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Síndrome de Isaacs - conceito, causas, clínica, diagnóstico, tratamento e evolução

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O que é a síndrome1 de Isaacs?

A síndrome1 de Isaacs, também conhecida como síndrome1 de Isaacs-Mertens, síndrome1 de hiperexcitabilidade neuromuscular contínua ou neuromiotonia, é uma doença neuromuscular autoimune2 rara e crônica causada pela hiperexcitabilidade e ativação contínua dos axônios3 dos nervos periféricos que ativam as fibras musculares4 e, assim, afetam os nervos periféricos e os músculos5.

A síndrome1 foi primeiramente descrita clinicamente por H. Isaacs, em 1961, que a chamou de “síndrome da atividade contínua das fibras musculares”, a qual posteriormente recebeu o seu nome. Antes dele, contudo, os sintomas6 da síndrome1 já haviam sido mencionados pelo médico britânico Sir Ronald Aylmer Fisher em 1956.

Quais são as causas da síndrome1 de Isaacs?

A causa exata da síndrome1 de Isaacs não é totalmente compreendida, mas acredita-se que possa ser hereditária ou adquirida e que seja uma doença autoimune2, na qual o sistema imunológico7 do corpo ataca erroneamente os canais de íons8 nas membranas celulares dos músculos5.

A forma adquirida muitas vezes se apresenta em associação com neuropatias periféricas ou em seguida a radioterapias. Esse mau funcionamento dos canais iônicos nas membranas celulares dos músculos5 esqueléticos leva a uma excitabilidade anormal dos nervos e músculos5.

Pode ocorrer também como uma síndrome paraneoplásica9, acompanhar outras doenças ou ser hereditária.

Acredita-se que haja algumas anomalias na junção neuromuscular10, uma vez que os sintomas6 são eliminados pelo curare11, mas persistem mesmo após anestesia12 geral.

Leia sobre "Doeças neuromusculares", "Miopatias" e "Reabilitação funcional".

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de Isaacs?

A fisiopatologia13 da síndrome1 de Isaacs ainda não está compreendida, mas várias teorias foram propostas para explicar seus mecanismos subjacentes. A desregulação dos canais de íons8 nas membranas das células nervosas14 e musculares é uma das teorias mais aceitas. Mais especificamente, acredita-se que haja uma hiperexcitabilidade dos nervos periféricos devido a uma anormalidade na função dos canais de sódio, o que pode resultar numa despolarização repetitiva e anormal das membranas das células nervosas14 e musculares, levando a contrações musculares contínuas e involuntárias.

Alguns estudos sugerem que a síndrome1 possa ser mediada por autoanticorpos que atacam os canais de íons8 na membrana das células nervosas14 e musculares. Esses autoanticorpos podem interferir na função dos canais de sódio, potássio ou cálcio, contribuindo para a hiperexcitabilidade dos nervos periféricos.

A síndrome1 de Isaacs está frequentemente associada a distúrbios autoimunes15, como miastenia16 gravis, lúpus17 eritematoso18 sistêmico19 e artrite reumatoide20. Acredita-se também que uma disfunção do sistema imunológico7 possa desempenhar um papel na patogênese21 da síndrome1, contribuindo para a produção de autoanticorpos e para a inflamação22 que afeta os nervos periféricos.

Outros estudos sugerem que a hiperexcitabilidade dos nervos periféricos possa ser resultado de anormalidades nos neurônios23 motores ou nas conexões sinápticas, podendo levar a uma maior liberação de neurotransmissores excitatórios, como a acetilcolina24, que causam contrações musculares excessivas.

Quais são as características clínicas da síndrome1 de Isaacs?

Os casos até hoje relatados da síndrome1 de Isaacs aconteceram em indivíduos com idade entre os 15 e os 60 anos, sendo que a maioria apresentou os primeiros sintomas6 antes dos 40 anos. Ela acomete sobretudo os homens, principalmente jovens, se caracterizando pela instalação progressiva de espasmos25 que podem provocar dispneia26, disfagia27 e estridor laríngeo.

