Doença de McArdle - conceito, diagnóstico, tratamento e prognóstico
O que é doença de McArdle?
A doença de McArdle, também conhecida como glicogenose tipo V, é uma miopatia1 genética rara que afeta o metabolismo2 do glicogênio3. As glicogenoses são doenças hereditárias que afetam o processamento do glicogênio3 tanto no fígado4 como nos músculos5. O glicogênio3 é a forma de armazenamento de glicose6, que é a principal fonte de energia para as células7, e é o responsável por manter a concentração normal de glicose6 nos estados de jejum.
Estima-se que a doença afete uma em cada 100.000 pessoas. Ela foi primeiramente descrita por B. McArdle, em 1951.
Quais são as causas da doença de McArdle?
A doença de McArdle é uma condição hereditária autossômica8 recessiva, o que significa que, para que o indivíduo seja afetado, é necessário que tenha herdado um gene defeituoso de cada um dos pais. Nela, ocorre uma deficiência na enzima9 chamada miofosforilase, que é necessária para a “quebra” do glicogênio3 em glicose6 nas células musculares10. O gene PYGM, responsável pela miofosforilase, está localizado no cromossomo11 11q13.
Podem ocorrer duas formas autossômicas recessivas desta doença: uma tem início na infância e a outra tem início na idade adulta.
Qual é o substrato fisiopatológico da doença de McArdle?
Como resultado da deficiência enzimática específica, as pessoas com essa condição têm dificuldade em liberar a glicose6 armazenada no fígado4 e nos músculos5 durante a atividade física. Além disso, a produção inadequada de glicose6 pode causar níveis elevados de ácido lático no sangue12, levando a sintomas13.
A ausência ou deficiência da miofosforilase leva a uma incapacidade dos músculos5 em liberar glicose6 a partir do glicogênio3 armazenado, resultando em uma oferta insuficiente de glicose6 para o metabolismo2 durante o exercício. Essa falta de glicose6 disponível para os músculos5 leva à utilização de ácidos graxos e outros substratos alternativos como fonte de energia, o que resulta em acúmulo de metabólitos14, como ácido lático.
Quais são as características clínicas da doença de McArdle?
Como resultado da deficiência da miofosforilase, os pacientes frequentemente experimentam fraqueza e/ou fadiga15 muscular durante os exercícios, cãibras, dor e mioglobinúria durante atividade física, causando uma coloração marrom na urina16 e, em casos mais graves, rabdomiólise17.
Alguns pacientes com doença de McArdle experimentam uma melhoria temporária de seus sintomas13 após algum tempo de exercício, devido a dois fatores: (1) aumento do fluxo sanguíneo e (2) capacidade do corpo de encontrar fontes alternativas de energia, como ácidos graxos e proteínas18.
Os sinais19 do início desta doença geralmente são notados ainda na infância, mas muitas vezes ela segue sem ser diagnosticada até a vida adulta. Em razão da baixa tolerância ao exercício, essa enfermidade costuma ser chamada inadequadamente de “doença da preguiça”.
Leia sobre "As cores da urina16 e suas relações com doenças e medicamentos".
Como o médico diagnostica a doença de McArdle?
O diagnóstico20 é feito com base na história clínica, nos sintomas13 e em testes genéticos. Existem alguns exames de laboratório que podem auxiliar no diagnóstico20 da doença de McArdle. Uma biópsia21 muscular poderá detectar a ausência de miofosforilase. O sequenciamento genético do gene PYGM é um exame que pode ser realizado para determinar a presença de mutações genéticas, determinando se trata-se da doença de McArdle. Este tipo de exame é consideravelmente menos invasivo do que uma biópsia21 muscular.
Como o médico trata a doença de McArdle?
Atualmente, não há tratamento para restaurar a atividade da miofosforilase, mas ainda que não haja cura para a doença de McArdle, as pessoas afetadas podem gerenciar seus sintomas13, tornando-os menos incomodativos. A compreensão da fisiopatologia22 da doença de McArdle é essencial para o desenvolvimento de estratégias de manejo e tratamento direcionadas a otimizar a utilização de energia nos músculos5 afetados.
O tratamento envolve evitar atividades extenuantes, garantir uma dieta adequada e, em alguns casos, a administração de suplementos de carboidratos antes do exercício para ajudar a compensar a deficiência de glicose6.
O acompanhamento regular por profissionais de saúde23 especializados, como geneticistas e fisioterapeutas, também é essencial para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados.
Como gerenciar os sintomas13 da doença de McArdle?
A gestão dos sintomas13 dos pacientes com doença de McArdle deve ser focado no treino aeróbico controlado, a fim de desenvolver a capacidade oxidativa dos músculos5, aumentar a aptidão cardiorrespiratória e assegurar a disponibilidade de glicose sanguínea24 suficiente para os músculos5.
Nos pacientes com a doença de McArdle, os níveis de glicose6 podem ser mantidos de duas maneiras: (1) com uma dieta rica em hidratos de carbono complexos e baixa em gordura25 e (2) com a ingestão programada de açúcares simples (30-40g de glucose, frutose26 ou sacarose) 5 minutos antes do exercício.
Qual é o prognóstico27 da doença de McArdle?
O prognóstico27 da doença de McArdle é favorável quando se evita a rabdomiólise17 maciça (destruição muscular). Contudo, dado que o aumento da mioglobina no sangue12 pode levar a uma insuficiência renal28 grave, a patologia29 deve ser acompanhada de perto.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e da Mayo Clinic.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.