Fumo e gestação - isso tem consequências negativas!
O problema do fumo na gestação
O tabagismo durante a gestação tem implicações que vão além dos prejuízos à saúde1 materna. Os malefícios sobre a saúde1 fetal são tantos que justificam dizer que o feto2 é um verdadeiro fumante ativo. Alguns números dão a dimensão do problema: 20% de fetos nascem com baixo peso, 8% dos partos se tornam prematuros e o fumo representa 5% de todas as mortes perinatais.
Além disso, o tabagismo na gestação pode contribuir para a síndrome3 da morte súbita do bebê, além de causar importantes alterações no desenvolvimento do sistema nervoso4 do feto2 em gestação.
Leia sobre "Tabagismo", "Teste de gravidez5", "Protocolo de recomendação de ganho de peso durante a gestação" e "Pré-natal".
Como atuam na gestação os componentes tóxicos do fumo?
Os efeitos do fumar sobre a gestação parecem ser principalmente, mas não somente, secundários à neurotoxicidade da nicotina. A nicotina causa vasoconstrição6 dos vasos do útero7 e da placenta, reduzindo o fluxo sanguíneo que chega ao bebê através dela, produzindo uma insuficiência8 placentária relativa. Esse tem sido indicado como o principal fator responsável pelo retardo do crescimento fetal nas gestantes fumantes. A exposição do feto2 e do recém-nascido à nicotina tem sido relacionada também a alterações da cognição9 e do desenvolvimento psicomotor10 e sexual no jovem. Na gestante, a nicotina provoca alterações súbitas e momentâneas no aparelho cardiovascular11, com elevação da frequência cardíaca e das pressões arteriais sistólica e diastólica. Além disso, os danos biológicos celulares e moleculares provocados pelo monóxido de carbono12 e por outras toxinas13 também têm forte interferência no mau desenvolvimento do feto2 em gestação.
Também é muito importante a ação do monóxido de carbono12 (CO). O CO é um gás venenoso produzido pela combustão incompleta de matéria orgânica. Embora existam outras fontes de exposição ao CO, nada se compara ao tabagismo ativo. O CO liga-se à hemoglobina14 materna e fetal no sítio onde deveria se ligar o oxigênio, com afinidade 200 vezes maior que este, resultando em níveis de carboxihemoglobina (COHb) mais elevados na circulação15 fetal. As altas concentrações de COHb provocam hipóxia16 nos tecidos, estimulando a eritropoiese17 e causando uma elevação do hematócrito18 da gestante fumante e de seu feto2.
Nas gestantes fumantes há uma redução de 50% na concentração de ácido ascórbico no líquido amniótico19 em comparação com as gestantes não-fumantes, o que pode causar uma ruptura prematura das membranas e abortamento20 do feto2. A vitamina21 C está diminuída nas gestantes fumantes. Além de ter papel essencial nas defesas imunológicas, ela é imprescindível na formação do colágeno22 que compõe a membrana amniocoriônica. O transporte de aminoácidos pela placenta também está reduzido nas fumantes, o que interfere na síntese proteica e contribui para o mau desenvolvimento da membrana amniocoriônica.
Há ainda mais... a redução da síntese placentária de óxido nítrico, um potente relaxante do miométrio23, é um fator responsável pelo aumento de abortamentos em fumantes; o tabagismo libera a ativação do fator ativador das plaquetas24 envolvido no início e na manutenção do trabalho de parto, através da síntese de prostaglandinas25, e pode, com isso, provocar contração uterina e parto prematuro.
Qual é o substrato fisiológico26 das relações entre o fumo e a gestação?
A manutenção da abstinência de fumar no decorrer da gestação e no pós-parto tem papel fundamental na prevenção de doenças materno-infantis relacionadas ao tabaco. O fumo durante a gravidez5 é reconhecidamente um elemento que eleva o risco de anomalias no feto2, na gestação, no parto, além do risco de morte súbita do bebê. Uma das hipóteses para explicar essa relação é que a exposição prolongada da medula27 adrenal do feto2 à nicotina leva à perda de sua capacidade de responder reflexamente à hipóxia16. Sendo assim, durante a apneia28 transitória ou obstrução das vias aéreas do recém-nato, não haveria liberação de catecolaminas para redistribuição do fluxo sanguíneo para o cérebro29 e coração30 e para a manutenção da frequência cardíaca durante a hipóxia16.
A exposição fetal aos compostos do tabaco compromete também o crescimento dos pulmões31 e leva à redução das pequenas vias aéreas, implicando em alterações funcionais respiratórias na infância, que persistem ao longo da vida. O desenvolvimento pulmonar modificado pode estar associado ao aumento do risco futuro de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), câncer32 de pulmão33 e doenças cardiovasculares34.
Por seu turno, o CO altera a curva de dissociação da oxihemoglobina, prejudicando a oxigenação dos tecidos e essa hipóxia16 celular crônica é um dos fatores que podem explicar o retardo do crescimento fetal. No sistema nervoso4 do feto2, o CO tem ação de uma potente toxina35, e pode causar lesões36 neurológicas temporárias e/ou permanentes. No sistema cardiovascular37, provoca elevação da frequência cardíaca e hipertrofia38 miocárdica.
O tabagismo também leva ao comprometimento do sistema imunológico39, com diminuição da capacidade fagocitária dos macrófagos40 e alteração dos níveis de imunoglobulina41 nas mucosas42. Isto pode explicar por que as gestantes fumantes têm maior risco de abortamento20. A ruptura prematura das membranas seria subsequente a rupturas focais, por sua vez secundárias a infecções43 locais facilitadas pela toxicidade44 do fumo.
Como parar de fumar?
Parar de fumar não é tarefa fácil, sobretudo para aquelas mães que fumam há muito tempo. Mas o amor de mãe costuma ser um estímulo mais forte que o vício. Essa parada na gestação é uma boa oportunidade para parar em definitivo. Os efeitos deletérios do fumo sobre o feto2 ocorrem principalmente nos primeiros meses da gestação. Quanto mais precocemente a gestante para de fumar, melhor. No entanto, nunca é tarde para fazer uma boa mudança.
Algumas dicas para quem deseja parar de fumar:
- Encontre a maneira de parar que pareça mais fácil: parar de repente pode ser duro no começo, mas o período de abstinência pode ser curto e depois a pessoa experimentará tantos benefícios que talvez lamente “não ter parado antes”; ou parar aos poucos, reduzindo gradativamente o número de cigarros fumados a cada dia, aumentando a quantidade de tempo entre um cigarro e o outro ou tentando não tragar a fumaça.
- Sem se importar com o método escolhido, defina uma data para parar de fumar totalmente. Seja persistente.
- Estabeleça na sua casa a lei de sempre fumar em ambientes externos.
- Faça parte de um grupo de ajuda para parar de fumar.
Veja também sobre "Morte súbita do lactente45", "Aborto - o que deve ser feito quando ele ocorre" e "Fumante passivo".
Referências:
Referências: As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic, do INCA – Instituto Nacional de Câncer e do Jornal de Pneumologia.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.