Disruptores endócrinos
O que são disruptores endócrinos?
Os disruptores endócrinos são uma gama de substâncias químicas xenobióticas (estranhas ao organismo) que interferem na regulação e sintonia do sistema hormonal, alterando a forma natural de comunicação intra sistema e causando distúrbios na vida normal e na saúde1 humana.
Os disruptores são substâncias naturais ou sintéticas, muitas delas contidas em compostos fungicidas, pesticidas e inseticidas, que apresentam ação antiandrogênica e antiestrogênica. Alguns desses compostos podem manter suas propriedades químicas na natureza por longos anos contaminando o ar, as águas e o solo e sendo acumulados nas plantas, nos animais e no homem.
Muitas dessas substâncias são, potencialmente, danosas para a saúde1 por serem de difícil excreção, podendo se acumular no organismo e causar alterações em todos os sistemas, em especial no sistema endócrino2. Esses produtos químicos criam problemas de desenvolvimento, reprodutivos, cerebrais, imunológicos e outros.
Leia sobre "Avaliação da tireoide3", "Modulação hormonal" e "Conheça o sistema imunológico4".
Como agem os disruptores endócrinos?
Costuma-se dizer que o sistema endócrino2 normal funciona como uma orquestra regida pela hipófise5 e que seu funcionamento harmônico é essencial para a saúde1 humana integral. Os disruptores endócrinos são substâncias químicas que desregulam o sistema endócrino2 (e outros sistemas) e causam efeitos adversos nitidamente reconhecidos em animais.
Ainda existem poucas informações científicas sobre a maneira como atuam na espécie humana, mas há observações relevantes sobre potenciais problemas de saúde1 das pessoas. Uma hipótese é que eles atuem no organismo humano por meio da imitação dos hormônios naturais e, dessa forma, produzam um bloqueio da ação hormonal natural e uma alteração dos níveis de hormônios endógenos.
Também se pensa que a ação deles possa estar relacionada com alterações de enzimas que participam do mecanismo de síntese dos hormônios. Ainda outras alterações possíveis são aquelas relativas à diminuição das concentrações tissulares de determinados elementos como o fósforo e o magnésio, entre outros, os quais estão envolvidos na síntese e ação dos hormônios.
Ademais, os disruptores endócrinos podem ocupar o sítio (local) de ligação dos receptores dos hormônios sexuais, comprometendo assim a ação deles e levando à diminuição das concentrações séricas e teciduais da testosterona e dos estrogênios, comprometendo também a função do eixo hipotálamo6-hipofisário.
Apesar de existirem na natureza muitas substâncias similares aos disruptores endócrinos, os artificiais representam um perigo muito maior, já que eles persistem no corpo durante anos, enquanto os naturais podem ser eliminados em poucos dias. Assim, muitos dos compostos artificiais resistem à excreção do organismo, submetendo animais e humanos a uma contaminação que, embora de baixo nível, é de longa duração.
Quais são e onde são encontrados os principais disruptores endócrinos?
Os disruptores endócrinos são encontrados em muitos produtos que fazem parte do dia a dia das pessoas, incluindo algumas garrafas e recipientes de plástico, revestimentos de latas de alimentos de metal, detergentes, retardadores de chamas, alimentos, brinquedos, cosméticos e pesticidas. Alguns desses produtos se decompõem no ambiente muito lentamente e isso os torna potencialmente ainda mais perigosos.
Os principais disruptores endócrinos são, entre outros:
- O PBDE é um retardante de chamas, que evita que os equipamentos eletrônicos peguem fogo. É encontrado em eletrônicos como celulares, televisão, videogames, etc. Pode causar distúrbios na tireoide3, infertilidade7 feminina e problemas neurológicos em crianças.
- As dioxinas são encontradas em pesticidas como o DDT e no branqueamento químico do papel. Podem causar infertilidade7, aborto, diabetes8, endometriose9 e déficits imunológicos.
- A atrazina é encontrada em herbicida para as plantações de milho e cana-de-açúcar10. Pode causar infertilidade7 e câncer11.
- O chumbo é classicamente encontrado em tintas, cigarro e água encanada. Pode causar distúrbios da tireoide3 e outros.
- O bisfenol A é encontrado em alguns tipos de plástico e no revestimento de enlatados. Pode causar produção de espermatozoides12 defeituosos, puberdade precoce, câncer11, obesidade13, diabetes8 e doenças cardiovasculares14.
- O perclorato é encontrado em combustível de foguetes espaciais e fogos de artifício. Pode causar distúrbios na tireoide3.
- O arsênico é encontrado em pesticidas, alimentos e água encanada. Pode causar câncer11 de pele15, bexiga16 e pulmões17 e alterações sexuais.
- O mercúrio é encontrado em peixes, frutos do mar e usinas de energia movidas a carvão. Pode causar redução do QI18 de crianças e problemas no ciclo menstrual e no pâncreas19.
- O ftalato é encontrado em cosméticos, pavimentação de ruas, cortinas de chuveiro, couro sintético e vinil. Pode provocar anormalidades genitais e interferência em hormônios como testosterona e estrogênio e no desenvolvimento das mamas20.
- Os produtos químicos perfluorados são encontrados em panelas antiaderentes, roupas, carpetes e capas de chuva. Podem causar distúrbios na tireoide3 e infertilidade7.
- Os compostos organofosforados são encontrados em inseticidas. Podem causar déficit de testosterona e problemas na gestação (pré-eclâmpsia21 e aborto).
- O dietilenoglicol é encontrado em produtos de higiene pessoal e solventes industriais. Pode causar redução na movimentação dos espermatozoides12.
Veja mais sobre "Infertilidade7 feminina", "Infertilidade7 masculina" e "Diferenças entre infertilidade7 e esterilidade22".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria e da Abeso - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.