Covid-19, gravidez e amamentação
Todas as afirmações feitas no momento sobre aspectos particulares da Covid-19 devem ser tomadas como impressões iniciais. No entanto, muitas delas são alicerçadas em observações médicas responsáveis e, embora não tenham o rigor de uma pesquisa oficial, devem servir para orientação das pessoas num momento de inseguranças como este.
Tanto a Mayo Clinic como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, apontam que as mulheres grávidas pertencem ao grupo de risco1 para a Covid-19. De acordo com os pesquisadores, embora ainda não existam estudos definitivos sobre o tema, os resultados apontam a necessidade de protocolos de tratamento específicos para grávidas infectadas pelo novo coronavírus.
Como contraponto, um estudo realizado em hospitais do Reino Unido concluiu que gestantes não são mais vulneráveis a complicações graves da covid-19 do que outras mulheres. Já os pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que, embora as gestantes não sejam mais vulneráveis a complicações graves, a maioria das que ficaram gravemente doentes estava no terceiro trimestre da gravidez2.
Quais são as relações conhecidas até o momento entre covid-19 e gravidez2?
Alguns estudos apontam que grávidas são um grupo de risco1 para a Covid-19. Não porque elas se infectem mais que a população geral, mas sim porque têm mais riscos de complicações caso adoeçam. Por um lado, a probabilidade de que a Covid-19 se agrave é baixa porque se trata de mulheres jovens, mas as gestantes estarão em maiores riscos que as não grávidas da mesma idade se tiverem de ser levadas a uma UTI ou se precisarem de ventilação3 mecânica (duas vezes mais frequentemente que outras mulheres da mesma idade), podendo inclusive estar em maior risco de morte (70% a mais que as não grávidas).
Entre as grávidas, esses riscos se agravam com a idade: as mulheres grávidas de 35 a 44 anos com Covid-19 parecem ter mais probabilidades de precisar de ventilação3 invasiva e morrer que as não gestantes da mesma idade.
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Por que a gravidez2 aumenta os riscos da covid-19?
A explicação para esse aumento parece estar nas mudanças fisiológicas4 que a mulher sofre durante a gravidez2. O sistema imunológico5 de uma grávida sofre mudanças para não rejeitar o feto6 como um corpo estranho. Não é que a grávida esteja imunodeprimida, mas pode haver mudanças imunológicas que influenciam numa maior reação inflamatória à Covid-19.
Com a gravidez2, o útero7 vai tomando mais espaço e em razão disso os pulmões8 reduzem sua capacidade de expansão. O esforço para respirar é maior, e a capacidade pulmonar, menor. Por outro lado, o trabalho cardíaco é maior, sobretudo no último trimestre da gravidez2, e há menos oxigênio para todos os órgãos vitais.
As grávidas normalmente já têm um risco aumentado de trombose9, que fica ainda maior no caso de Covid-19, que tem a tendência própria de provocar tromboembolismos. Além disso, o vírus10 entra nas células11 através do receptor da enzima12 conversora de angiotensina, que é aumentada durante a gravidez2 normal. Todas essas alterações não são muito diferentes das que ocorrem com outras infecções13 respiratórias virais nas grávidas, porém geralmente são mais graves na Covid-19.
Há relatos bastante confiáveis de que os bebês14 de mulheres que tiveram Covid-19 durante a gravidez2 nascem com anticorpos15 para o vírus10, transmitidos por suas mães. Há também relatos de presença de anticorpos15 semelhantes mesmo em bebês14 de mães que não tiveram a doença, mas que receberam a vacina16 (da Moderna) enquanto estavam grávidas.
O que sabemos até o momento sobre a relação entre covid-19 e amamentação17?
Segundo as informações disponíveis até o momento, não existe relato nem comprovação de transmissão do coronavírus pelo leite materno. A OMS recomenda que as mães com Covid-19 sejam encorajadas a amamentar, já que os benefícios da amamentação17 superam substancialmente os riscos potenciais de transmissão da doença. Também o Ministério da Saúde18 do Brasil e a Sociedade Brasileira de Pediatria aconselham manter o aleitamento materno19.
A presença de IgA no leite materno é uma das maneiras pelas quais a amamentação17 protege os bebês14 contra infecções13 e mortes em geral. Os anticorpos15 IgA com reatividade ao vírus10 da Covid-19 foram detectados no leite materno de mães previamente infectadas, embora sua força e durabilidade ainda não tenham sido adequadamente estudadas.
Os riscos da transmissão interpessoal mãe/bebê são mínimas, especialmente se forem observados os cuidados preventivos habitualmente recomendados. Deve ser permitido à mãe e ao bebê permanecerem juntos, num mesmo alojamento, tanto durante o dia como à noite, e manter o contato pele20 a pele20, incluindo cuidados com a mãe canguru, em que o bebê prematuro é colocado em contato pele20 a pele20 com sua mãe, especialmente imediatamente após o nascimento.
A orientação atual da OMS é que as mulheres com Covid-19 podem e devem amamentar e segurar seus bebês14, porque o contato próximo e a amamentação17 ajudam-no a se desenvolver, mas devem tomar precauções de fazer a higiene respiratória durante a alimentação, incluindo o uso de máscara médica, lavar as mãos21 com água e sabão por 20 segundos antes e depois de tocar no bebê e limpar e desinfetar rotineiramente as superfícies em que tenham tocado.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do CDC - Centers for Disease Control and Prevention e da WHO - World Health Organization
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.