Gostou do artigo? Compartilhe!

Síndrome de deficiência poliglandular

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é a síndrome1 de deficiência poliglandular?

A síndrome1 de deficiência poliglandular, ou síndrome1 poliglandular autoimune2, é um distúrbio raro do sistema imunológico3 em que o corpo ataca e danifica simultaneamente ou em sequência os tecidos saudáveis de várias glândulas endócrinas4 e outros tecidos não endócrinos. Isso pode levar à disfunção ou falha concomitante da tireoide5, glândula6 adrenal, pâncreas7, glândulas8 sexuais e outras, com repercussões sintomáticas variadas.

Quais são os tipos existentes da síndrome1 de deficiência poliglandular?

Costuma-se descrever três tipos de falha autoimune2 constituintes da síndrome1 de deficiência poliglandular. O tipo 1 ocorre em cerca de 1 por 100.000 pessoas e a prevalência9 do tipo 2 é de cerca de 1 por 1.000 pessoas. Alguns especialistas combinam o tipo 2 e o tipo 3 em um único grupo. Esses tipos diferem entre si nos seus componentes clínicos e nas características imunológicas da sua patogenia.

A deficiência poliglandular tipo 1 é causada por mutações no gene AIRE e é herdada em um padrão autossômico10 recessivo. Geralmente começa na infância e, se não compensada, perdura durante a vida adulta. É, pois, uma síndrome1 pediátrica, que se caracteriza por uma poliendocrinopatia, candidíase11 e distrofia12 ectodérmica.

Conta com pelo menos duas das seguintes ocorrências: candidíase11 mucocutânea crônica, hipoparatireoidismo ou insuficiência13 adrenal (doença de Addison). A candidíase11 costuma ser a manifestação clínica inicial e ocorre com mais frequência em crianças menores que 5 anos de idade. O hipoparatireoidismo ocorre em seguida, geralmente em pacientes com menos de 10 anos. Por fim, a insuficiência13 adrenal ocorre em pacientes menores de 15 anos. Os distúrbios endócrinos e não endócrinos aparecem associadamente.

A deficiência poliglandular tipo 2, também conhecida como síndrome1 de Schmidt, ocorre em adultos, com pico de incidência14 por volta dos 30 anos. É três vezes mais frequente em mulheres que em homens. Está associada a certos genótipos de antígeno15 leucocitário humano (HLA) e exibe herança poligênica.

Costuma se manifestar com o seguinte cortejo clínico: insuficiência13 adrenal, hipo ou hipertireoidismo16 e diabetes mellitus17 tipo 1. Outras características mais raras também podem estar presentes.

A deficiência poliglandular tipo 3 ocorre em adultos, principalmente em mulheres de meia-idade. Também está associada a certos genótipos HLA e exibe herança poligênica. É caracterizada por hipotireoidismo18 e pelo menos um de uma variedade de outros distúrbios endócrinos, mas não envolve o córtex adrenal.

Leia sobre "Hiperparatireoidismo", "Hipertireoidismo16" e "Hipotireoidismo18".

Quais são as causas da síndrome1 de deficiência poliglandular?

A etiologia19 da síndrome1 de deficiência poliglandular geralmente é autoimune2. Cada tipo da deficiência poliglandular tem uma causa genética específica. Os fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome1 são:

  1. Fatores genéticos, que incluem mutação20 do gene AIRE e certos subtipos do antígeno15 leucocitário humano (HLA).
  2. Gatilhos ambientais, incluindo infecções21 virais, fatores dietéticos e outros riscos ainda desconhecidos.
  3. Certos fármacos que são usados para tratar alguns tipos de câncer22.

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de deficiência poliglandular?

A reação autoimune2 subjacente causa inflamação23, infiltração linfocitária e destruição parcial ou completa da(s) glândula6(s) afetada(s). A reação autoimune2 e a disfunção associada do sistema imunitário24 também podem lesar tecidos não endócrinos.

Na síndrome1 de deficiência poliglandular, o sistema imune25 ataca, por engano, vários órgãos e tecidos do corpo. As membranas mucosas26 e as glândulas8 adrenais e paratireoides são frequentemente afetadas.

Quais são as características clínicas da síndrome1 de deficiência poliglandular?

Mais de uma glândula6 endócrina é envolvida ao mesmo tempo ou sucessivamente, embora as manifestações clínicas nem sempre sejam simultâneas. A síndrome1 pode ocorrer em qualquer idade e afeta tanto homens quanto mulheres. Os sintomas27 podem variar dependendo das glândulas8 afetadas, mas podem incluir:

  • fadiga28;
  • tontura29;
  • perda ou ganho de peso;
  • fraqueza muscular;
  • alterações de humor;
  • intolerância ao frio ou calor;
  • aumento da sede ou da micção30;
  • entre outros.

Como o médico diagnostica a síndrome1 de deficiência poliglandular?

A suspeita da síndrome1 de deficiência poliglandular é feita a partir de sintomas27 de deficiência de algum ou alguns hormônios. O diagnóstico31 de certeza é confirmado pela apuração dos níveis deficientes deles no sangue32. O médico também pode medir os anticorpos33 específicos para detectar a reação autoimune2 que esteja afetando as glândulas8.

Como outras glândulas8, além das inicialmente comprometidas, podem começar sua disfunção mais tarde, testes de sangue32 devem ser feitos a intervalos regulares para assegurar que uma nova deficiência seja identificada e tratada o mais cedo possível. Como essa síndrome1 é herdada, testes genéticos devem ser feitos em parentes das pessoas afetadas.

