MASH: a doença silenciosa do fígado que pode evoluir para cirrose
O que é esteato-hepatite1 metabólica ou MASH?
A esteato-hepatite1 associada à disfunção metabólica (MASH), anteriormente denominada esteato-hepatite1 não alcoólica (NASH), é uma forma progressiva da doença hepática2 gordurosa associada à disfunção metabólica (MASLD). Trata-se de uma condição crônica caracterizada por acúmulo de gordura3 no fígado4 (esteatose5), associado a inflamação6 e lesão7 hepatocelular, que pode evoluir para fibrose8, cirrose9 ou carcinoma10 hepatocelular.
É considerada a forma mais grave da MASLD e se distingue da esteatose hepática11 simples, geralmente benigna. Está fortemente associada à síndrome metabólica12, que reúne fatores como obesidade13, diabetes tipo 214, dislipidemia e hipertensão arterial15.
A prevalência16 global tem aumentado paralelamente ao crescimento das taxas de obesidade13 e diabetes17, atingindo cerca de 3 a 5% da população mundial, com maior incidência18 em países ocidentais. Na maioria das vezes, a doença é assintomática nas fases iniciais, o que dificulta seu diagnóstico19 precoce.
Quais são as causas da esteato-hepatite1 metabólica?
A MASH resulta de uma combinação de fatores metabólicos, ambientais e genéticos. A obesidade13, especialmente a visceral, é um dos principais desencadeadores, pois favorece o acúmulo de gordura3 hepática2. A resistência à insulina20, comum no diabetes tipo 214 e na síndrome metabólica12, leva ao aumento da lipólise no tecido adiposo21 e a um maior influxo de ácidos graxos livres para o fígado4. A dislipidemia, caracterizada por níveis elevados de triglicerídeos e colesterol22 LDL23, também contribui para o quadro.
Variantes genéticas, como as presentes no gene PNPLA3, aumentam a suscetibilidade à doença. O consumo frequente de alimentos ricos em açúcares refinados, gorduras saturadas24 e carboidratos processados25, associado ao sedentarismo26, agrava o acúmulo de gordura3 hepática2 e a resistência à insulina20. Além disso, fatores como uso de determinados medicamentos, doenças endócrinas e alterações na microbiota27 intestinal podem desempenhar papel relevante.
Qual é o substrato fisiopatológico da esteato-hepatite1 metabólica?
O mecanismo fisiopatológico da MASH é complexo e geralmente descrito pelo modelo dos “múltiplos hits”. O primeiro é a instalação da esteatose hepática11, consequência da resistência à insulina20, que aumenta a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo21 e estimula a síntese de lipídios no fígado4. Esse excesso de gordura3 provoca estresse oxidativo, sobrecarga mitocondrial e produção de espécies reativas de oxigênio.
Em seguida, ocorre o segundo hit, caracterizado por inflamação6 e lesão7 hepatocelular, mediadas por citocinas28 pró-inflamatórias provenientes de hepatócitos, células29 de Kupffer e tecido adiposo21. A ativação das células29 estreladas hepáticas30 leva à deposição de colágeno31 e fibrose8. Alterações na microbiota27 intestinal e aumento da permeabilidade32 da mucosa33 favorecem a translocação34 de lipopolissacarídeos bacterianos, intensificando o processo inflamatório.
Nos casos mais graves, a fibrose8 pode progredir para cirrose9 e falência hepática2.
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Quais são as características clínicas?
Nos estágios iniciais, a MASH geralmente é assintomática, o que dificulta a detecção precoce. Quando presentes, os sintomas37 costumam ser inespecíficos, como fadiga38 persistente, desconforto ou dor leve no quadrante superior direito do abdome39 e sensação de peso abdominal.
Com a progressão da doença e o desenvolvimento de fibrose8 ou cirrose9, podem surgir manifestações como icterícia40, ascite41, edema42 periférico, confusão mental decorrente de encefalopatia43 hepática2 e hemorragia digestiva alta44 por hipertensão45 portal. Frequentemente, observa-se também o conjunto de alterações características da síndrome metabólica12.
