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Siderose ocular - causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução

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O que é siderose ocular?

Siderose ocular é a deposição de ferro nos tecidos oculares, comumente levando a uma série de alterações características e a grave distúrbio da função visual.

Quais são as causas da siderose ocular?

A causa mais comum de desenvolvimento da siderose ocular é a permanência prolongada no ambiente intraocular de um corpo estranho contendo ferro em sua composição, em geral como consequência de um trauma ocular. Ela pode se desenvolver de 18 dias a até anos após o trauma penetrante. A média de idade dos pacientes afetados fica entre 22 e 25 anos e a grande maioria é do sexo masculino.

Qual é a fisiopatologia1 da siderose ocular?

A fisiopatologia1 da siderose ocular não é totalmente compreendida. No entanto, sabe-se que a deposição de ferro no interior do olho2 causa a formação de radicais hidroxila, que danificam os fotorreceptores3 e o epitélio4 pigmentar da retina5. Além disso, o ferro danifica os vasos da retina5 com consequente degeneração6 das camadas internas da retina5.

O ferro bivalente (ferroso) é mais tóxico para o tecido7 ocular do que o íon8 trivalente (férrico). A toxicidade9 é causada por interferência com o sistema enzimático essencial. Ele se acumula e danifica sobretudo o endotélio10 da córnea11, malha trabecular12, músculos13 constritores pupilares, músculo dilatador, epitélio4 do cristalino14 e da retina5 e a membrana limitante interna.

O dano funcional da retina5 ocorre em um estágio muito inicial e a necrose15 das células16 fotorreceptoras ocorre em grandes áreas da retina5. A degeneração6 vítrea em associação com a degeneração6 da retina5 pode levar ao descolamento de retina5. A atrofia17 óptica ocorre após a interrupção de longa data da função da retina5.

Leia também sobre "Retinoblastoma", "Daltonismo18", "Nistagmo19" e "Estrabismo20".

Quais são as características clínicas da siderose ocular?

Os sinais21 mais frequentes da siderose ocular são:

  • a falha de acomodação;
  • a heterocromia (diferença entre as cores de cada uma das íris22);
  • midríase23 pupilar;
  • desenvolvimento de catarata24;
  • estreitamento arteriolar retiniano com degeneração6 pigmentar da retina5.

Os sinais21 e sintomas25 do estágio mais tardio e final são perda progressiva do campo visual26 e nictalopia ou cegueira noturna, ou seja, incapacidade de enxergar à noite ou em ambientes com pouca luz.

O ferro permanece dentro das células16 epiteliais da córnea11, em qualquer camada dela, e pode se acumular na malha trabecular12 do olho2 e causar glaucoma27. Na íris22 pode haver heterocromia, com a íris22 do lado afetado se tornando mais marrom ou “enferrujada”.

Também podem estar presentes anisocoria (diâmetro desigual das pupilas), reação pupilar e pupila tônica de Adies. O epitélio4 do cristalino14 também assume uma aparência marrom-amarelada ou enferrujada.

Como o médico diagnostica a siderose ocular?

O médico procurará conhecer a história clínica do paciente e o submeterá a uma série de exames especializados. Em alguns deles, como o eletrorretinograma, os indícios da siderose surgem mais cedo do que os sinais21 clínicos.

A tomografia computadorizada28 orbitária e a ultrassonografia29 desempenham um papel essencial na detecção e localização de corpos estranhos no interior do olho2. Para detectar um corpo estranho intraocular oculto, os médicos não devem confiar exclusivamente na tomografia computadorizada28 ou na radiografia simples, devendo também usar a ecografia30, com estudo cuidadoso dos quadrantes inferiores.

A siderose ocular deve ser considerada no diagnóstico31 diferencial de pupila tônica de Adies e vice-versa.

Como o médico trata a siderose ocular?

