Síndrome VEXAS
O que é a síndrome1 VEXAS?
A síndrome1 VEXAS é uma doença autoinflamatória monogênica2 na qual o paciente exibe ao mesmo tempo sintomas3 inflamatórios sistêmicos4 e hematológicos. Ela tem início na idade adulta (geralmente acima de 50 anos) e afeta quase exclusivamente o sexo masculino.
O nome VEXAS é um acrônimo derivado das principais características da doença: V se refere a vacúolos que podem ser identificados nas células-tronco5 da medula óssea6; E diz respeito à enzima7 conjugadora de ubiquitina E1 que está mutada nesses pacientes; X indica que o gene UBA1 mutante é localizado no cromossomo8 X; A refere-se às condições autoinflamatórias; e o S lembra que as mutações que causam a síndrome1 são localizadas nas células somáticas9.
A doença foi descrita pela primeira vez em 2020, por pesquisadores do National Institutes of Health, dos Estados Unidos, liderados pelo Dr. David Beck, da Universidade de Nova Iorque. Nessa primeira descoberta, os pesquisadores identificaram 25 homens e zero mulheres nos EUA com a condição, pensando portanto que ela seria muito rara. Porém, agora novos estudos indicam que, embora rara, a síndrome1 é mais comum que se supunha, afetando quase 1 em cada 13.600 pessoas (1 em 4.269 homens e 1 em 26.238 mulheres, com mais de 50 anos).
Quais são as causas da síndrome1 VEXAS?
A síndrome1 VEXAS é causada por uma mutação10 somática do gene UBA1 em células11 progenitoras (precursoras) das células11 hematopoiéticas. A doença incide em quase um de cada 4.000 homens acima de 50 anos. Devido à sua ligação com o cromossoma X, a síndrome1 ocorre mais comumente em homens e com bem menos frequência em mulheres.
Como os homens são portadores de apenas um cromossoma X (XY), a alteração dele expressa imediatamente a síndrome1. Já as mulheres, como carregam dois cromossomas X (XX), a alteração em um deles é largamente compensada pelo outro. Para que uma mulher adoecesse seria necessário que os dois cromossomas sofressem alterações ou que um deles estivesse faltoso.
Saiba mais sobre "Leucopenia12", "Plaquetas13 baixas" e "Anemias".
Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 VEXAS?
A síndrome1 VEXAS é adquirida, em vez de herdada. A maioria dos casos resulta de novas variantes (mutações) no gene UBA1 localizado no cromossoma X e ocorre em pessoas sem história anterior da doença na família. Tampouco a condição é transmitida aos filhos dos indivíduos afetados.
Ela se caracteriza por inflamações14 generalizadas, concomitantes com alterações hematológicas. Normalmente, a inflamação15 é uma resposta do sistema imunológico16 a lesões17 ou invasores estranhos (como bactérias, por exemplo). Em pessoas com síndrome1 VEXAS, parte do sistema imunológico16 é ativada anormalmente quando não há lesão18 ou invasor estranho, numa chamada reação autoimune19.
A maioria dos indivíduos afetados desenvolve uma escassez de glóbulos vermelhos (anemia20), e os glóbulos vermelhos presentes são anormalmente grandes (macrocíticos). As pessoas com síndrome1 VEXAS também podem ter baixa de plaquetas13 (trombocitopenia21) e alguns indivíduos afetados desenvolvem síndromes mielodisplásicas, uma condição na qual as células sanguíneas22 imaturas não se desenvolvem normalmente e que pode progredir para uma forma de câncer23 no sangue24 chamada leucemia25.
Quais são as características clínicas da síndrome1 VEXAS?
Os pacientes desenvolvem concomitantemente sintomas3 inflamatórios e hematológicos. A autoinflamação mieloide (da medula óssea6) e a falência progressiva da medula óssea6 levam à morbidade26 e mortalidade27 substanciais. Pacientes com a síndrome1 VEXAS geralmente apresentam febres sem explicação e baixos níveis de oxigênio no sangue24.
Há também sintomas3 relacionados a um sistema imunológico16 hiperativo, que pode causar manifestações inflamatórias em vários locais, incluindo:
- na pele28, na qual podem aparecer sob a forma de erupções que podem ser doloridas;
- nas cartilagens29, as quais podem se apresentar edemaciadas30 e com dor;
- nos pulmões31, onde causam encurtamento das respirações;
- nas articulações32, onde pode haver inchaço33 e dor;
- e nos vasos sanguíneo, que sofrem inflamação15.
Além disso, pode ocorrer também extrema fadiga34, anemia20, baixa de plaquetas13 e coágulos intravasculares35. Por vezes, os gânglios linfáticos36 estão aumentados. Em muitas ocasiões, os pacientes com VEXAS também têm associadamente policondrite recorrente, poliarterite nodosa, síndrome1 de Sweet e síndrome1 mielodisplásica.
A síndrome1 VEXAS ainda costuma acontecer em pessoas que sofrem outras condições autoimunes37, como lúpus38, artrite reumatoide39 ou câncer23 do sangue24.
Como o médico diagnostica a síndrome1 VEXAS?
Sendo uma síndrome1 nova e ainda mal conhecida, a VEXAS vem sendo frequentemente confundida com policondrite recidivante40 refratária ao tratamento, poliarterite nodosa, síndrome1 de Sweet ou arterite de células gigantes41, embora seja diferente dessas condições.
Clinicamente, o diagnóstico42 de VEXAS deve ser suspeitado em pacientes com doença inflamatória disseminada refratária ao tratamento, associada a anormalidades hematológicas progressivas. Ou seja, é comum que se encontre:
- Níveis baixos de hemácias43 e/ou plaquetas13.
- Episódios inflamatórios recorrentes ou de difícil controle nas articulações32, olhos44, ouvidos e nariz45.
- Estreitamento ou bloqueios nas veias46.
Um diagnóstico42 certeiro de VEXAS deve usar teste genético que demonstre mutação10 do gene UBA1 localizado no cromossoma X.
Como o médico trata a síndrome1 VEXAS?
Ainda não há tratamento padronizado para a VEXAS, contudo, as manifestações inflamatórias podem ser tratadas com esteroides ou outros imunossupressores. Alguns pacientes podem necessitar de transplante de medula óssea6.
Como evolui a síndrome1 VEXAS?
A taxa de mortalidade27 da doença em cinco anos depois do diagnóstico42 é de quase metade dos pacientes.
Leia sobre "Leucemia25 linfocítica aguda", "Leucemia25 linfocítica crônica", "Leucemia25 mieloide aguda" e "Leucemia25 mieloide crônica".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da PubMed e da American Society of Hematology.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.