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Retinose pigmentar

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O que é retinose pigmentar?

A retinose pigmentar, também chamada retinite pigmentar ou retinopatia pigmentar, é uma distrofia1 retiniana genética hereditária que afeta a retina2, a parte do olho3 sensível à luz. Ela é caracterizada pela degeneração4 progressiva das células5 fotorreceptoras da retina2, conhecidas como cones e bastonetes, que deixam de captar a luz, prejudicando a formação da imagem pela retina2, processo esse que é essencial para a visão6 normal. A condição resulta, portanto, em uma perda gradual e irreversível da visão6.

A retinose pigmentar é chamada assim devido às alterações na pigmentação da retina2 que podem ser observadas durante o exame oftalmológico. Alguns pacientes apresentam a doença apenas nos olhos7, mas outros têm manifestações sistêmicas associadas a doenças genéticas.

Quais são as causas da retinose pigmentar?

Como doença hereditária, a retinose pigmentar é transmitida de pais para filhos através de mutações genéticas. A causa primária da retinose pigmentar é a presença de mutações em alguns dos vários genes específicos que controlam a função da retina2. Essas mutações genéticas afetam a produção de proteínas8 necessárias para o funcionamento normal das células5 fotorreceptoras na retina2.

A doença pode ser herdada de forma autossômica9 recessiva (60% dos casos), autossômica9 dominante (30% dos casos) ou ligada ao cromossomo10 X (10% dos casos), dependendo dos genes envolvidos. Fatores ambientais, como exposição a altos níveis de luz solar ou radiação, podem desempenhar um papel secundário na progressão da doença.

Em alguns casos raros, a retinose pigmentar pode ser causada por condições médicas subjacentes que afetam a retina2.

Qual é o substrato fisiopatológico da retinose pigmentar?

A fisiopatologia11 da retinose pigmentar envolve vários mecanismos. As mutações genéticas afetam a capacidade das células5 fotorreceptoras de responder à luz e desempenhar suas funções de forma adequada, levando a uma degeneração4 progressiva dessas células5, primeiramente dos bastonetes e, em seguida, dos cones.

À medida que as células5 fotorreceptoras morrem, há um acúmulo de pigmentos na retina2 (daí o nome "retinose pigmentar"), contribuindo para as mudanças visuais características observadas na doença.

Quais são as características clínicas da retinose pigmentar?

Habitualmente, a retinose pigmentar se manifesta em adolescentes e adultos jovens e a gravidade dos sintomas12 pode variar de pessoa para pessoa. Como é uma condição progressiva, a perda de visão6 piora com o tempo. Os primeiros sintomas12 costumam incluir dificuldade na visão6 noturna e redução do campo visual13 periférico. Com o tempo, a perda de visão6 progride, podendo levar à cegueira total em casos mais graves. Em alguns casos, a retinose pigmentar pode estar associada a uma degeneração macular14, o que torna mais grave a perda de visão central15.

À medida que a doença progride podem surgir manchas escuras na visão6 lateral, que podem levar à “visão de túnel” (perda gradual do campo visual13 periférico lateral, tornando o campo de visão6 menor e restringindo a visão periférica16). Existe ainda outra forma de retinose pigmentar, às vezes referida como distrofia1 de cones-bastonetes, em que a visão central15 é inicialmente acometida. Com o avanço da doença, ocorre a degeneração4 de bastonetes causando também a baixa visual noturna e periférica.

Conforme a configuração genética da pessoa, podem existir algumas associações desta doença com a surdez e a obesidade17.

Como o médico diagnostica a retinose pigmentar?

O diagnóstico18 da retinose pigmentar envolve uma série de etapas, incluindo:

  • história clínica, em que o médico começará por fazer perguntas sobre a história médica do paciente e histórico familiar;
  • exame oftalmológico, principalmente da acuidade visual19 e da retina2;
  • testes para avaliar o campo visual13;
  • eletrorretinografia para avaliar a resposta elétrica da retina2 à luz;
  • testes genéticos para identificar mutações específicas;
  • e exames periódicos para monitorar a progressão da doença.
Leia sobre "Fundo de olho20 ou fundoscopia", "Gonioscopia21" e "Retinografia22".

Como o médico trata a retinose pigmentar?

Até há pouco tempo não havia nenhum tratamento efetivo para a retinose pigmentar. Recentemente surgiu a primeira terapia gênica para esta doença, na qual consegue-se colocar uma forma correta do gene que está defeituoso dentro das células5 da retina2 do paciente. Contudo, essa terapia tem indicação apenas para pacientes23 com mutação24 em um único gene (RPE65), sendo que a retinose pigmentar pode ser causada por mutação24 em diversos genes. Além disso, como ela não consegue recuperar a visão6 que já foi perdida, ela é melhor indicada em estágios iniciais da doença.

Em resumo, não há cura para a quase totalidade dos casos de retinose pigmentar, mas existem tratamentos que podem ajudar a gerenciar os sintomas12 e retardar a progressão da doença. A pesquisa na área da terapia genética e outras terapias promissoras está em andamento para desenvolver tratamentos mais eficazes no futuro.

