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Divertículo de Zenker

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O que é divertículo1 de Zenker?

Um divertículo1 é um apêndice2 patológico de um órgão oco (intestino ou esôfago3, por exemplo), em forma de bolsa ou saco, aparentando um dedo de luvas, que geralmente ocorre em consequência de herniação4 da mucosa5, submucosa e musculatura do órgão, conjuntamente.

O chamado divertículo1 de Zenker, também dito divertículo1 faringoesofágico é, na verdade, um pseudo-divertículo1 da mucosa5 e submucosa, assim chamado por não envolver também uma camada muscular. Ele fica localizado na parte posterior da transição entre a faringe6 e o esôfago3, logo acima do músculo cricofaríngeo e do esfíncter esofágico superior7, numa região chamada triângulo de Killian.

O divertículo1 de Zenker recebeu este nome em 1877, em homenagem ao patologista8 alemão Friedrich Albert von Zenker, que primeiro o descreveu.

Quais são as causas do divertículo1 de Zenker?

O divertículo1 de Zenker decorre da herniação4 da mucosa5 e da submucosa esofágicas através de uma área de fraqueza anatômica na junção da faringe6 com o esôfago3, chamada triângulo de Killian.

Leia sobre "Diverticulite9", "Diverticulose10" e "Pólipos11 intestinais".

Qual é o substrato fisiopatológico do divertículo1 de Zenker?

O divertículo1 de Zenker se deve à perda da elasticidade12 e redução do tônus muscular13 acima do esfíncter14 superior do esôfago3, próximo ao músculo cricofaríngeo, que advém com o envelhecimento. A alta pressão exercida dentro da faringe6 pelo bolo alimentar deglutido, possivelmente por incoordenação e hipertonia15 do esfíncter esofágico superior7, causa a herniação4 da mucosa5 e da submucosa através dessa área de fraqueza anatômica, formando o divertículo1.

Durante a deglutição16, porções pequenas do alimento ingerido podem entrar no divertículo1 e sair rápida e espontaneamente, ou através de manobras que o paciente faz com o pescoço17. Durante esse processo, pode ocorrer lesão18 da mucosa5 e mesmo o desenvolvimento de alterações malignas locais. Com o crescimento do divertículo1, este vai se lateralizando para a esquerda e para baixo e os alimentos podem passar a ficar presos dentro dele.

Quais são as características clínicas do divertículo1 de Zenker?

O divertículo1 de Zenker é o divertículo1 mais comum do esôfago3, ocorrendo geralmente após os 60 anos de idade, mas podendo, mais raramente, incidir em qualquer idade. Apesar de ser o divertículo1 mais comum no esôfago3, sua ocorrência é rara, entre 1 a 3% dos pacientes com queixa de disfagia19.

Na fase inicial, ele é assintomático. Mais adiante ele pode causar uma variedade de sintomas20 que podem incluir:

  • dificuldade em engolir, principalmente alimentos sólidos;
  • o conteúdo alimentar não digerido pode voltar do esôfago3 para a boca21 (regurgitação22);
  • sensação de plenitude ou pressão no pescoço17;
  • mau hálito, devido ao acúmulo de restos alimentares no divertículo1;
  • tosse pós-prandial, sialorreia23 ou aspiração pulmonar de alimentos regurgitados;
  • perda de peso;
  • dor retroesternal;
  • disfonia24;
  • e pirose25 (azia26). 

Como o médico diagnostica o divertículo1 de Zenker?

Enquanto o divertículo1 de Zenker for pequeno e assintomático, o diagnóstico27 quase sempre é acidental, devido a exames de imagens nas proximidades realizados por outros motivos. Quando maior e/ou se apresentar sintomas20, o diagnóstico27 é feito por manometria esofágica, endoscopia28 alta, estudos radiológicos, como fluoroscopia e, em alguns casos, testes especializados de deglutição16.

No entanto, nos pacientes com divertículo1 de Zenker, a introdução de qualquer tipo de tubo, incluindo a endoscopia28 alta, deve ser realizada com cuidado para evitar qualquer perfuração. O exame padrão-ouro para investigar divertículos esofágicos é o esofagograma contrastado com bário, em que o paciente ingere o contraste que preenche o esôfago3 e o divertículo1 e imagens são obtidas por radiografias seriadas.

A manometria e a endoscopia28 digestiva alta são úteis somente para o diagnóstico27 diferencial e para investigar outras causas de sintomas20 semelhantes, a exemplo do refluxo gastroesofágico29 e da acalasia.