Como o médico trata a síndrome1 de deficiência poliglandular?

O tratamento depende dos sintomas27 e da gravidade da doença, e pode incluir terapia hormonal, medicamentos imunossupressores e/ou cirurgia. Basicamente, a terapia hormonal consiste na suplementação34 dos hormônios deficientes. O tratamento correto de reposição de múltiplos hormônios é, contudo, muito mais difícil do que a reposição de um único hormônio35. O acompanhamento médico regular é importante para controlar a doença e evitar complicações.

Como evolui a síndrome1 de deficiência poliglandular?

A doença impede as glândulas8 afetadas de produzir os hormônios necessários para a regulação das funções do corpo. Se não tratada, a doença representa uma ameaça à vida, embora se bem controlada ela pode permitir uma existência relativamente normal. Por isso, a doença exige um monitoramento médico regular.

Saiba mais sobre "Hemocromatose36", "Amiloidose37" e "Doenças autoimunes38".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Encyclopedia Britannica e do Science Direct.

ABCMED, 2023. Síndrome de deficiência poliglandular. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1435475/sindrome-de-deficiencia-poliglandular.htm>. Acesso em: 20 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Autoimune: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
3 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
4 Glândulas endócrinas: Grupo de células especializadas em liberar hormônios na corrente sangüínea. Por exemplo, as células das ilhotas pancreáticas que secretam insulina são glândulas endócrinas.
5 Tireoide: Glândula endócrina altamente vascularizada, constituída por dois lobos (um em cada lado da TRAQUÉIA) unidos por um feixe de tecido delgado. Secreta os HORMÔNIOS TIREOIDIANOS (produzidos pelas células foliculares) e CALCITONINA (produzida pelas células para-foliculares), que regulam o metabolismo e o nível de CÁLCIO no sangue, respectivamente.
6 Glândula: Estrutura do organismo especializada na produção de substâncias que podem ser lançadas na corrente sangüínea (glândulas endócrinas) ou em uma superfície mucosa ou cutânea (glândulas exócrinas). A saliva, o suor, o muco, são exemplos de produtos de glândulas exócrinas. Os hormônios da tireóide, a insulina e os estrógenos são de secreção endócrina.
7 Pâncreas: Órgão nodular (no ABDOME) que abriga GLÂNDULAS ENDÓCRINAS e GLÂNDULAS EXÓCRINAS. A pequena porção endócrina é composta pelas ILHOTAS DE LANGERHANS, que secretam vários hormônios na corrente sangüínea. A grande porção exócrina (PÂNCREAS EXÓCRINO) é uma glândula acinar composta, que secreta várias enzimas digestivas no sistema de ductos pancreáticos (que desemboca no DUODENO).
8 Glândulas: Grupo de células que secreta substâncias. As glândulas endócrinas secretam hormônios e as glândulas exócrinas secretam saliva, enzimas e água.
9 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
10 Autossômico: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
11 Candidíase: É o nome da infecção produzida pela Candida albicans, um fungo que produz doença em mucosas, na pele ou em órgãos profundos (candidíase sistêmica).As infecções profundas podem ser mais freqüentes em pessoas com deficiência no sistema imunológico (pacientes com câncer, SIDA, etc.).
12 Distrofia: 1. Acúmulo de grande quantidade de matéria orgânica, mas poucos nutrientes, em corpos de água, como brejos e pântanos. 2. Na medicina, é qualquer problema de nutrição e o estado de saúde daí decorrente.
13 Insuficiência: Incapacidade de um órgão ou sistema para realizar adequadamente suas funções.Manifesta-se de diferentes formas segundo o órgão comprometido. Exemplos: insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória.
14 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
15 Antígeno: 1. Partícula ou molécula capaz de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo.
16 Hipertireoidismo: Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma produção destes nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda de peso, hiperatividade, exoftalmia.
17 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
18 Hipotireoidismo: Distúrbio caracterizado por uma diminuição da atividade ou concentração dos hormônios tireoidianos. Manifesta-se por engrossamento da voz, aumento de peso, diminuição da atividade, depressão.
19 Etiologia: 1. Ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação das causas e origens de um determinado fenômeno. 2. Estudo das causas das doenças.
20 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
21 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
22 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
23 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
24 Sistema Imunitário: Mecanismo de defesa do corpo contra organismos ou substâncias estranhas e células nativas anormais. Inclui a resposta imune humoral e a resposta mediada por célula e consiste de um complexo de componentes celulares, moleculares e genéticos interrelacionados.
25 Sistema imune: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
26 Mucosas: Tipo de membranas, umidificadas por secreções glandulares, que recobrem cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
27 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
28 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
29 Tontura: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
30 Micção: Emissão natural de urina por esvaziamento da bexiga.
31 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
32 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
33 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
34 Suplementação: Que serve de suplemento para suprir o que falta, que completa ou amplia.
35 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
36 Hemocromatose: Distúrbio metabólico caracterizado pela deposição de ferro nos tecidos em virtude de seu excesso no organismo. Os locais em que o ferro mais se deposite são fígado, pâncreas, coração e hipófise.
37 Amiloidose: Amiloidose constitui um grupo de doenças nas quais certas proteínas, que normalmente seriam solúveis, se depositam extracelularmente nos tecidos na forma de fibrilas insolúveis.
38 Autoimunes: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.