O tratamento da siderose ocular depende da localização do corpo estranho que tenha penetrado no olho2 e do grau de gravidade ou de evolução que a condição tenha assumido. No entanto, é crucial remover o objeto estranho, com o que a acuidade visual32 e os sinais21 clínicos podem melhorar.

Os objetos estranhos que estejam localizados no segmento anterior podem ser retirados por meio do uso de um ímã intraocular ou um fórceps. Os objetos estranhos que estejam no segmento posterior do olho2 requererão uma vitrectomia, procedimento cirúrgico que consiste na remoção de parte ou da totalidade do humor vítreo33 do olho2.

Como evolui a siderose ocular?

A siderose ocular, apesar de raramente ser vista na clínica e ser uma causa incomum de perda visual, se não for tratada pronta e corretamente pode causar lesões34 irreversíveis na retina5, danos na função visual e pode até afetar a aparência dos globos oculares.

Os efeitos produzidos pela siderose ocular diminuem significativamente a qualidade de vida dos pacientes e levam a um mau prognóstico35. Fatores como idade jovem, corpo estranho de grandes dimensões (comprimento médio= 5,7mm), tempo prolongado de retenção, baixa acuidade visual32, hifema, hemorragia36 vítrea ou endoftalmite estão associados a um prognóstico35 mais pobre.

Quais são as complicações possíveis com a siderose ocular?

A siderose ocular geralmente aparece associada a complicações de um corpo estranho que tenha penetrado no olho2. A mais temida delas é a endoftalmite. Fatores prognósticos ruins incluem aumento da ocorrência de organismos virulentos (infecção37), danos teciduais associados e atraso no manejo do problema.

Outra complicação ameaçadora da visão38 é uma uveíte39 granulomatosa bilateral. A siderose também pode levar à atrofia17 óptica e edema macular40. Há ainda um risco aumentado de formação de membrana epiretinal levando ao enrugamento macular e ao descolamento da retina5.

O objeto estranho intraocular também pode, por si mesmo, estar associado a várias complicações do segmento anterior, como hifema, catarata24 traumática, ruptura capsular, subluxação ou luxação41 do cristalino14 e glaucoma27.

Veja sobre "Escotoma42", "Vista embaçada", "Acromatopsia ou cegueira de cores" e "Ptose43 palpebral".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

