Espinha bífida - defeito do tubo neural que pode ser evitado com o uso de ácido fólico na gravidez
O que é espinha bífida1?
A espinha bífida1 (do latim: spina bífida = espinha bifurcada) é uma grave anormalidade congênita2 do tubo neural3, a qual se desenvolve nos dois primeiros meses de gestação. Representa um defeito grave na formação dessa estrutura. A espinha bífida1 é uma das lesões4 congênitas5 mais comuns da medula espinhal6.
Algumas vértebras que recobrem a medula espinhal6 permanecem abertas e sem que suas diversas partes se fundam completamente. Se essa abertura for suficientemente grande, ela permitirá que parte da medula espinal7 se projete por ela, formando uma protuberância mole, sem proteção de um arcabouço ósseo.
Há três tipos clínicos de espinha bífida1:
- Espinha bífida1 oculta: a forma menos grave da anomalia. Nela, a parte exterior de algumas vértebras não está completamente fechada, mas o espaço nas vértebras é tão mínimo que a medula espinal7 não se projeta para o exterior.
- Meningocele: a forma menos comum de espinha bífida1. Nela, as vértebras se desenvolvem normalmente, mas a meninge é forçada nas lacunas entre as vértebras.
- Mielomeningocele8: o tipo mais comum e mais grave. É uma malformação9 em que as meninges10, a medula11 e as raízes nervosas12 estão expostas.
Quais são as causas da espinha bífida1?
A espinha bífida1 é causada pela falha no fechamento do tubo neural3, que deveria ocorrer durante o primeiro mês do desenvolvimento do feto13. Ela não segue padrões diretos de hereditariedade14. Alguns medicamentos, como anticonvulsivantes e antidiabéticos, a obesidade15, o aumento da temperatura corporal ou o fato de ter um parente portador podem aumentar as chances de um bebê nascer com espinha bífida1. A meningocele pode ser devido a tumores, além da síndrome16 de Currarino.

Qual é o mecanismo fisiopatológico da espinha bífida1?
A medula11 cervical, segmento medular contido entre as vértebras C1 a C8, controla os movimentos da região do pescoço17 e dos membros superiores; a medula11 torácica, entre T1 e T12, controla a musculatura do tórax18, abdômen e parte dos membros superiores; a coluna lombar, entre L1 e L5, controla os movimentos dos membros inferiores; e o segmento medular sacral, entre S1 e S5, controla parte dos membros inferiores e o funcionamento da bexiga19 e intestino.
Nos casos de espinha bífida1, os nervos envolvidos podem ser incapazes de controlar os músculos20 correspondentes, determinando paralisias. Conforme o nível da afecção21 fala-se de paralisia22 alta, média ou baixa.
Quais são as principais características clínicas da espinha bífida1?
Embora a espinha bífida1 possa ocorrer em qualquer nível da coluna vertebral23, é mais comum na região lombossacra24. Quando as raízes dos nervos que emergem ao nível lombossacral estão envolvidas, podem ocorrer graus variáveis de paralisia22 da musculatura servida por esses nervos. A sensibilidade (sensação de pressão, fricção, dor, calor, frio) também pode estar prejudicada. A ausência de sensibilidade pode ocasionar úlceras25 de pressão (escaras26). Ainda se pode verificar ausência de controle urinário e fecal.
Os sinais27 físicos de espinha bífida1 podem então incluir fraqueza e paralisia22 nas pernas, pé torto, luxação28 do quadril, escoliose29, incontinência30 ou infecção31 urinária, escaras26, irritações da pele32 e movimento ocular anormal. Muitas crianças com espinha bífida1 têm também graus variáveis de alergia33 ao látex, às vezes, implicando em risco de vida.
A espinha bífida1 pode ser associada a outras dismorfias, mas na maioria dos casos é uma malformação9 isolada. Pode haver a ocorrência de hidrocefalia34 e, em alguns casos, anormalidades do córtex cerebral. Na meningocele, como o sistema nervoso35 permanece intacto, nem sempre ocorrem problemas de saúde36 em longo prazo. Muitas pessoas com espinha bífida1 oculta nem sequer sabem que a possuem, porque a doença é assintomática na maioria dos casos.
Como o médico diagnostica a espinha bífida1?
A espinha bífida1 pode ser diagnosticada ainda durante a gravidez37, através de uma ultrassonografia38. O aumento dos níveis de alfafetoproteína no soro39 materno (MSAFP) no segundo trimestre da gravidez37 pode significar que o feto13 tenha um defeito no tubo neural3. Como este não é um exame específico para o diagnóstico40 da espinha bífida1, o médico pode solicitar uma ultrassonografia38 ou uma amniocentese41. Depois do nascimento, a espinha bífida1 pode ser reconhecida pela simples inspeção42.
Como o médico trata a espinha bífida1?
Não há cura para a espinha bífida1. Para evitar maiores danos ao tecido nervoso43 e para prevenir infecções44, os médicos podem realizar operações para fechar a abertura da coluna vertebral23, logo após o nascimento. No entanto, ele não fará retomar as funções da medula espinhal6 que já tenham sido afetadas. Em alguns casos, essa cirurgia pode ser realizada ainda na etapa fetal, mas a efetividade e a segurança dela ainda estão em estudos.
A atenção precoce às técnicas de reabilitação ajuda na preservação das possíveis deformidades ortopédicas, como pé torto, deslocamento coxofemoral, diminuição das amplitudes articulares, deformidades do tronco, entre outras. Pesquisas recentes indicam que a ingestão de ácido fólico nas semanas que antecedem a concepção45 e nas primeiras semanas da gestação reduz de modo significativo a incidência46 de espinha bífida1.
Como prevenir a espinha bífida1?
Sendo uma malformação9 congênita2, não há como prevenir totalmente a espinha bífida1. O risco de ela ocorrer pode ser reduzido em até 70% com a suplementação47 de ácido fólico antes da gravidez37. Pode-se, também, tentar minorar ou prevenir algumas consequências dela. As escaras26 eventualmente decorrentes da espinha bífida1 podem ser prevenidas com constantes mudanças de posição corporal, manutenção da higiene e hidratação da pele32. Para evitar-se o desenvolvimento da alergia33, o essencial é evitar o contato com produtos que contenham látex, como luvas de exame, preservativos e exames de cateterismo48, por exemplo.
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As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.