Essa síndrome1 é caracterizada por contrações musculares involuntárias, espasmos25 musculares e rigidez muscular persistente. Alguns dos principais sintomas6 incluem fasciculações28 musculares visíveis sob a pele29, fraqueza e rigidez muscular, cãibras musculares, sudorese30 excessiva, dificuldade em relaxar os músculos5 voluntariamente e insônia devido aos espasmos25 musculares noturnos. A fala e a respiração também podem ser afetadas.

Na síndrome1 de Isaacs, os membros e o tronco são as partes mais afetadas, embora os sintomas6 possam estar limitados aos músculos5 do crânio31. A condição definitiva para diagnosticar a síndrome1 é a mioquimia (torção32 muscular contínua descrita como movimento em “saco de vermes”). Esses sintomas6 se apresentam mesmo durante o sono ou quando a pessoa está sob anestesia12 geral.

Deve-se ressaltar que a síndrome1 de Isaacs pode variar amplamente em gravidade. Algumas pessoas podem ter sintomas6 leves, que não afetam significativamente sua qualidade de vida, enquanto outras podem experimentar sintomas6 mais graves, que interferem nas atividades diárias.

Como o médico diagnostica a síndrome1 de Isaacs?

O diagnóstico33 baseia-se em achados clínicos, resultados dos estudos de condução nervosa, eletroneuromiografia e exames laboratoriais à procura de marcadores específicos de anticorpos34. Essa enfermidade deve ser diferenciada das miotonias, da doença de McArdle e da síndrome1 da pessoa rígida.

Como o médico trata a síndrome1 de Isaacs?

O tratamento envolve a administração de medicamentos que reduzem a excitabilidade dos nervos e músculos5, como os anticonvulsivantes. Entre eles, a fenitoína e a carbamazepina oferecem melhoria significativa da rigidez dos espasmos25 e da dor associada a eles.

A plasmaférese pode proporcionar alívio a curto prazo às pessoas que têm a forma adquirida dos sintomas6. Em casos graves, a terapia com imunoglobulina35 intravenosa ou a remoção cirúrgica de uma parte do sistema nervoso periférico36 (simpatectomia) podem ser consideradas.

Como evolui a síndrome1 de Isaacs?

Em muitos casos, a síndrome1 de Isaacs é uma condição crônica, mas não fatal. Os sintomas6 podem ser controlados com anticonvulsivantes, imunoglobulina35 intravenosa, plasmaférese ou cirurgia para descomprimir nervos comprimidos em casos graves.

No entanto, o tratamento pode não ser eficaz em todos os casos e os sintomas6 podem persistir ao longo da vida. O prognóstico37 individual depende da resposta ao tratamento, da gravidade dos sintomas6 e de fatores individuais.

Veja também sobre "O papel dos neurotransmissores", "Convulsões" e "Coreia de Sydenham38".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do site do National Institute of Neurological Disorders and Stroke – USA.

