Linfo-histiocitose hemofagocítica: a tempestade imunológica que ameaça a vida
O que é linfohistiocitose hemofagocítica?
A linfo-histiocitose hemofagocítica (LHH) é uma síndrome1 hiperinflamatória rara e potencialmente fatal, caracterizada por ativação imunológica descontrolada, levando à inflamação2 sistêmica grave. Ela resulta da proliferação e ativação excessiva de linfócitos T e macrófagos3, que liberam grandes quantidades de citocinas4 pró-inflamatórias, um fenômeno conhecido como “tempestade de citocinas”.
A LHH pode ser classificada em duas formas principais:
- Primária (genética), que ocorre geralmente em crianças e é causada por mutações hereditárias.
- Secundária (adquirida), associada a infecções5, doenças autoimunes6, neoplasias7 ou imunodeficiências, podendo ocorrer em qualquer idade.
A LHH é uma emergência8 médica que exige diagnóstico9 precoce e tratamento intensivo para melhorar a sobrevida10.
Quais são as causas da linfohistiocitose hemofagocítica?
A LHH primária é causada por mutações em genes como PRF1, UNC13D, STX11 e STXBP2, que prejudicam a função citotóxica de linfócitos T e células11 natural killer (NK). Essas alterações impedem a liberação de grânulos citotóxicos12 usados para destruir células11 infectadas ou anormais.
A LHH secundária é desencadeada por fatores adquiridos, como:
- Infecções5 virais (ex.: Epstein-Barr, citomegalovírus13), bacterianas, fúngicas14 ou parasitárias.
- Doenças autoimunes6 (ex.: lúpus15 eritematoso16 sistêmico17, artrite18 idiopática19 juvenil).
- Neoplasias7 hematológicas, especialmente linfomas de células11 T.
- Imunodeficiências primárias (ex.: síndrome1 de Chédiak-Higashi, síndrome1 de Griscelli).
- Uso de imunossupressores ou quimioterapia20.
Em muitos casos, um gatilho infeccioso ativa a doença em indivíduos com predisposição genética ou imunidade21 comprometida.
Leia sobre "Linfomas", "Linfoma22 de Burkitt", "Linfoma22 cutâneo23", "Síndrome paraneoplásica24" e "Leucemias".
Qual é o substrato fisiopatológico da LHH?
A LHH resulta de falha na regulação imunológica, com hiperativação persistente de linfócitos T e macrófagos3. Na forma primária, mutações genéticas impedem a eliminação eficiente de células11-alvo, perpetuando o estímulo inflamatório. Na forma secundária, gatilhos infecciosos ou inflamatórios induzem mecanismo semelhante.
O processo leva à liberação descontrolada de citocinas4 pró-inflamatórias, ativação de macrófagos3 e hemofagocitose, que consiste em fagocitose25 de eritrócitos26, leucócitos27 e plaquetas28 na medula óssea29, baço30 e fígado31. Isso causa pancitopenia32 e lesão33 de múltiplos órgãos, como fígado31, pulmões34 e sistema nervoso central35 (SNC36).
Quais são as características clínicas?
Os sintomas37 são inespecíficos e podem simular sepse38 ou doenças autoimunes6, atrasando o diagnóstico9. As principais manifestações incluem:
- Febre39 alta e persistente, refratária a antipiréticos40.
- Hepatoesplenomegalia41.
- Pancitopenia32 (anemia42, trombocitopenia43, neutropenia44).
- Hiperferritinemia (frequentemente >10.000 ng/mL).
- Alterações hepáticas45: elevação de transaminases, icterícia46, disfunção hepática47.
- Comprometimento neurológico: convulsões, alteração de consciência, coma48.
- Outros sinais49: exantema50, linfonodomegalia, dificuldade respiratória, edema51.
Como é feito o diagnóstico9?
O diagnóstico9 segue critérios clínicos, laboratoriais e histopatológicos. Segundo o protocolo HLH-2004, é necessário ≥5 dos 8 critérios abaixo:
- Febre39 persistente (>7 dias).
- Esplenomegalia52.
- Citopenia em ≥2 linhagens.
- Hipertrigliceridemia e/ou hipofibrinogenemia.
- Hemofagocitose confirmada em biópsia53.
- Atividade ausente/reduzida de células11 NK.
- Ferritina ≥500 ng/mL (>10.000 ng/mL é altamente sugestivo).
- Elevação do receptor solúvel de IL-2 (sCD25).
Exames complementares incluem sorologias, culturas, imagem e testes genéticos. A ausência de hemofagocitose não exclui o diagnóstico9.
Como é o tratamento?
O tratamento da linfo-histiocitose hemofagocítica busca controlar rapidamente a inflamação2 sistêmica, tratar a causa subjacente e oferecer suporte clínico intensivo. Os protocolos mais utilizados, como o HLH-94 e HLH-2004, combinam fármacos imunossupressores, como dexametasona, etoposídeo e ciclosporina A, capazes de reduzir a ativação imunológica exacerbada. Ao mesmo tempo, é fundamental o manejo específico do gatilho identificado, que pode incluir antimicrobianos para infecções5, quimioterapia20 para malignidades ou imunossupressores para doenças autoimunes6. O suporte envolve transfusões sanguíneas, profilaxia e tratamento de infecções5 secundárias e, quando necessário, internação em unidade de terapia intensiva54.
Na LHH primária ou nos casos secundários refratários55, o transplante de células-tronco56 hematopoiéticas representa a única alternativa potencialmente curativa, corrigindo defeitos genéticos e restaurando a função imunológica, mas exige um doador compatível e apresenta riscos relevantes. Em situações refratárias57, terapias emergentes, como o anticorpo58 monoclonal anti-interferon gama (emapalumabe) e inibidores de JAK, vêm sendo incorporadas à prática clínica em centros especializados.
Quais são as complicações?
As complicações decorrem tanto da própria inflamação2 sistêmica grave quanto do tratamento agressivo necessário para controlá-la. A falência de múltiplos órgãos, incluindo fígado31, rins59, pulmões34 e coração60, é uma das causas mais comuns de óbito61. Infecções5 graves secundárias, facilitadas pela imunossupressão62, são frequentes e potencialmente fatais.
A trombocitopenia43 e as coagulopatias aumentam o risco de hemorragias63 significativas. O sistema nervoso central35 pode sofrer danos permanentes, com déficits neurológicos variados. Pacientes submetidos ao transplante de células-tronco56 hematopoiéticas estão sujeitos a complicações como doença do enxerto64 contra o hospedeiro, rejeição e infecções5 pós-transplante.
Além disso, a recorrência65 da doença é possível, especialmente nas formas genéticas ou em casos secundários que não foram completamente controlados.
Saiba também sobre "Leucemia66 mieloide aguda" e "Leucemia66 mieloide crônica".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Sociedade de Pediatria de São Paulo, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e do Hospital Pequeno Príncipe.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.