Modulação hormonal - ela deve ser feita?
O que vem a ser modulação hormonal?
Por modulação hormonal entende-se o uso de hormônios bioidênticos (iguais aos produzidos naturalmente pelo corpo), aminoácidos, vitaminas e antioxidantes, com o objetivo de que o corpo, mesmo de indivíduos mais velhos, atinja o “mesmo padrão” da juventude plena aos 18-21 anos. Sabe-se que os hormônios estão intimamente relacionados ao processo do envelhecimento. Alguns pensam que as taxas de hormônios caem porque se envelhece, mas outros dizem que, ao contrário, se envelhece porque as taxas de hormônios caem.
A produção de hormônios atinge seu máximo por volta dos 30 anos de idade e começa a cair daí em diante, no entanto, os hormônios são essenciais para a saúde1, beleza, bem-estar, vitalidade, disposição, cognição2, memória, desejo sexual, temperatura corporal, etc. Em vez de aguardar passivamente pela queda hormonal, algumas pessoas passam a atuar de forma preventiva para que os hormônios funcionem a pleno vapor durante toda a vida.
A ideia da modulação hormonal teve seu início na década de 80. Ela visa, supostamente, continuar mantendo as taxas “ótimas” dos hormônios e garantir a máxima performance do corpo, garantindo um “envelhecimento saudável”. Muitas vezes, o tratamento é feito sem o uso de hormônios, com suplementos nutricionais, fitoterápicos, probióticos3, vitaminas e antioxidantes.
Outros efeitos benéficos desse processo seriam ainda o emagrecimento, o ganho de massa muscular, a melhoria do sono e do funcionamento do intestino, o controle do estresse e a excelência da libido4 e da disposição.
Leia sobre "Envelhecimento saudável", "Envelhecimento precoce", "Benefícios dos probióticos3" e "Exercite seu cérebro5 todos os dias".
Posição de algumas entidades médicas com relação à modulação hormonal
Embora alguns médicos apoiem e pratiquem a modulação hormonal, as entidades médicas relacionadas ao assunto não respaldam essa prática. O Conselho Federal de Medicina (CFM), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), além da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e o Conselho Federal de Odontologia (CFO), e outras mais, opinam contra ela.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, a reposição de hormônios ou outros elementos essenciais só deve ser feita em casos de deficiências específicas comprovadas e que tenham benefícios cientificamente comprovados. A utilização desse tratamento só pode ser indicado por médicos e só se justifica mediante a presença de algumas doenças.
A SBEM adverte:
- Não há uma especialidade intitulada “Modulação Hormonal” e, em consequência, não existe “Especialista em Reposição Hormonal”, como às vezes se propala.
- A reposição hormonal, quando justificada, somente deve ser feita por profissionais médicos habilitados.
- A reposição de qualquer hormônio6 deve ser feita com fundamentação na deficiência do mesmo, baseada em exames de sangue7 e com acompanhamento médico.
- Não há respaldo na literatura médica para uso de preparações hormonais com intuito de retardar o envelhecimento.
- O uso indiscriminado de hormônios sem uma deficiência comprovada do mesmo está relacionado a diversos efeitos colaterais8, por vezes sérios e irreversíveis, colocando em risco a vida do paciente ou, no mínimo, gerando complicações a longo prazo.
- Não há indicação nem benefícios no uso de dosagens indiscriminadas de testosterona na população masculina. A testosterona só é necessária na presença de sintomas9 clínicos e de deficiência laboratorial constatada.
- Não há indicação da dosagem de testosterona na mulher, nem há preparações de testosterona para mulheres disponíveis no mercado brasileiro.
- O uso da reposição de testosterona para níveis acima das necessidades básicas do organismo humano, com objetivo de melhora de rendimento esportivo e aumento de massa muscular, é considerado doping em atletas profissionais.
Segundo a SBOC, “a reposição de testosterona não tem ação significativa contra tumores, pode ter efeito deletério sobre o paciente em tratamento oncológico e, em alguns casos, tem mesmo a capacidade de acelerar a progressão do câncer10 e de aumentar o risco de morte”.
A FEBRASGO afirma que as práticas denominadas “modulação hormonal” carecem de evidências científicas. Também esclarece que essas práticas antienvelhecimento proibidas não devem ser confundidas com o tratamento hormonal para o climatério11, que, desde que respeitadas suas contraindicações, continua sendo o tratamento de escolha para os sintomas9 da menopausa12. A eficácia e segurança deste tratamento da menopausa12 são conhecidas e aceitas pela comunidade científica e pelas sociedades para a especialidade em todo o mundo.
Veja também sobre "Quando a perda de memória não é normal", "Climatério11 e menopausa12", "Deficiência da vitamina13 D" e "Terapia de Reposição Hormonal".
Referências:
Algumas informações veiculadas neste texto foram extraídas em parte do site da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - SBEM, em parte do site da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO e, em parte, do site Oncoguia – da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – SBOC.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.