Exame de urina: elementos e sedimentos anormais (EAS)
O que é o exame de elementos e sedimentos anormais (EAS) da urina1?
O exame de elementos e sedimentos anormais (EAS) da urina1, ou exame de urina2 tipo I, é um exame de rotina e corriqueiro, que procura fazer análise física (cor, aspecto, gravidade específica), análise química (pesquisa de pH, albumina3, glicose4, bilirrubina5, cetona, etc.) e pesquisa de elementos anormais no sedimento da urina1, como eritrócitos6, leucócitos7, cilindros, bactérias, células8 epiteliais, cristais, entre outros.
Como é feito o exame de elementos e sedimentos anormais (EAS) da urina1?
De preferência, deve-se colher a primeira urina1 da manhã, em recipiente estéril, em geral fornecido pelo laboratório que procederá a análise. Comumente é usada a primeira urina1 da manhã, mas isso não é obrigatório e a urina1 pode ser coletada em qualquer período do dia. A urina1 deve ser levada ao laboratório dentro de uma hora após ser coletada e se isso não for possível deve ser mantida sob refrigeração, pelo prazo máximo de seis horas. O primeiro jato deve ser desprezado e serve para eliminar as impurezas que possam estar na uretra9. Colhe-se o jato médio (40-50 ml de urina1), desprezando-se também o jato final. Os homens devem lavar e secar previamente o pênis10, com gaze estéril ou toalha bem limpa, retrair inteiramente o prepúcio11 e urinar sem contato com a urina1. As mulheres devem lavar a região genital de frente para trás, enxaguar e secar, também usando gaze estéril ou toalha limpa e, ao urinar, manter os grandes lábios da vagina12 afastados, de modo que a urina1 seja colhida sem contato com o corpo. As crianças devem colher a urina1 no laboratório, sempre que possível, e com cuidados especiais de assepsia13. Mesmo em adultos, o ideal é colher a urina1 no próprio laboratório, pois quanto mais fresca estiver a amostra, mais confiáveis serão seus resultados.
No laboratório o exame é feito por partes. O médico examinará macroscopicamente o aspecto físico da urina1 (coloração, presença de sedimentos, odor, etc.) e em seguida submeterá a urina1 a reações químicas, observando algumas gotas ao microscópio. Por meio desses recursos, o laboratorista detecta a presença e a quantidade de vários componentes da urina1.
Por que fazer a pesquisa de elementos e sedimentos anormais (EAS) na urina1?
O exame de EAS fornece informações úteis no diagnóstico14 e seguimento de várias doenças renais e extrarrenais, e dá uma visão15 do trato genitourinário como um todo. Trata-se de um exame simples e indolor, obtido de uma amostra de urina1 colhida de forma não-invasiva, de baixo custo e facilmente accessível. Tudo isso faz do EAS um exame muito solicitado. A presença de glicose4 na amostra de urina1 pode sugerir diabetes16 ou alguma lesão17 tubular. A proteinúria18, se moderada, indica disfunção tubular ou lesão17 glomerular, quando é mais elevada. Em doenças renais, a pesquisa de elementos anormais (leucócitos7, eritrócitos6, bactérias, etc.) tem papel fundamental na detecção e acompanhamento das doenças. A hematúria19, correspondente ao aumento do número de eritrócitos6 na urina1, permite estudar a morfologia dos eritrócitos6, de grande interesse no diagnóstico14 e avaliação de muitas enfermidades. Os cilindros que podem aparecer na urina1 são precipitados proteicos moldados na luz do túbulo renal20 e podem englobar células8, bactérias, hematina e outros elementos e, dessa forma, dão informações sobre o que ocorre nos néfrons21. A presença de leucócitos7 é um indicador de inflamação22 ou infecção23 no trajeto da urina1. Se a urocultura, que normalmente é solicitada a seguir, der resultado negativo, a presença de leucócitos7 pode ser manifestação de infecção23 por clamídia, tuberculose24 do trato urinário25, cálculo26 urinário, nefrite27 túbulo-intersticial28, processos inflamatórios pélvicos29, etc. A presença de um grande número de bactérias, se não for devido à contaminação, indica a possibilidade de infecção23. Se as células8 epiteliais estiverem presentes em grande número na urina1, deve-se proceder à análise citológica do sedimento urinário, em amostra especificamente colhida para este fim. O exame de EAS apresenta muitos falsos positivos e falsos negativos e, por isso, não dá para se fechar qualquer diagnóstico14 apenas com os resultados desse exame. Outros exames confirmatórios mais complexos devem ser empreendidos.
Qual o significado clínico dos exames de elementos e sedimentos anormais (EAS) da urina1?
