Uma visão geral de alguns transtornos alimentares
O que são transtornos alimentares?
Transtornos Alimentares são perturbações do comportamento alimentar considerado normal. Num sentido amplo, as alterações do comportamento alimentar podem ser voluntárias e transitórias, como as dietas, por exemplo. Num sentido mais estrito, elas são vistas como doenças físicas ou psíquicas. Na verdade, não se pode chamar as primeiras dessas alterações de “perturbações”, mas há uma confusa transição entre as duas. O que começa por ser uma decisão voluntária pode tornar-se uma compulsão invencível, como acontece na anorexia1 mental.
Por outro lado, o que é o "normal" quanto à alimentação é uma questão complexa. A função biológica da alimentação é garantir o suprimento de nutrientes necessários tanto em quantidade quanto em qualidade para garantir o funcionamento da máquina orgânica e suas atividades. No entanto, esse não é o único fator que determina essa função nos humanos. Ela é influenciada por uma grande variedade de outros fatores, tanto patológicos quanto sadios.
Uma pessoa pode ter seu comportamento alimentar transitoriamente alterado porque encontra-se com o apetite diminuído ou aumentado em razão de alguma doença, ou mesmo tê-lo alterado de maneira mais duradoura ou permanente como acontece na hiperfagia2 patológica ou na anorexia1 mental. Mas a alimentação também sofre poderosas influências de hábitos familiares, de padrões psicossociais e culturais e de princípios religiosos. Na atualidade, a procura do “corpo perfeito” é um poderoso motivo para alteração dos hábitos alimentares, sobretudo no sentido de emagrecer ou permanecer magra, principalmente nas mulheres jovens.
O ato de alimentar-se é ainda influenciado pelo paladar3, pela aparência dos alimentos, pela existência ou não de companhia ao comer, pelos costumes locais, pelo que se comemora ou não, por motivos de etiqueta, etc. Comer não é só uma questão de aplacar a fome, mas uma questão que envolve hábitos, crenças, valores e estética.
Leia sobre "Anorexia nervosa4", "Diferenças entre fome e vontade de comer", "Motivos da perda de peso" e "Índice de Massa Corporal5".
Quais são as causas dos transtornos alimentares?
Dois dos mais marcantes e conhecidos transtornos devidos a doenças são a anorexia nervosa4 ou mental e a bulimia6. Outros distúrbios menos comuns também podem estar presentes: compulsão alimentar; hiperfagia2; ortorexia nervosa; alotriofagia; transtorno da compulsão alimentar periódica e vigorexia. Veja mais sobre cada um a seguir:
Anorexia1
A anorexia1 mental é um tipo de desordem alimentar de natureza psicológica que afeta principalmente mulheres jovens e que implica numa severa restrição de alimentos com a justificativa irracional de emagrecer, mesmo numa pessoa já anormalmente magra, podendo levar à perda da resistência óssea e da força muscular, à inanição e à morte. Às vezes se associam outras providências com a mesma finalidade irrazoável: provocar vômitos7, exagerar em exercícios, tomar pílulas para reduzir o apetite e usar diuréticos8, laxantes9 ou enemas10.
Bulimia6
A bulimia6 nervosa é caracterizada por episódios recorrentes de compulsão alimentar (ingestão de grande quantidade de alimentos em curto período de tempo), seguidos de um sentimento de falta de controle sobre este comportamento alimentar. A pessoa que tem bulimia6 não quer comer para engordar, ela apenas não consegue controlar o seu impulso para comer. Os bulímicos geralmente não são obesos, pois usam artifícios para eliminar o excesso ingerido e não ganhar peso, como indução de vômitos7, uso de laxantes9 para causar diarreias, uso de diuréticos8 para eliminar maior quantidade de urina11, prática de exercícios de maneira exagerada, etc.
Compulsão alimentar
A compulsão alimentar pode ser vista em pessoas que perderam o controle sobre o consumo de alimentos e em consequência comem em demasia. Muitos desses pacientes têm sobrepeso12 ou obesidade13 e são pessoas com maiores riscos de apresentar doenças cardiovasculares14 e pressão arterial15 elevada.
Hiperfagia2
A hiperfagia2 é uma necessidade emocional de se alimentar em excesso. Deriva de um transtorno mental em que o paciente sofreu algum trauma em algum momento da vida. Entre eles estão: perda de uma pessoa querida ou de bens materiais e acidentes. A diferença com o transtorno anterior é que enquanto a hiperfagia2 é egossintônica (em conformidade com a vontade), a compulsão alimentar é egodistônica (contrária à vontade).
Ortorexia nervosa
A ortorexia nervosa é uma preocupação excessiva e exagerada (obsessão) por “alimentos saudáveis e nutritivos”. A pessoa que sofre de ortorexia exclui da sua alimentação tudo aquilo que ela pensa conter químicas, agrotóxicos ou aditivos. A parte preocupante nisso é que o paciente fica irremediavelmente preso nesse cenário, sem capacidade de alterá-lo, deixando de comer se não pode evitar os alimentos que ele julga prejudiciais. Por não ser uma alteração muito conhecida, as pessoas podem ser portadoras da ortorexia sem saber.
Alotriofagia
Na alotriofagia (ou pica, como também é conhecida) a pessoa consome substâncias não nutritivas, como tijolo, batom, carvão, etc. O desejo por esses elementos é classificado como ‘transtorno mental’. A alotriofagia transitória é comum em grávidas e crianças.
Transtorno da compulsão alimentar periódica
O transtorno da compulsão alimentar periódica significa que o paciente consome alimentos em grandes quantidades em um tempo demarcado. Por exemplo, a cada duas horas. Estima-se que entre 27 e 47% das pessoas que fazem cirurgia bariátrica16 tenham esse transtorno. O que o diferencia da bulimia6 nervosa é que nele não há utilização dos métodos compensatórios, como uso de laxantes9 ou diuréticos8, indução aos vômitos7, etc.
Vigorexia
A vigorexia é, num certo sentido, um transtorno inverso da anorexia nervosa4. Faz com que o paciente tenha uma distorção de sua imagem em que ele costuma se enxergar mais fraco do que realmente está. O paciente, por isso, tem a compulsão pelo aumento de massa gordurosa e muscular, por meio da alimentação. Comum nas pessoas do sexo masculino, a vigorexia também é conhecida pela concomitância de exercícios físicos intensos.
Veja também sobre "Termogênicos: prós e contras para a saúde17", "Perigo dos remédios para emagrecer" e "Gordura abdominal18: como perder a barriga".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic, National Association of Anorexia Nervosa and Associated Disorders (ANAD) e American Psychiatric Association.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.