O que é a saliva?
A saliva é uma secreção aquosa transparente secretada pelas glândulas salivares1 exócrinas, diretamente na cavidade bucal. Cerca de 99% dela é constituída por água e 1% por proteínas2, glicoproteínas e íons3.
A saliva é secretada por três pares de glândulas salivares1 principais:
- Glândulas parótidas4, localizadas na parte superior de cada bochecha5, perto da orelha6, uma de cada lado.
- Glândulas7 submandibulares, localizadas debaixo da mandíbula8, também uma de cada lado.
- Duas glândulas sublinguais9, localizadas abaixo da língua10.
Além dessas glândulas7 principais, de 600 a 1.000 glândulas salivares1 pequenas estão espalhadas pelo interior da boca11 e garganta12.
A secreção da saliva é induzida por meio de estímulos físicos, químicos, biológicos e psíquicos. O fluxo salivar é quase nulo durante o sono e reduzido pela manhã, aumentando principalmente no período da tarde. Varia também de acordo com a idade, sexo e, provavelmente, com a genética de cada pessoa.
Embora a saliva seja composta basicamente por água, ela também possui em seu conjunto componentes orgânicos e inorgânicos, tais como cloreto, bicarbonato, fosfato, iodeto, fluoreto, sódio, potássio, cálcio, enzimas, proteínas2, glicose13 e ureia14, além de restos alimentares, muco, microrganismos e células15 do epitélio16 oral.
Quais são as funções da saliva?
A cada dia, 1 a 2 litros da saliva são produzidos pelas glândulas salivares1 e essa saliva tem vários tipos diferentes de atuação:
- Umedece o interior da boca11, facilitando a fala.
- Transforma os alimentos numa massa mais fácil de ser engolida e digerida.
- Ajuda a regular a quantidade de água presente no organismo; porque quando o corpo está com falta de água, a boca11 fica seca, sugerindo sede.
- Dificulta a cárie, ajudando a remover restos de alimentos e bactérias.
- Atua protegendo o organismo contra vírus17 que invadem o trato respiratório e digestivo.
- Possui efeito antimicrobiano, que controla o crescimento de bactérias.
A falta de saliva (“boca seca” ou xerostomia18) pode estar relacionada a várias condições médicas e não médicas, como sede e desidratação19, alimentação contendo muito sal, estresse, medo ou ansiedade, apneia20 do sono, medicações psiquiátricas, quimioterapia21 contra o câncer22, tabagismo e envelhecimento. A baixa quantidade de saliva aumenta os riscos de se ter doenças periodontais23, saburra na língua10 e mau hálito e impede a mastigação adequada dos alimentos, fazendo com que a pessoa mude a consistência dos alimentos que ingere, podendo causar problemas digestivos.
Saiba mais sobre "Cárie", "Xerostomia18", "Língua10 saburrosa" e "Halitose24 ou mau hálito".
O uso da saliva no diagnóstico25 de doenças sistêmicas
Há uma correlação positiva entre certos componentes dosados na saliva e o controle glicêmico em pacientes com diabetes mellitus26 tipo 2. Assim, a concentração de melatonina salivar diminui em pacientes com diabetes tipo 227 e pacientes com periodontite. A melatonina salivar pode, pois, se tornar um biomarcador essencial no diagnóstico25 e tratamento dessas duas doenças. Por outro lado, os pacientes com diabetes28 apresentam níveis significativamente mais altos de glicose13 na saliva. Portanto, a medida de glicose13 ou de seus metabólitos29 pode ser útil para o diagnóstico25, tratamento e avaliação prognóstica do diabetes28.
Vários autores constataram que os níveis de citocinas30 inflamatórias salivares aumentam significativamente na aterosclerose31 e podem ser potenciais biomarcadores para o diagnóstico25 dessa condição. A proteína C reativa (PCR32) presente na saliva, juntamente com o eletrocardiograma33, é o biomarcador mais preditivo da possibilidade de infarto34 agudo35 do miocárdio36. Desse modo, os dados demonstram que o uso potencial de biomarcadores salivares em associação com o eletrocardiograma33 pode ser usado para o diagnóstico25 preventivo37 de infarto34.
Atualmente, os testes de diagnóstico25 para infecções38 virais dependem de biomarcadores salivares, como DNA e RNA virais, antígenos39 e anticorpos40. No nível proteômico41 (conjunto de proteínas2 expressas em uma amostra biológica), existem testes de anticorpos40 baseados na saliva para detectar vírus17, incluindo vírus17 da hepatite42 A, vírus17 da hepatite42 B, vírus17 da hepatite42 C, HIV43-1, vírus17 do sarampo44, vírus17 da rubéola45, vírus17 da caxumba46, vírus17 da estomatite47 vesicular, entre outros. Há, também, um novo teste salivar para detectar o vírus17 da hepatite42 C de maneira mais fácil e rápida. Além disso, o RNA do vírus17 da dengue48 e os antígenos39 não estruturais da proteína 1 são detectáveis pela saliva, o que pode fornecer uma maneira mais eficaz de diagnosticar a dengue48.
Leia sobre "Hepatite42 A", "Hepatite42 B" e "Hepatite42 C".
Verificou-se que os níveis de certos biomarcadores dosados na saliva possibilitaram a diferenciação de pacientes com pancreatite50 e indivíduos saudáveis. Além disso, níveis significativamente aumentados de outros marcadores foram identificados na saliva de pacientes com câncer22 de pâncreas49 e alguns se encontravam superexpressos em lesões51 precursoras. Eles têm uma excelente capacidade de indicar precocemente o câncer22 de pâncreas49, o que permite a cirurgia curativa, e podem distinguir pacientes com câncer22 de pâncreas49, pancreatite50 crônica e indivíduos saudáveis.
Um estudo de Zhang et al. encontrou vários biomarcadores que poderiam ser usados para detectar câncer22 de mama52 com sensibilidade de 83% e especificidade de 97%. Em outro estudo, verificou-se que os níveis de fator de crescimento endotelial vascular53, fator de crescimento epidérmico e antígeno54 carcinoembrionário na saliva aumentaram significativamente em pacientes com câncer22 de mama52. Com base nesses estudos, possíveis biomarcadores salivares podem ser aplicados ao diagnóstico25 precoce do câncer22 de mama52.
As mutações gênicas identificadas em receptores celulares são biomarcadores tumorais específicos para carcinoma56 pulmonar de células15 não-pequenas. Essa nova tecnologia mostrou-se eficaz, precisa, rápida e econômica para a detecção de mutações na saliva de pacientes com câncer22 de pulmão55 de não pequenas células15. Isso demonstra que biomarcadores proteômicos57 podem ser estabelecidos para a detecção e prognóstico58 precoce do câncer22 de pulmão55.
Está em estudos a possibilidade de coletar biomarcadores tumorais em pacientes com câncer22 de próstata59 em estágio inicial ou avançado. Espera-se que seja uma abordagem não invasiva ou minimamente invasiva para diagnosticar o câncer22 de próstata59 em estágio inicial.
Outras doenças
Além dessas doenças, a análise da saliva também pode detectar infecções38 gástricas pelo Helicobacter pylori, doenças hepáticas60 e insuficiência renal61 crônica; pode monitorar a doença residual mínima na leucemia62, a doença de Wilson63, o estresse psicológico e a dermatite64 atópica em seu estágio inicial; dentre outras possibilidades.
Veja também sobre "Síndrome65 de Sjogren" e "Envelhecimento precoce dos dentes".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Harvard Medical School e do IJOS -International Journal of Oral Science.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.