Derivação ventriculoperitoneal
Sobre o líquido cefalorraquidiano1
O líquido cérebro2-espinhal, também conhecido simplesmente como líquor3, é um fluido claro e aquoso encontrado no espaço subaracnoideo do sistema nervoso central4, ou seja, ao redor do cérebro2 e da medula espinhal5. Ele serve, entre outras coisas, para proteger esses órgãos. Este líquido é produzido principalmente pelos plexos coroides dos ventrículos cerebrais, embora possa haver contribuições menores de outras estruturas, e é reabsorvido principalmente através das vilosidades da aracnoide6, uma das membranas que envolvem o cérebro2 e a medula espinhal5, de onde entra na corrente sanguínea e é reabsorvido pelo sistema circulatório7.
O equilíbrio entre a produção, o fluxo e a reabsorção do líquor3 é essencial para manter constante o volume e a pressão do líquor3 dentro do sistema nervoso central4. Qualquer desarranjo nesse processo pode levar a condições como hidrocefalia8, que é o acúmulo anormal de líquor3 no cérebro2, com aumento da pressão intracraniana, que geralmente varia entre 6 e 18 mmHg (milímetros de mercúrio) quando medida em adultos em posição lateral.
O que é derivação ventriculoperitoneal?
A derivação ventriculoperitoneal (DVP) é um procedimento neurocirúrgico utilizado para tratar o acúmulo anormal de líquido cefalorraquidiano1 no cérebro2, o que causa um aumento da pressão liquórica. Ela é um dispositivo de drenagem9 valvular unidirecional, normalmente implantado em pacientes com hidrocefalia8. O objetivo principal da DVP é desviar o excesso de líquido cefalorraquidiano1 do cérebro2 para outras cavidades do corpo, geralmente o abdômen, onde é reabsorvido pelo organismo. Isso ajuda a aliviar a pressão excessiva dentro do crânio10, que poderia causar danos ao tecido11 cerebral.
A DVP tem sido utilizada com resultados satisfatórios por diversos autores, tanto em crianças como em adultos. É frequentemente usada em pacientes com hidrocefalia8, tanto aquela devida a condições congênitas12, como espinha bífida13 ou malformações14 cerebrais, quanto a hidrocefalia8 devida a condições adquiridas, como trauma craniano, hemorragia15 cerebral ou tumores cerebrais.
Essa técnica é considerada uma das maneiras mais eficazes de tratar a hidrocefalia8 e pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes afetados. O tratamento das hidrocefalias em crianças corresponde a mais da metade do movimento anual de um serviço de neurocirurgia pediátrica.
Como qualquer procedimento cirúrgico, a derivação ventriculoperitoneal apresenta alguns riscos, como infecção16, obstrução do cateter ou mau funcionamento do sistema de derivação.
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Por que fazer uma derivação ventriculoperitoneal?
A DVP é indicada para o tratamento de condições médicas que resultam em acúmulo excessivo de líquido cerebrospinal nos ventrículos cerebrais, levando à hidrocefalia8. Algumas das principais indicações para a DVP incluem a hidrocefalia8 que, como dito, pode ser congênita19 (presente ao nascimento) ou adquirida (desenvolve-se mais tarde devido a trauma, infecção16, tumor20 cerebral, hemorragia15, entre outras causas). A hidrocefalia8 obstrutiva do fluxo normal do líquor3 pode ser devida a:
- Presença de um tumor20 cerebral.
- Malformações14 congênitas12, como, por exemplo, espinha bífida13 ou malformação21 de Chiari.
- Lesões22 traumáticas na cabeça23, que podem causar hemorragia15, inchaço24 ou obstrução do fluxo de líquor3.
- Infecções25 como meningite26 ou abscessos27 cerebrais, que podem causar obstrução do fluxo de líquor3.
- Hemorragias28 intracranianas, que podem levar ao acúmulo de sangue29 nos ventrículos cerebrais, causando hidrocefalia8.
Essas são apenas algumas das indicações mais comuns para a derivação ventriculoperitoneal. A decisão de realizar o procedimento é baseada na avaliação individual de cada paciente, levando em consideração a causa subjacente da hidrocefalia8, a gravidade dos sintomas30 e outras condições médicas presentes.
Como se realiza a derivação ventriculoperitoneal?
O paciente deve ser submetido à anestesia31 geral e ter os seus sinais vitais32 constantemente monitorados. Em seguida o paciente é posicionado de forma adequada para a cirurgia, geralmente deitado de costas33 com a cabeça23 fixa em uma posição específica. O cirurgião então faz uma incisão34 no couro cabeludo para acessar o crânio10 e uma pequena abertura é feita no crânio10 para acessar os ventrículos cerebrais, que são as cavidades dentro do cérebro2 que contêm o líquido cerebrospinal.
Um cateter flexível, projetado para drenar o excesso de líquido cerebrospinal, é cuidadosamente inserido em um dos ventrículos cerebrais. A extremidade livre desse cateter é então conduzida sob a pele35 e guiada ao longo do corpo em direção ao abdômen, onde é criada uma pequena bolsa na qual é inserida uma válvula que regula o fluxo do líquido cerebrospinal do cateter para a cavidade abdominal36.
O cateter é fixado no lugar para evitar movimentos indesejados e a incisão34 é fechada com suturas37 ou adesivos cirúrgicos. Após a cirurgia, o paciente é monitorado de perto até que se constate que o dispositivo está funcionando normalmente. O tempo de recuperação desse procedimento pode variar dependendo do paciente e da extensão da cirurgia.
Quais são as complicações possíveis com a derivação ventriculoperitoneal?
Embora seja uma intervenção geralmente segura e eficaz, existem várias possíveis complicações associadas a este procedimento, algumas delas graves. A infecção16 é uma complicação grave que pode ocorrer em qualquer parte do sistema de derivação, incluindo a área por onde transita o cateter ventricular, o reservatório e o cateter peritoneal, podendo levar à meningite26 ou à peritonite38.
Uma obstrução pode também ocorrer em qualquer ponto do sistema de derivação, devido a coágulos sanguíneos, tecido11 cerebral ou outros materiais que bloqueiam o fluxo adequado do líquor3. Embora raramente, algumas pessoas podem desenvolver reações alérgicas aos materiais utilizados na derivação ventriculoperitoneal.
A válvula que regula o fluxo de líquor3 pode falhar, resultando em subdrenagem ou superdrenagem do líquido. Durante a cirurgia pode ocorrer formação de hematoma39 no local da incisão34 ou em outras áreas do cérebro2, aumentando o risco de complicações neurológicas.
O cateter que conecta o ventrículo cerebral ao peritônio40 pode se deslocar ou desconectar-se, interrompendo o fluxo adequado do líquido cerebrospinal. Podem ocorrer aderências peritoneais, obstrução intestinal ou vazamento de líquido no espaço peritoneal.
Embora menos comuns, podem ocorrer complicações neurológicas, como convulsões, déficits motores ou sensoriais, especialmente se houver lesão41 cerebral durante a cirurgia.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Biblioteca Virtual em Saúde e do ARCA - Repositório Institucional da Fiocruz.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.