Durante o exame físico, através da inspeção30 e palpação31 cervical, pode-se observar tumoração e dor cervical do lado esquerdo, quando o divertículo1 está de tamanho aumentado.

Como o médico trata o divertículo1 de Zenker?

Para fins de orientação terapêutica32, o divertículo1 de Zenker pode ser classificado em pequeno (menos de 2 cm), médio (de 2 a 4 cm) e grande (mais de 4 cm). Quando pequenos e assintomáticos, os divertículos não requerem tratamento. No entanto, devem contar com um monitoramento contínuo que acompanhe o seu desenvolvimento.

Nos maiores, o tratamento depende da gravidade dos sintomas20 e pode incluir:

  • evitar alimentos com maior probabilidade de ficarem presos no divertículo1, como alimentos secos e ásperos;
  • exercícios e técnicas podem ser ensinados ao paciente para melhorar a coordenação muscular e a função de deglutição16;
  • procedimentos endoscópicos, como miotomia endoscópica ou diverticulectomia endoscópica (retirada do divertículo1) podem ser necessários.

Em casos graves ou quando outros tratamentos não são eficazes, a cirurgia pode ser considerada para remover o divertículo1 e reparar a parede da faringe6 ou do esôfago3.

Quais são as complicações possíveis com o divertículo1 de Zenker?

As complicações são muito raras, mas podem acontecer:

  • aspiração de material alimentício para o pulmão33, causando uma pneumonia34 aspirativa e até mesmo um abscesso35 pulmonar;
  • perfuração após uma endoscopia28 digestiva alta;
  • sangramento, reproduzindo uma hemorragia digestiva alta36;
  • estenose37 esofágica, dificultando a deglutição16;
  • e inflamação38 local, resultando numa mediastinite.
Veja também sobre "Phmetria esofágica", "Endoscopia28" e "Colonoscopia39".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic e da Cleveland Clinic.

