Urina ácida ou Acidúria - o que é? Quando acontece? O que deve ser feito?
O que é acidúria?
É a excreção de urina1 ácida devido à presença anormal de qualquer ácido na urina1. O pH urinário fica abaixo do normal. A acidúria primária é representada por um conjunto de enfermidades genéticas, das quais este texto aborda duas: acidúria argininosuccínica e acidúria glutárica.
Leia sobre "Exame de urina2" e "Infecção3 urinária".
Acidúria argininosuccínica
A acidúria argininosuccínica é uma doença hereditária autossômica4 recessiva, devido a mutações no gene ASL, caracterizada pela deficiência da enzima5 argininosuccinato liase (ASL), envolvida no ciclo da ureia6. Ela se manifesta desde o nascimento ou pouco depois, causando o acúmulo de excreções nitrogenadas no sangue7.
A deficiência da enzima5 argininosuccinato liase provoca hiperamonemia e deficiência de arginina. Se houver agravamento da hiperamonemia, o coma8 hiperamonêmico grave pode ser fatal. A doença causa distúrbios neurológicos, além de hipotonia9, atraso de crescimento, anorexia10 e vômitos11 crônicos, hepatomegalia12 e alterações comportamentais que mimetizam doenças psiquiátricas.
O diagnóstico13 pré-natal da acidúria argininosuccínica é possível através da dosagem de citrulina e AAS no líquido amniótico14 ou por ensaio enzimático. Posteriormente, o diagnóstico13 é feito com base na existência de hiperamonemia no sangue7 e em cromatografias de ácidos orgânicos plasmáticos e urinários que demonstrem o acúmulo de ácido argininosuccínico.
O tratamento da acidúria argininosuccínica é feito com uma dieta rigorosa que deve durar toda a vida, pobre em proteínas15 e suplementada com arginina.
Acidúria glutárica tipo 1
A acidúria glutárica tipo 1, descrita pela primeira vez em 1975, é uma doença hereditária rara (1/30.000), que ocorre devido a um distúrbio do metabolismo16 de lisina, hidroxilisina e triptofano causado pela deficiência da glutaril-CoA desidrogenase, registrada desde o nascimento. A acidúria glutárica é herdada dos pais segundo um padrão autossômico17 recessivo. Isto é, pai e mãe portadores, mesmo não doentes, têm 25% de chance de transmitir esse distúrbio aos filhos. Para desenvolver a condição, a criança deve receber o gene defeituoso de ambos os pais, os quais estão localizados no braço curto do cromossoma 19.
A doença ocorre por falta da enzima5 glutaril-CoA desidrogenase, a qual, normalmente, é encarregada de degradar o ácido glutárico, que se origina a partir das proteínas15. Quando falta essa enzima5, o ácido se acumula de maneira tóxica no sangue7.
É quase impossível detectar a doença em recém-nascidos e bebês18 sem o rastreio neonatal, sendo que em alguns casos já podem estar presentes ligeiras anomalias neurológicas, fraqueza muscular ou tensão muscular reduzida ("hipotonia9 muscular"). Existem casos em que a acidúria glutárica já aparece em torno da primeira semana de vida, de modo súbito, como distúrbios dos movimentos extrapiramidais, podendo ocorrer deterioração neurológica e crises convulsivas.
Formas mais moderadas também podem ocorrer em crianças portadoras do gene defeituoso depois de mudanças na alimentação, jejum prolongado ou como consequência de infecções19. Geralmente está associada à macrocefalia (perímetro cefálico maior que o perímetro torácico). Alguns pacientes podem apresentar apenas macrocefalia e se manterem assintomáticos quanto ao resto. Outros apresentam crises convulsivas aparentemente benignas e/ou desenvolvem quadro de atraso do desenvolvimento, sem episódios agudos de descompensação.
Os sintomas20 mais comuns, quando existem, podem incluir vômitos11, perda de apetite, hipotonia9 (tônus muscular21 diminuído), desidratação22 e letargia23. Os exames laboratoriais de urina1 mostrarão elevação da excreção do ácido glutárico, 3-OH-glutárico e glutacônico. Observa-se ainda alterações sugestivas na tomografia computadorizada24 ou na ressonância magnética25 de crânio26.
Não há nenhuma cura específica para a acidúria glutárica, mas uma dieta com baixo teor de proteína e pobre em lisina e a terapia medicamentosa têm obtido melhorias clínicas notáveis. Isto é porque quando se diminui a ingestão de proteína, menos ácido glutárico é produzido. Com o tratamento precoce e adequado, as crianças podem levar uma vida normal e saudável.
O acompanhamento prolongado dos doentes em um centro de metabolismo16 aumenta a probabilidade de uma evolução assintomática. No entanto, algumas complicações metabólicas podem levar à morte, incluindo convulsões, cardiomiopatias, danos neurológicos permanentes e coma8.
Veja também sobre "Perda involuntária27 de urina1 em mulheres", "Obstrução das vias urinárias" e "Cores da urina1 e suas relações com doenças e medicamentos".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Heidelberg University Hospital e da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.