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Meralgia parestésica - conceito, causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução

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O que é meralgia parestésica1?

Meralgia (do grego: meros = coxa2 + algos= dor) parestésica1 é uma mononeuropatia3 dolorosa que ocorre devido ao aprisionamento e compressão do nervo cutâneo4 femoral lateral. Essa compressão apenas afeta a sensibilidade da coxa2 e não a função motora dos músculos da coxa5.

Tal patologia6 também pode ser encontrada na literatura médica com a nomenclatura de síndrome7 de Bernhardt-Roth, em referência aos dois autores que foram os pioneiros a descreverem esta patologia6. Sua incidência8 gira em torno de 5/10.000 pessoas.

Quais são as causas da meralgia parestésica1?

A meralgia parestésica1 é causada pela compressão do nervo femoral9 lateral, que dá sensação à pele10 que cobre a coxa2, contra o ligamento11 inguinal. Essa compressão pode ser ocasionada ou agravada pelo uso de roupas ou cintas apertadas, obesidade12 ou ganho de peso, gravidez13 ou tumores. No entanto, a meralgia parestésica1 também pode ser decorrente de trauma local ou de uma doença, como diabetes14 ou afecções15 do sistema nervoso central16.

Qual o substrato fisiopatológico da meralgia parestésica1?

Os nervos que têm a função de comunicar o Sistema Nervoso Central16 com os órgãos periféricos do corpo podem ser classificados em nervos motores e nervos sensoriais. Os primeiros são responsáveis pelas contrações dos músculos17 e pelos movimentos, e, por isso, são ditos nervos motores. Os segundos relacionam-se aos estímulos detectados a partir dos sentidos, como dor, coceira, sensibilidade, formigamento, entre outros, e são chamados nervos sensoriais.

Desse último grupo, faz parte o nervo femoral9 superficial lateral, responsável pela inervação sensorial da face18 externa da coxa2. Ele tem sua raiz na vértebra lombar L3 e sua trajetória inclui a passagem pelo ligamento11 inguinal, uma fita elástica localizada na virilha, próxima ao osso da bacia. Na maioria das pessoas, esse nervo passa pela virilha até a parte superior da coxa2 sem problemas. Mas, na meralgia parestésica1, ele é comprimido pelo ligamento11 inguinal, gerando sintomas19.

Veja sobre "Neuropatia periférica20", "Nevralgia ou neuralgia21" e "Neuralgia21 occipital".

Quais são as características clínicas da meralgia parestésica1?

A compressão do nervo femoral9 lateral leva à diminuição da sensibilidade da região lateral da coxa2, além de dor e sensação de queimação. A meralgia parestésica1 também pode ser caracterizada por formigamento, dormência22, anestesia23 e sensação de choques ou pontadas na parte externa da coxa2.

Os sintomas19 podem piorar de acordo com a posição e se o paciente se mantiver muito tempo em pé. Alguns pacientes acometidos relatam irradiação da dor ao joelho, panturrilha24, coluna e quadril e queda e/ou falta de crescimento de pelos na região afetada. Todos esses sintomas19 podem ser sentidos em toda a extensão da face18 externa da coxa2, desde o quadril até o joelho.

Como o médico diagnostica a meralgia parestésica1?

Na maioria dos casos, o médico pode fazer um diagnóstico25 de meralgia parestésica1 com base na história clínica do paciente e no exame físico. Exames adicionais, incluindo testes de força e de reflexos, podem ser feitos para ajudar a excluir outras causas para os sintomas19. Exames de imagens do quadril e da área pélvica26 podem ser úteis para descartar outras condições, como um problema de raiz nervosa, neuropatia27 femoral ou um tumor28.

Nesse mesmo sentido, podem ser solicitados uma ultrassonografia29, uma tomografia computadorizada30 ou uma ressonância magnética31. Se o diagnóstico25 se apresentar confuso, pode ainda ser ajudado por uma eletromiografia32 e estudo de condução nervosa, ou ser feito um bloqueio nervoso experimental, com finalidade diagnóstica.

Como tratar a meralgia parestésica1?

Dependendo das causas que estejam motivando a compressão nervosa, o paciente pode aliviar a meralgia parestésica1 com medidas conservadoras, como perder peso, usar roupas mais folgadas, aplicar compressas frias para aliviar a dor e recorrer à fisioterapia33.

Medicações para aliviar a dor podem ser usadas, embora sob prescrição médica, sobretudo se a paciente estiver grávida. Anti-inflamatórios não esteroides também podem ser recomendados. Outros medicamentos que podem ser empregados em casos rebeldes incluem antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes.

Por fim, há a alternativa de tratamento cirúrgico para casos reincidentes ou que não apresentem respostas aos tratamentos conservadores. Ela consistirá, conforme o caso, em corte de um segmento específico do nervo ou da liberação do nervo da condição que o esteja comprimindo.

Como evolui a meralgia parestésica1?

A meralgia parestésica1 geralmente tem um bom prognóstico34. Na maioria dos casos, ela melhora com o tratamento conservador ou pode até resolver espontaneamente. A intervenção cirúrgica nem sempre é totalmente bem-sucedida.

Leia também sobre "Notalgia35 parestésica1", "Parestesia36" e "Síndrome compartimental37".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic  e do National Institute of Neurological Disorders and Stroke.