ABCMED, 2023. Síndrome de Isaacs - conceito, causas, clínica, diagnóstico, tratamento e evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1460205/sindrome-de-isaacs-conceito-causas-clinica-diagnostico-tratamento-e-evolucao.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Autoimune: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
3 Axônios: Prolongamento único de uma célula nervosa. Os axônios atuam como condutores dos impulsos nervosos e só possuem ramificações na extremidade. Em toda sua extensão, o axônio é envolvido por um tipo celular denominado célula de Schwann.
4 Fibras Musculares: Células grandes, multinucleadas e individuais (cilídricas ou prismáticas) que formam a unidade básica do tecido muscular esquelético. Constituídas por uma substância mole contrátil, revestida por uma bainha tubular. Derivam da união de MIOBLASTOS ESQUELÉTICOS com o sincício, seguida de diferenciação.
5 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
6 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
7 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
8 Íons: Átomos ou grupos atômicos eletricamente carregados.
9 Síndrome paraneoplásica: Conjunto de manifestações de caráter imunológico ou humoral que podem preceder ou acompanhar uma neoplasia. Entre as manifestações mais freqüentes citam-se a acantose nigrans, diversas artrites, prurido, etc.
10 Junção neuromuscular: A sinapse entre um neurônio e um músculo.
11 Curare: Substância tóxica extraída de plantas do gênero Strychnos e Chondodentron da América do Sul, utilizada pelos índios sul-americanos como veneno para as flechas. É um poderoso relaxante muscular, matando por paralisia dos músculos respiratórios, já que possui uma ação paralisante intensa e letal.
12 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
13 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
14 Células Nervosas: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO.
15 Autoimunes: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
16 Miastenia: Perda das forças musculares ocasionada por doenças musculares inflamatórias. Por ex. Miastenia Gravis. A debilidade pode predominar em diferentes grupos musculares segundo o tipo de afecção (debilidade nos músculos extrínsecos do olho, da pelve, ou dos ombros, etc.).
17 Lúpus: 1. É uma inflamação crônica da pele, caracterizada por ulcerações ou manchas, conforme o tipo específico. 2. Doença autoimune rara, mais frequente nas mulheres, provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico. Nesta patologia, a defesa imunológica do indivíduo se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. Essas múltiplas formas de manifestação clínica, às vezes, podem confundir e retardar o diagnóstico. Lúpus exige tratamento cuidadoso por médicos especializados no assunto.
18 Eritematoso: Relativo a ou próprio de eritema. Que apresenta eritema. Eritema é uma vermelhidão da pele, devido à vasodilatação dos capilares cutâneos.
19 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
20 Artrite reumatóide: Doença auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem. Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos.
21 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
22 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
23 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
24 Acetilcolina: A acetilcolina é um neurotransmissor do sistema colinérgico amplamente distribuído no sistema nervoso autônomo.
25 Espasmos: 1. Contrações involuntárias, não ritmadas, de um ou vários músculos, podendo ocorrer isolada ou continuamente, sendo dolorosas ou não. 2. Qualquer contração muscular anormal. 3. Sentido figurado: arrebatamento, exaltação, espanto.
26 Dispnéia: Falta de ar ou dificuldade para respirar caracterizada por respiração rápida e curta, geralmente está associada a alguma doença cardíaca ou pulmonar.
27 Disfagia: Sensação consciente da passagem dos alimentos através do esôfago. Pode estar associado a doenças motoras, inflamatórias ou tumorais deste órgão.
28 Fasciculações: 1. Implantações, formações de fascículos. 2. Leves contrações localizadas de fascículos musculares inervados por um único filamento nervoso motor, visíveis como breves tremores na superfície da pele.
29 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
30 Sudorese: Suor excessivo
31 Crânio: O ESQUELETO da CABEÇA; compreende também os OSSOS FACIAIS e os que recobrem o CÉREBRO. Sinônimos: Calvaria; Calota Craniana
32 Torção: 1. Ato ou efeito de torcer. 2. Na geometria diferencial, é a medida da derivada do vetor binormal em relação ao comprimento de arco. 3. Em física, é a deformação de um sólido em que os planos vizinhos, transversais a um eixo comum, sofrem, cada um deles, um deslocamento angular relativo aos outros planos. 4. Em medicina, é o mesmo que entorse. 5. Na patologia, é o movimento de rotação de um órgão sobre si mesmo. 6. Em veterinária, é a cólica de alguns animais, especialmente a do cavalo.
33 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
34 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
35 Imunoglobulina: Proteína do soro sanguíneo, sintetizada pelos plasmócitos provenientes dos linfócitos B como reação à entrada de uma substância estranha (antígeno) no organismo; anticorpo.
36 Sistema Nervoso Periférico: Sistema nervoso localizado fora do cérebro e medula espinhal. O sistema nervoso periférico compreende as divisões somática e autônoma. O sistema nervoso autônomo inclui as subdivisões entérica, parassimpática e simpática. O sistema nervoso somático inclui os nervos cranianos e espinhais e seus gânglios e receptores sensitivos periféricos. Vias Neurais;
37 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
38 Coréia de Sydenham: Coréia, palavra derivada do grego que significa dançar, consiste em movimentos involuntários, ora em repouso, ora perturbando o movimento voluntário, arrítmicos, assimétricos, bruscos, breves e sem propósito. A coréia de Sydenham, também conhecida como coréia menor ou coréia reumática, é um dos principais indicadores diagnósticos de febre reumática. Ela afeta predominantemente crianças entre 5 e 15 anos, com maior freqüência no sexo feminino.
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