ABCMED, 2023. Divertículo de Zenker. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1460620/diverticulo-de-zenker.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Divertículo: Eventração da mucosa colônica através de uma região enfraquecida da parede intestinal. Constitui um achado freqüente na população ocidental após os 50 anos de idade. Em geral não produz nenhum sintoma.
2 Apêndice: Extensão do CECO, em forma de um tubo cego (semelhante a um verme).
3 Esôfago: Segmento muscular membranoso (entre a FARINGE e o ESTÔMAGO), no TRATO GASTRINTESTINAL SUPERIOR.
4 Herniação: Formação de uma protrusão, de uma hérnia. Também conhecida como herniamento.
5 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
6 Faringe: Canal músculo-membranoso comum aos sistemas digestivo e respiratório. Comunica-se com a boca e com as fossas nasais. É dividida em três partes: faringe superior (nasofaringe ou rinofaringe), faringe bucal (orofaringe) e faringe inferior (hipofaringe, laringofaringe ou faringe esofagiana), sendo um órgão indispensável para a circulação do ar e dos alimentos.
7 Esfíncter Esofágico Superior: Estrutura encontrada na junção faringoesofágica, constituída principalmente pelo músculo cricofaríngeo. Normalmente oclui a luz do ESÔFAGO, exceto durante a deglutição.
8 Patologista: Estudioso ou especialista em patologia, que é a especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo.
9 Diverticulite: Inflamação aguda da parede de um divertículo colônico. Produz dor no quadrante afetado (em geral o inferior esquerdo), febre, etc.Necessita de tratamento com antibióticos por via endovenosa e raramente o tratamento é cirúrgico.
10 Diverticulose: Presença de pequenas bolsas que se projetam para fora da parede intestinal, chamadas divertículos. São mais comuns em pessoas idosas, geralmente são assintomáticos e a maioria localiza-se no cólon sigmóide (parte final do intestino grosso). Os divertículos podem sangrar ou infeccionar.
11 Pólipos: 1. Em patologia, é o crescimento de tecido pediculado que se desenvolve em uma membrana mucosa (por exemplo, no nariz, bexiga, reto, etc.) em resultado da hipertrofia desta membrana ou como um tumor verdadeiro. 2. Em celenterologia, forma individual, séssil, típica dos cnidários, que se caracteriza pelo corpo formado por um tubo ou cilindro, cuja extremidade oral, dotada de boca e tentáculos, é dirigida para cima, e a extremidade oposta, ou aboral, é fixa.
12 Elasticidade: 1. Propriedade de um corpo sofrer deformação, quando submetido à tração, e retornar parcial ou totalmente à forma original. 2. Flexibilidade, agilidade física. 3. Ausência de senso moral.
13 Tônus muscular: Estado de tensão elástica (contração ligeira) que o músculo apresenta em repouso e que lhe permite iniciar a contração imediatamente depois de receber o impulso dos centros nervosos. Num estado de relaxamento completo (sem tônus), o músculo levaria mais tempo para iniciar a contração.
14 Esfíncter: Estrutura muscular que contorna um orifício ou canal natural, permitindo sua abertura ou fechamento, podendo ser constituído de fibras musculares lisas e/ou estriadas.
15 Hipertonia: 1. Em biologia, é a característica de uma solução que apresenta maior concentração de solutos do que outra. 2. Em medicina, é a tensão excessiva em músculos, artérias ou outros tecidos orgânicos.
16 Deglutição: Passagem dos alimentos desde a boca até o esôfago; ação ou efeito de deglutir; engolir. É um mecanismo em parte voluntário e em parte automático (reflexo) que envolve a musculatura faríngea e o esfíncter esofágico superior.
17 Pescoço:
18 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
19 Disfagia: Sensação consciente da passagem dos alimentos através do esôfago. Pode estar associado a doenças motoras, inflamatórias ou tumorais deste órgão.
20 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
21 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
22 Regurgitação: Presença de conteúdo gástrico na cavidade oral, na ausência do reflexo de vômito. É muito freqüente em lactentes.
23 Sialorreia: Produção excessiva de saliva; hipersialose. Escoamento de saliva para fora da boca, geralmente por causa de problemas de deglutição ou paralisia facial.
24 Disfonia: Alteração da produção normal de voz.
25 Pirose: Sensação de dor epigástrica semelhante a uma queimadura, ela pode ser acompanhada de regurgitação de suco gástrico para dentro do esôfago; azia.
26 Azia: Pirose. Sensação de dor epigástrica semelhante a uma queimadura, geralmente acompanhada de regurgitação de suco gástrico para dentro do esôfago.
27 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
28 Endoscopia: Método no qual se visualiza o interior de órgãos e cavidades corporais por meio de um instrumento óptico iluminado.
29 Refluxo gastroesofágico: Presença de conteúdo ácido proveniente do estômago na luz esofágica. Como o dito órgão não está adaptado fisiologicamente para suportar a acidez do suco gástrico, pode ser produzida inflamação de sua mucosa (esofagite).
30 Inspeção: 1. Ato ou efeito de inspecionar; exame, vistoria, inspecionamento. 2. Ato ou efeito de fiscalizar; fiscalização, supervisão, observação. 3. Exame feito por inspetor (es).
31 Palpação: Ato ou efeito de palpar. Toque, sensação ou percepção pelo tato. Em medicina, é o exame feito com os dedos ou com a mão inteira para explorar clinicamente os órgãos e determinar certas características, como temperatura, resistência, tamanho etc.
32 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
33 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
34 Pneumonia: Inflamação do parênquima pulmonar. Sua causa mais freqüente é a infecção bacteriana, apesar de que pode ser produzida por outros microorganismos. Manifesta-se por febre, tosse, expectoração e dor torácica. Em pacientes idosos ou imunodeprimidos pode ser uma doença fatal.
35 Abscesso: Acumulação de pus em uma cavidade formada acidentalmente nos tecidos orgânicos, ou mesmo em órgão cavitário, em consequência de inflamação seguida de infecção.
36 Hemorragia digestiva alta: É um termo que se refere a qualquer sangramento proveniente do gastrointestinal superior. O limite anatômico para o sangramento gastrointestinal superior é o ligamento de Treitz, que liga a quarta porção do duodeno ao diafragma, perto da flexura esplênica do cólon.
37 Estenose: Estreitamento patológico de um conduto, canal ou orifício.
38 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
39 Colonoscopia: Estudo endoscópico do intestino grosso, no qual o colonoscópio é introduzido pelo ânus. A colonoscopia permite o estudo de todo o intestino grosso e porção distal do intestino delgado. É um exame realizado na investigação de sangramentos retais, pesquisa de diarreias, alterações do hábito intestinal, dores abdominais e na detecção e remoção de neoplasias.
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