Como o médico faz o diagnóstico19?
O diagnóstico19 da MASH exige a exclusão de outras causas de doença hepática2, como hepatites46 virais, consumo excessivo de álcool e doenças autoimunes47. A avaliação inicia-se com a anamnese48 e exame físico, incluindo a investigação de fatores de risco metabólicos e a confirmação de ingestão alcoólica inferior a 20 g/dia para mulheres e 30 g/dia para homens.
Exames laboratoriais podem revelar elevação leve a moderada de ALT e AST, com relação ALT/AST geralmente maior que 1, além de alterações na glicemia de jejum49 e no perfil lipídico50. Métodos de imagem, como ultrassonografia51, tomografia computadorizada52 ou ressonância magnética53, são úteis para identificar esteatose hepática11, enquanto a elastografia transitória possibilita avaliar o grau de fibrose8.
A biópsia54 hepática2 é o padrão-ouro para confirmar o diagnóstico19 e determinar a gravidade das lesões55, sendo reservada para casos de dúvida diagnóstica ou suspeita de doença avançada. Ferramentas não invasivas, como os escores FIB-4 e NAFLD Fibrosis Score, auxiliam na estimativa do risco de fibrose8 significativa.
Como o médico trata a MASH?
Até o momento, não existe tratamento farmacológico aprovado especificamente para a MASH. A abordagem baseia-se principalmente na modificação do estilo de vida e no controle rigoroso dos fatores de risco. A perda de peso, preferencialmente entre 7% e 10% do peso corporal, é uma das intervenções mais eficazes para reduzir a esteatose5 e a inflamação6. A adoção de dietas hipocalóricas equilibradas, como a dieta mediterrânea56, associada à redução de açúcares simples e gorduras saturadas24 e ao aumento do consumo de fibras e gorduras insaturadas57, é recomendada.
A prática regular de atividade física aeróbica, com pelo menos 150 minutos semanais, melhora a sensibilidade à insulina58 e reduz a gordura3 hepática2. O controle de comorbidades59, incluindo diabetes17, dislipidemia e hipertensão45, é fundamental. Em casos selecionados, pode-se considerar o uso de vitamina60 E e pioglitazona, especialmente em pacientes não diabéticos.
Estudos com novos fármacos, como agonistas de PPAR e inibidores de FXR, estão em andamento.
Qual é a evolução?
A evolução clínica da MASH é variável. Em muitos pacientes, a doença permanece estável por anos, com esteatose5 simples e inflamação6 leve. No entanto, cerca de 20% a 30% dos casos progridem para fibrose8 significativa, podendo evoluir para cirrose9 ao longo de uma a duas décadas. A fibrose8 avançada é o principal fator de risco61 para desfechos graves, como insuficiência hepática62, carcinoma10 hepatocelular e necessidade de transplante hepático. A presença de diabetes17, obesidade13 grave e idade avançada aumenta a probabilidade de progressão.
Como prevenir?
A prevenção da MASH depende da redução dos fatores de risco metabólicos. A manutenção de um peso corporal saudável, o controle rigoroso de doenças como diabetes17, dislipidemia e hipertensão45, e a adoção de hábitos alimentares equilibrados, com baixo consumo de açúcares refinados e gorduras saturadas24, são medidas centrais.
Pacientes com síndrome metabólica12 devem realizar rastreamento regular para alterações hepáticas30, de forma a permitir intervenção precoce.
Quais são as complicações?
As complicações decorrem principalmente da progressão da fibrose8 e incluem o desenvolvimento de cirrose9, carcinoma10 hepatocelular, insuficiência hepática62, hipertensão45 portal e aumento do risco de eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio63 e acidente vascular cerebral64.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Sociedade Brasileira de Diabetes, da Cleveland Clinic e da American Liver Foundation.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.