ABCMED, 2022. Siderose ocular - causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/saude-dos-olhos/1419825/siderose-ocular-causas-sintomas-diagnostico-tratamento-e-evolucao.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
2 Olho: s. m. (fr. oeil; ing. eye). Órgão da visão, constituído pelo globo ocular (V. este termo) e pelos diversos meios que este encerra. Está situado na órbita e ligado ao cérebro pelo nervo óptico. V. ocular, oftalm-. Sinônimos: Olhos
3 Fotorreceptores: Células especializadas em detectar e transducir luz.
4 Epitélio: Uma ou mais camadas de CÉLULAS EPITELIAIS, sustentadas pela lâmina basal, que recobrem as superfícies internas e externas do corpo.
5 Retina: Parte do olho responsável pela formação de imagens. É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Possui duas partes: a retina periférica e a mácula.
6 Degeneração: 1. Ato ou efeito de degenerar (-se). 2. Perda ou alteração (no ser vivo) das qualidades de sua espécie; abastardamento. 3. Mudança para um estado pior; decaimento, declínio. 4. No sentido figurado, é o estado de depravação. 5. Degenerescência.
7 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
8 Íon: Átomo ou grupo atômico eletricamente carregado.
9 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
10 Endotélio: Camada de células que reveste interiormente os vasos sanguíneos e os vasos linfáticos.
11 Córnea: Membrana fibrosa e transparente presa à esclera, constituindo a parte anterior do olho.
12 Malha Trabecular: Estrutura porosa, que se localiza ao redor de toda a circunferência da câmara anterior, através da qual o humor aquoso é drenado para o canal de Schlemm.
13 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
14 Cristalino: 1. Lente gelatinosa, elástica e convergente que focaliza a luz que entra no olho, formando imagens na retina. A distância focal do cristalino é modificada pelo movimento dos músculos ciliares, permitindo ajustar a visão para objetos próximos ou distantes. Isso se chama de acomodação do olho à distância do objeto. 2. Diz-se do grupo de cristais cujos eixos cristalográficos são iguais nas suas relações angulares gerais constantes 3. Diz-se de rocha constituída quase que totalmente por cristais ou fragmentos de cristais 4. Diz-se do que permite que passem os raios de luz e em consequência que se veja através dele; transparente. 5. Límpido, claro como o cristal.
15 Necrose: Conjunto de processos irreversíveis através dos quais se produz a degeneração celular seguida de morte da célula.
16 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
17 Atrofia: 1. Em biologia, é a falta de desenvolvimento de corpo, órgão, tecido ou membro. 2. Em patologia, é a diminuição de peso e volume de órgão, tecido ou membro por nutrição insuficiente das células ou imobilização. 3. No sentido figurado, é uma debilitação ou perda de alguma faculdade mental ou de um dos sentidos, por exemplo, da memória em idosos.
18 Daltonismo: Alteração congênita da visão de certas cores, especialmente para distinguir o vermelho e o verde.
19 Nistagmo: Movimento involuntário, rápido e repetitivo do globo ocular. É normal dentro de certos limites diante da mudança de direção do olhar horizontal. Porém, pode expressar doenças neurológicas ou do sistema de equilíbrio.
20 Estrabismo: Desvio da posição de um ou ambos os globos oculares, secundária a uma alteração no sistema de músculos, tendões e nervos encarregados de dar aos olhos o movimento normal.
21 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
22 Íris: Membrana arredondada, retrátil, diversamente pigmentada, com um orifício central, a pupila, que se situa na parte anterior do olho, por trás da córnea e à frente do cristalino. A íris é a estrutura que dá a cor ao olho. Ela controla a abertura da pupila, regulando a quantidade de luz que entra no olho.
23 Midríase: Dilatação da pupila. Ela pode ser fisiológica, patológica ou terapêutica.
24 Catarata: Opacificação das lentes dos olhos (opacificação do cristalino).
25 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
26 Campo visual: É toda a área que é visível com os olhos fixados em determinado ponto.
27 Glaucoma: É quando há aumento da pressão intra-ocular e danos ao nervo óptico decorrentes desse aumento de pressão. Esses danos se expressam no exame de fundo de olho e por alterações no campo de visão.
28 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
29 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
30 Ecografia: Ecografia ou ultrassonografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
31 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
32 Acuidade visual: Grau de aptidão do olho para discriminar os detalhes espaciais, ou seja, a capacidade de perceber a forma e o contorno dos objetos.
33 Humor vítreo: É uma substância gelatinosa e viscosa, formada por substância amorfa semilíquida, fibras e células. Faz parte do corpo vítreo do olho. Está situado entre o cristalino e a retina.
34 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
35 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
36 Hemorragia: Saída de sangue dos vasos sanguíneos ou do coração para o exterior, para o interstício ou para cavidades pré-formadas do organismo.
37 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
38 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
39 Uveíte: Uveíte é uma inflamação intraocular que compromete total ou parcialmente a íris, o corpo ciliar e a coroide (o conjunto dos três forma a úvea), com envolvimento frequente do vítreo, retina e vasos sanguíneos.
40 Edema macular: Inchaço na mácula.
41 Luxação: É o deslocamento de um ou mais ossos para fora da sua posição normal na articulação.
42 Escotoma: Região da retina em que há perda ou ausência da acuidade visual devido a patologias oculares.
43 Ptose: Literalmente significa “queda” e aplica-se em distintas situações para significar uma localização inferior de um órgão ou parte dele (ptose renal, ptose palpebral, etc.).
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