Fístula liquórica cerebral o que saber sobre ela?
O que é o líquor1?
O cérebro2 e a medula3 são envolvidos por um líquido límpido e cristalino4, semelhante à água, chamado líquor1 ou líquido cefalorraquidiano5 (LCR), o qual forma uma espécie de "colchão" protetor do cérebro2 e da medula espinhal6 contra agressões externas. O líquor1 é um líquido produzido nos ventrículos laterais7, cavidades localizadas no interior do cérebro2, e reabsorvido nas vilosidades aracnoides encontradas em maior número no seio sagital superior8 e que circula envolvendo o cérebro2 e a medula espinhal6.
Esse líquido fica contido e aprisionado dentro das meninges9 que recobrem o sistema nervoso10. A função principal do líquor1 é fornecer uma barreira mecânica e imunológica, protegendo o sistema nervoso central11, mas, além disso, funciona como uma interface entre o cérebro2 e o sangue12 na troca de fluidos e eletrólitos13. Um balanço entre a produção e absorção do líquor1 faz com que o volume constante dele fique em torno de cerca de 125-150 ml.
O que é fístula14 liquórica?
A fístula14 liquórica ocorre quando há comunicação entre o espaço subaracnóideo (que contém o líquor1) e o exterior, devido a algum rompimento nas meninges9, permitindo a saída de líquor1 para o exterior. As fístulas15 liquóricas são classificadas de forma didática em fístulas15 de origem nasal e de origem otológica, conforme “vazem” para as cavidades nasais ou do ouvido.
Na maior parte das vezes, essa comunicação ocorre para as cavidades nasais ou para os seios16 da face17, de onde o líquor1 escore pelas narinas (rinoliquorreia), mas pode se dar também para cavidades do ouvido (otoliquorreia). As fístulas15 liquóricas rinogênicas são mais comuns do que as otológicas, mas ambas são de baixa prevalência18.
Leia também sobre "Meningites19", "Coriza20", "Fístulas15" e "Líquor1".
Quais são as causas da fístula14 liquórica?
As fistulas15 liquóricas (perfurações das meninges9) podem aparecer espontaneamente ou então surgir após algum traumatismo21 no crânio22. Um terceiro tipo de fístula14 relativamente frequente é a que se forma após uma cirurgia craniana. O trauma craniano é a causa mais comum, responsável por mais de 50% dos casos. Tumores de base do crânio23 e malformações24 congênitas25 são outras possíveis causas.
Qual é o substrato fisiológico26 da fístula14 liquórica?
Ao redor do líquor1, há uma membrana resistente chamada dura máter, que é um compartimento hermético, cuja função, além de ajudar na proteção, é conter o líquor1 e evitar que ele "vaze" para o meio exterior. Se ela sofrer algum tipo de rompimento (“furo”), pode ocorrer vazamento do líquor1. É esse vazamento que é chamado de fístula14 liquórica.
Um dos locais onde aparecem fístulas15 com frequência é na região acima e atrás do nariz27, na chamada base do crânio23. Outro local onde as fístulas15 liquóricas também costumam ser frequentes é na região do ouvido. Além do crânio22, existem também as fístulas15 liquóricas localizadas na coluna vertebral28, pois o líquor1 também circula por lá. No entanto, esse artigo apenas focaliza as fístulas15 liquóricas cerebrais.
Quais são as características clínicas da fístula14 liquórica?
A fístula14 liquórica pode apresentar diversos sinais29 e/ou sintomas30, o mais frequente dos quais é a rinorreia31. Neste caso, a pessoa observará que o líquor1 fica escorrendo com frequência pelo nariz27, como acontece durante uma gripe32. A diferença é que o líquor1 tem a consistência totalmente líquida, como se fosse água, ao passo que nas gripes e resfriados a secreção é mais espessa.
À medida que o organismo vai perdendo líquor1, o cérebro2 vai ficando sem o seu "colchão" natural que o separa do envoltório ósseo do crânio22. Com isso, a pessoa apresenta dor de cabeça33 como um dos principais sintomas30. Além disso, a presença da fístula14 liquórica representa um risco de vida, podendo ser ponto de partida para infecções34 no sistema nervoso central11, como as meningites19.
Como o médico diagnostica a fístula14 liquórica?
Deve-se suspeitar da existência de uma fístula14 liquórica quando o paciente relata a saída de uma "água" pelo nariz27, ouvido ou ferida operatória, principalmente quando há história de traumatismo21 de crânio22 ou cirurgia neurológica recente.
A tomografia computadorizada35 é o exame de imagem essencial para pacientes36 com suspeita de fístula14 liquórica, mas pequenos defeitos na base do crânio23 podem não ser adequadamente visualizados por esse exame. A ressonância magnética37 é um exame mais útil, principalmente se há suspeita de meningocele. A cintilografia38 também pode auxiliar no diagnóstico39, mas tem como desvantagem a impossibilidade de localização do foco da fístula14. O meio mais seguro de localizar a fístula14 é o uso de fluoresceína intratecal (no espaço subaracnoide) durante o procedimento operatório.
Como o médico trata a fístula14 liquórica?
O tratamento vai depender muito da sua localização e da causa, mas em todas as situações o repouso do paciente é muito importante. As fístulas15 liquóricas traumáticas podem ser abordadas com tratamento conservador de repouso no leito com cabeceira elevada. Em geral, as fístulas15 se corrigem dentro de 7 dias, mas se não desaparecerem, a correção cirúrgica deve ser feita por via nasal ou intracraniana, conforme o caso.
Em 1981, Wigand utilizou pela primeira vez o endoscópio para reparar as fístulas15 e, desde então, seu uso tem sido cada vez mais difundido. Em aproximadamente 95% dos casos a cirurgia endoscópica por via nasal é efetiva, além de apresentar as vantagens de menor índice de náuseas40, vômitos41 e dor cabeça33, menor tempo de hospitalização e menor risco de perda definitiva do olfato. O tratamento pós-cirúrgico das fístulas15 pode incluir, além do repouso, sutura42 de reforço no local de saída do líquor1 e colocação de um dreno lombar.
Existem também medicamentos que o médico pode prescrever para diminuir a produção do líquor1 pelo organismo.
Quais são as complicações possíveis com a fístula14 liquórica?
A complicação mais temida é o risco de infecção43. Da mesma forma que o líquor1 sai do crânio22 para o meio exterior, inversamente pode ocorrer a entrada de bactérias para o interior do crânio22. E a presença de bactérias dentro do crânio22 causa infecção43 grave e potencialmente fatal, a chamada meningite44.
Saiba mais sobre "Espinha bífida45", "Traumatismos cranianos" e "Craniotomia46".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da John Hopkins Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.