Síndrome de Bartter - clínica, diagnóstico, tratamento e evolução
O que é a síndrome1 de Bartter?
A síndrome1 de Bartter é uma doença hereditária rara caracterizada por um defeito no ramo ascendente espesso da alça de Henle2, na qual os rins3 eliminam eletrólitos4 exacerbadamente, resultando em baixos níveis de potássio no sangue5 (hipocalemia6), aumento do pH sanguíneo (alcalose7) e níveis normais ou baixos de pressão arterial8.
A Síndrome1 de Bartter afeta um indivíduo em cada 830.000 no mundo e foi descrita pela primeira vez no ano de 1962, pelo endocrinologista9 estadunidense Frederic Bartter.
Quais são as causas da síndrome1 de Bartter?
A etiologia10 dessa condição clínica ainda não foi elucidada. O que se conhece sobre ela é que é uma síndrome1 genética hereditária resultante de um tipo de herança autossômica11 recessiva, que acomete igualmente ambos os sexos e sem predileção por etnias, causando uma mudança do canal de cloro, na alça de Henle2, com consequente desregulação dos outros eletrólitos4.
Em virtude dessa alteração genética, há um funcionamento anormal das células12 renais, levando a uma redução no transporte dos eletrólitos4 para reabsorção, em especial do potássio, do cloro e do sódio, o que resulta em uma hipocalemia6 com consequente elevação de renina e aldosterona sanguíneas.
Leia sobre "Distúrbios hidroeletrolíticos" e "Hiperaldosteronismo primário e secundário".
Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de Bartter?
A síndrome1 é causada por mutações nos genes que codificam proteínas13 que transportam íons14 através da alça de Henle2, nos néfrons15. Os íons14 sódio são ativamente transportados através da membrana celular16 e os íons14 cloreto através de difusão. O íon17 potássio, no entanto, é capaz de se difundir de volta para a luz dos túbulos renais. O cálcio e o magnésio são reabsorvidos por mecanismos próprios, mas dependentes da reabsorção de sódio, potássio e cloreto, bem como da abolição de tensão positiva em direção à luz dos túbulos renais.
A alteração em qualquer desses mecanismos é capaz de levar a uma inativação funcional do sistema como um todo e produzir a síndrome1 de Bartter. A perda da reabsorção do sódio prejudica grandemente a capacidade de reabsorção da água, levando a uma diurese18 significativamente aumentada.
Quais são as características clínicas da síndrome1 de Bartter?
As manifestações clínicas podem ocorrer logo após o nascimento, na infância ou até na idade adulta, e dependem, predominantemente, da hipocalemia6. A condição se associa ao retardo no desenvolvimento de estatura e peso e a sintomas19 de fraqueza muscular. A pressão arterial8 geralmente é normal ou baixa. Mais raramente pode ocorrer retardo mental e insuficiência renal20 crônica.
Em geral, os sintomas19 surgem logo na infância e podem ser: desnutrição21, retardo no crescimento, fraqueza muscular, retardo mental, aumento do volume de urina22, muita sede, desidratação23, febre24, diarreia25 ou vômitos26.
Algumas pessoas podem apresentar características físicas sugestivas da doença, como face27 triangular, testa mais saliente, olhos28 grandes e orelhas29 voltadas para frente. Os pacientes com Síndrome1 de Bartter apresentam baixos níveis de potássio, cloro, sódio e cálcio no sangue5, porém não têm alterações nos níveis da pressão arterial8.
Como o médico diagnostica a síndrome1 de Bartter?
A Síndrome1 de Bartter pode ser diagnosticada ainda na fase pré-natal, nos primeiros dias de vida, na infância ou até na adolescência, dependendo da gravidade do quadro clínico. Quanto mais precoce é o diagnóstico30, maior é a gravidade do quadro clínico.
O diagnóstico30 de síndrome1 de Bartter é feito pela exclusão de outras condições que também levam a hipopotassemia31 (hipocalemia6), alcalose7 metabólica e hiperaldosteronismo. A alcalose7 metabólica é a alteração predominante, e as outras anormalidades, à exceção da caliúria (presença de potássio na urina22), nem sempre estão presentes. Para firmar o diagnóstico30, é necessário que a presença de concentrações urinárias de cloreto de sódio seja superior a 20 mmol/l32 na ausência de diuréticos33 ou laxativos34.
Quanto a um diagnóstico30 diferencial, é possível excluir facilmente outros estados assemelhados, visto que estes estão normalmente associados à hipertensão35. No hiperaldosteronismo primário, observam-se no plasma36 aldosterona aumentada e renina diminuída, que não respondem ao estímulo postural, diferenciando-se da síndrome1 de Bartter, que possui aldosterona e renina plasmáticas aumentadas.
A presença de vômitos26 incoercíveis, diarreia25 crônica ou o uso abusivo de diuréticos33 ou de laxativos34 pode causar sintomatologia e alterações laboratoriais indistinguíveis da síndrome1 de Bartter.
Saiba mais sobre "Hipocalemia6 e hipercalemia37", "Insuficiência renal20 crônica" e "Desidratação23" e "Desnutrição21".
Como o médico trata a síndrome1 de Bartter?
O tratamento consiste, basicamente, na correção dos distúrbios eletrolíticos e na administração de inibidores de síntese de prostaglandinas38. É necessária uma dieta com aportes adequados de água, sal e potássio. Além disso, várias medicações têm sido utilizadas na Síndrome1 de Bartter, como a suplementação39 de potássio oral e de indometacina oral.
Existem outras terapêuticas, mas na maioria das vezes os resultados não são satisfatórios ou ainda não foi possível comprovar a sua eficácia e segurança. Um inibidor da renina teoricamente seria a terapêutica40 mais eficaz na Síndrome1 de Bartter.
Como evolui a síndrome1 de Bartter?
Quando o tratamento é instituído precocemente, pode-se atenuar o déficit de crescimento. A evolução para insuficiência renal20 é rara e, normalmente, devida à nefrocalcinose. Apesar de o prognóstico41 ser favorável na maioria dos casos, é uma doença crônica que requer medicação sistemática, o que muitas vezes torna a adesão difícil por parte das crianças e adolescentes.
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da RMMG - Revista Médica de Minas Gerais e da Biblioteca Virtual em Saúde.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.