ABCMED, 2022. Meralgia parestésica - conceito, causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1421675/meralgia-parestesica-conceito-causas-sintomas-diagnostico-tratamento-e-evolucao.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Parestésica: Relativo à parestesia; parestético. Parestesia é uma sensação anormal e desagradável sobre a pele que assume diversas formas (por exemplo; queimação, dormência, coceira etc.).
2 Coxa: É a região situada abaixo da virilha e acima do joelho, onde está localizado o maior osso do corpo humano, o fêmur.
3 Mononeuropatia: Neuropatia que afeta um só nervo.
4 Cutâneo: Que diz respeito à pele, à cútis.
5 Músculos da coxa: É a região situada abaixo da virilha e acima do joelho, onde está localizado o maior osso do corpo humano, o fêmur.
6 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
7 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
8 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
9 Nervo Femoral: Nervo que se origina na região lombar da medula espinhal (geralmente entre L2 e L4) e corre através do plexo lombar afim de fornecer inervação motora para os extensores da coxa e inervação sensitiva para partes da coxa, região inferior da perna, pé e junturas do quadril e do joelho.
10 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
11 Ligamento: 1. Ato ou efeito de ligar(-se). Tudo o que serve para ligar ou unir. 2. Junção ou relação entre coisas ou pessoas; ligação, conexão, união, vínculo. 3. Na anatomia geral, é um feixe fibroso que liga entre si os ossos articulados ou mantém os órgãos nas respectivas posições. É uma expansão fibrosa ou aponeurótica de aparência ligamentosa. Ou também uma prega de peritônio que serve de apoio a qualquer das vísceras abdominais. 4. Vestígio de artéria fetal ou outra estrutura que perdeu sua luz original.
12 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
13 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
14 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
15 Afecções: Quaisquer alterações patológicas do corpo. Em psicologia, estado de morbidez, de anormalidade psíquica.
16 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
17 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
18 Face: Parte anterior da cabeça que inclui a pele, os músculos e as estruturas da fronte, olhos, nariz, boca, bochechas e mandíbula.
19 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
20 Neuropatia periférica: Dano causado aos nervos que afetam os pés, as pernas e as mãos. A neuropatia causa dor, falta de sensibilidade ou formigamentos no local.
21 Neuralgia: Dor aguda produzida pela irritação de um nervo. Caracteriza-se por ser muito intensa, em queimação, pulsátil ou semelhante a uma descarga elétrica. Suas causas mais freqüentes são infecção, lesão metabólica ou tóxica do nervo comprometido.
22 Dormência: 1. Estado ou característica de quem ou do que dorme. 2. No sentido figurado, inércia com relação a se fazer alguma coisa, a se tomar uma atitude, etc., resultando numa abulia ou falta de ação; entorpecimento, estagnação, marasmo. 3. Situação de total repouso; quietação. 4. No sentido figurado, insensibilidade espiritual de um ser diante do mundo. Sensação desagradável caracterizada por perda da sensibilidade e sensação de formigamento, e que geralmente ocorre nas extremidades dos membros. 5. Em biologia, é um período longo de inatividade, com metabolismo reduzido ou suspenso, geralmente associado a condições ambientais desfavoráveis; estivação.
23 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
24 Panturrilha: 1. Proeminência muscular, situada na face posterossuperior da perna, formada especialmente pelos músculos gastrocnêmio e sóleo; sura, barriga da perna. 2. Por extensão de sentido, enchimento usado por baixo das meias, para melhorar a aparência das pernas.
25 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
26 Pélvica: Relativo a ou próprio de pelve. A pelve é a cavidade no extremo inferior do tronco, formada pelos dois ossos do quadril (ilíacos), sacro e cóccix; bacia. Ou também é qualquer cavidade em forma de bacia ou taça (por exemplo, a pelve renal).
27 Neuropatia: Doença do sistema nervoso. As três principais formas de neuropatia em pessoas diabéticas são a neuropatia periférica, neuropatia autonômica e mononeuropatia. A forma mais comum é a neuropatia periférica, que afeta principalmente pernas e pés.
28 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
29 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
30 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
31 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
32 Eletromiografia: Técnica voltada para o estudo da função muscular através da pesquisa do sinal elétrico que o músculo emana, abrangendo a detecção, a análise e seu uso.
33 Fisioterapia: Especialidade paramédica que emprega agentes físicos (água doce ou salgada, sol, calor, eletricidade, etc.), massagens e exercícios no tratamento de doenças.
34 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
35 Notalgia: Notalgia (do grego: notos = dorso + algos = dor) significa dor no dorso ou dor nas costas.
36 Parestesia: Sensação cutânea subjetiva (ex.: frio, calor, formigamento, pressão, etc.) vivenciada espontaneamente na ausência de estimulação.
37 Síndrome compartimental: Caracteriza-se pela elevação anômala da pressão tecidual no interior de um compartimento fechado, é comum no interior de um compartimento osteo-fascial. A pressão compartimental pode aumentar quando diminui o volume do compartimento ou quando se expande o seu conteúdo. Este processo, como resultado da elevação da pressão intracompartimental, pode chegar a comprometer a irrigação das diferentes estruturas nervosas e musculares da região e posteriormente, se não tratado, levar à necrose de tecidos, lesão funcional permanente e inclusivamente, em casos mais graves, alterações do ponto de vista sistêmico, como insuficiência renal, insuficiência respiratória, falência multiorgânica e morte.
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