Como evolui a retinose pigmentar?

De um modo geral, a doença progride lentamente até os 60 anos. A progressão e o grau de perda visual variam de pessoa para pessoa, dependendo das mutações genéticas específicas envolvidas, mas os pacientes com retinose pigmentar experimentam uma perda progressiva de visão6, começando com dificuldade de visão6 noturna e gradualmente progredindo para a perda de visão periférica16 e central.

A princípio, como os bastonetes são afetados mais precocemente, os pacientes têm dificuldade em enxergar em condições de baixa luminosidade e à noite. À medida que os cones também são afetados, a capacidade de perceber cores e detalhes diminui. Isso pode levar a uma visão6 de cores cada vez mais comprometida e, em alguns casos, terminar em cegueira total.

Veja também sobre "Deficiência visual", "Retinopatia diabética25" e "Hipertensão26 intraocular".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Rede D’Or São Luís e do Hospital de Olhos CRO – Guarulhos.

ABCMED, 2024. Retinose pigmentar. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/saude-dos-olhos/1464322/retinose-pigmentar.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Distrofia: 1. Acúmulo de grande quantidade de matéria orgânica, mas poucos nutrientes, em corpos de água, como brejos e pântanos. 2. Na medicina, é qualquer problema de nutrição e o estado de saúde daí decorrente.
2 Retina: Parte do olho responsável pela formação de imagens. É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Possui duas partes: a retina periférica e a mácula.
3 Olho: s. m. (fr. oeil; ing. eye). Órgão da visão, constituído pelo globo ocular (V. este termo) e pelos diversos meios que este encerra. Está situado na órbita e ligado ao cérebro pelo nervo óptico. V. ocular, oftalm-. Sinônimos: Olhos
4 Degeneração: 1. Ato ou efeito de degenerar (-se). 2. Perda ou alteração (no ser vivo) das qualidades de sua espécie; abastardamento. 3. Mudança para um estado pior; decaimento, declínio. 4. No sentido figurado, é o estado de depravação. 5. Degenerescência.
5 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
6 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
7 Olhos:
8 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
9 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
10 Cromossomo: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
11 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
12 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
13 Campo visual: É toda a área que é visível com os olhos fixados em determinado ponto.
14 Degeneração macular: A degeneração macular destrói gradualmente a visão central, afetando a mácula, parte do olho que permite enxergar detalhes finos necessários para realizar tarefas diárias tais como ler e dirigir. Existem duas formas - úmida e seca. Na forma úmida, há crescimento anormal de vasos sanguíneos no fundo do olho, podendo extravasar fluidos que prejudicam a visão central. Na forma seca, que é a mais comum e menos grave, há acúmulo de resíduos do metabolismo celular da retina, aliado a graus variáveis de atrofia do tecido retiniano, causando uma perda visual central, de progressão lenta, podendo dificultar a realização de algumas atividades como ler e escrever ou a identificação de traços de fisionomia.
15 Visão central: Visão central é aquela na qual a imagem cai no centro da retina, em uma área chamada mácula. Esta visão é cheia de detalhes.
16 Visão periférica: É a propriedade da visão de perceber o que está fora do foco principal de visão. Capacidade do individuo enxergar pontos a sua frente e ao redor do seu campo visual, ou seja, é aquela que se forma fora da mácula, na periferia da retina.
17 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
18 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
19 Acuidade visual: Grau de aptidão do olho para discriminar os detalhes espaciais, ou seja, a capacidade de perceber a forma e o contorno dos objetos.
20 Fundo de olho: Fundoscopia, oftalmoscopia ou exame de fundo de olho é o exame em que se visualizam as estruturas do segmento posterior do olho (cabeça do nervo óptico, retina, vasos retinianos e coroide), dando atenção especialmente a região central da retina, denominada mácula. O principal aparelho utilizado pelo clínico para realização do exame de fundo de olho é o oftalmoscópio direto. O oftalmologista usa o oftalmoscópio indireto e a lâmpada de fenda.
21 Gonioscopia: É um exame de visão que utiliza uma lente especial para o estudo do ângulo da câmara anterior do olho, onde é realizada a drenagem do humor aquoso.
22 Retinografia: É uma fotografia da retina ou do nervo óptico que é feita com auxílio do retinógrafo. As principais indicações são para diagnóstico e acompanhamento das doenças vítreo retinianas, glaucoma e doenças do nervo óptico. O exame deve ser feito com a pupila dilatada e demora cerca de 5 a 10 minutos.
23 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
24 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
25 Retinopatia diabética: Dano causado aos pequenos vasos da retina dos diabéticos. Pode levar à perda da visão. Retinopatia não proliferativa ou retinopatia background Caracterizada por alterações intra-retinianas associadas ao aumento da permeabilidade capilar e à oclusão vascular que pode ou não ocorrer. São encontrados microaneurismas, edema macular e exsudatos duros (extravasamento de lipoproteínas). Também chamada de retinopatia simples.
26 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
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