Os valores de referência, considerados normais, são:
- Densidade da urina1: os valores normais variam de 1005 a 1035, considerando-se a densidade da água pura igual a 1000. Quanto mais próxima de 1005, mais clara é a aparência da urina1 e quanto mais próxima de 1035, mais amarelada e com odor mais forte. Uma densidade baixa ocorre quando há uso excessivo de líquidos por via intravenosa, insuficiência renal30 crônica, hipotermia31, aumento da pressão intracraniana e hipertensão arterial32. Uma densidade alta sugere desidratação33, diarreia34, vômitos35, febre36, diabetes mellitus37, glomerulonefrite38, insuficiência cardíaca congestiva39, etc.
- pH da urina1: o pH normal da urina1 varia entre 5,5 e 7,0; sendo a urina1 mais ácida quanto menor o valor do seu pH e mais alcalina quanto maior for esse valor. A acidez da urina1 pode ser útil no tratamento das infecções40 do trato urinário25, pois os micro-organismos geralmente não se multiplicam em meio ácido. O pH da urina1 revela a capacidade ou incapacidade dos rins41 de secretar ou reabsorver ácidos ou bases. Valores altos podem indicar presença de cálculos renais e infecção23 das vias urinárias. Valores baixos indicam perda de potássio, dieta rica em proteínas42, infecção23 das vias urinárias, diarreias severas ou o uso de anestésicos.
- Glicose4 na urina1: normalmente a urina1 não mostra presença de glicose4 e a ocorrência dela pode significar que os níveis sanguíneos também estão altos, seja pela presença de diabetes16, seja por uma doença dos túbulos renais.
- Proteínas42 na urina1: em situações normais, as proteínas42 só estão presentes em muito pequenas quantidades, que nem costumam ser detectadas. Ela ocorre em diversas doenças renais e no diabetes mellitus37.
- Hemácias43 na urina1 (sangue44 na urina1): em condições normais a quantidade de hemácias43 na urina1 é desprezível. Os valores normais da presença de hemácias43 são menores que 3 a 5 hemácias43 por campo do microscópico45, ou menos que 10.000 células8 por mililitro. Uma quantidade maior de hemácias43 está presente nas hemorragias46 urinárias (infecções40, cálculo26 renal20, tumores, etc.). A mulher menstruada pode apresentar hemácias43 na urina1 por contaminação durante a coleta.
- Leucócitos7 na urina1 (pus47 na urina1): a presença de leucócitos7 na urina1 costuma indicar que há alguma inflamação22 nas vias urinárias, mas eles podem estar presentes em várias outras situações.
- Corpos cetônicos na urina1: normalmente a produção de cetonas é muito baixa e estas não estão presentes na urina1. Corpos cetônicos estão presentes em pacientes diabéticos ou em casos de jejum prolongado.
- Urobilinogênio e bilirrubina5 na urina1: também normalmente ausentes na urina1. Valores altos de bilirrubina5 sugerem doenças hepáticas48, biliares ou neoplasias49. Os recém-nascidos podem apresentar uma alta fisiológica50 de bilirrubina5. Um urobilinogênio alto indica doenças no fígado51, distúrbios hemolíticos ou porfirinúria.
- Nitritos na urina1: a presença de certas bactérias na urina1 pode ser constatada pela transformação de nitratos em nitritos.
- Cristais na urina1: a presença de cristais na urina1, principalmente de oxalato de cálcio, fosfato de cálcio ou uratos amorfos, não tem nenhuma importância clínica. Outros, como cristais de cristina, magnésio, tirosina52, bilirrubina5, colesterol53 e ácido úrico costumam ter relevância clínica.
- Células8 epiteliais e cilindros na urina1: qualquer presença de células8 epiteliais na urina1 é anormal, mas elas só têm significado clínico quando se agrupam em forma de cilindros.
- Muco na urina1: a constatação da presença de muco na urina1 tem pouquíssima utilidade clínica.
- Ácido ascórbico (vitamina54 C) na urina1: a presença de ácido ascórbico na urina1 pode alterar os resultados de detecção de hemoglobina55, glicose4, nitritos, bilirrubina5 e cetonas.
A cor da urina1 normalmente é amarela clara, límpida. A turvação da urina1 pode indicar infecção23. A presença de sangue44 na urina1 dá a ela uma cor laranja avermelhada. É um sinal56 de doença dos rins41 e do trato urinário25 que pode ser grave. Alguns medicamentos podem conferir à urina1 coloração verde, azul ou laranja escura.
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas em parte dos sites da Cleveland Clinic e do U. S. National Institute of Health.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.