Entre o Alzheimer e o Parkinson: como reconhecer e manejar a Demência por Corpos de Lewy
O que é a Demência1 por Corpos de Lewy?
A Demência1 por Corpos de Lewy (DCL2) é uma demência1 neurodegenerativa progressiva, caracterizada pela presença de depósitos anormais da proteína alfa-sinucleína, que se acumulam dentro das células nervosas3 do cérebro4 (neurônios5). São esses depósitos que chamamos 'corpos de Lewy'. A DCL2 é considerada a segunda causa mais comum de demência1 após a doença de Alzheimer6, representando cerca de 10% a 25% dos casos.
A DCL2 afeta principalmente idosos acima dos 60 anos, embora possa ocorrer em idades mais precoces, e distingue-se pela combinação de sintomas7 cognitivos8, motores, autonômicos e comportamentais.
Ela está intimamente relacionada à doença de Parkinson9, já que ambas compartilham a presença de corpos de Lewy; no entanto, na DCL2, os sintomas7 cognitivos8 surgem antes ou simultaneamente aos sintomas7 motores. Já na demência1 associada à doença de Parkinson9, os sintomas7 motores precedem a demência1 em pelo menos um ano.
Quais são as causas e os fatores de risco?
As causas exatas não são totalmente conhecidas. A formação de corpos de Lewy, compostos por alfa-sinucleína mal dobrada, é o núcleo da fisiopatologia10 e compromete a comunicação neuronal, levando à morte celular.
Fatores genéticos podem estar envolvidos, como mutações nos genes SNCA (alfa-sinucleína) e GBA (associado à doença de Parkinson9). Embora a maioria dos casos seja esporádica, o histórico familiar aumenta o risco. Idade avançada, sexo masculino e a presença de doença de Parkinson9 ou transtorno do sono REM também se associam à maior probabilidade de desenvolvimento da doença.
Fatores ambientais, como exposição a toxinas11, são investigados, mas não há evidências conclusivas; provavelmente, há uma interação entre predisposição genética e ambiente.
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Como é a fisiopatologia10 da DCL2?
A DCL2 é marcada pelo acúmulo de corpos de Lewy no córtex cerebral, sistema límbico e tronco encefálico12, causando disfunção e morte neuronal. Além desses achados, podem coexistir placas13 amiloides semelhantes às da doença de Alzheimer6, sugerindo sobreposição patológica.
Há também disfunções nos sistemas dopaminérgico e colinérgico14, explicando, respectivamente, os sintomas7 motores e cognitivos8. Alterações no córtex visual estão associadas às alucinações15, e lesões16 no tronco encefálico12 justificam os distúrbios do sono REM e as manifestações autonômicas.
Quais são as possíveis manifestações clínicas da patologia17?
A DCL2 apresenta-se com uma tríade característica:
- flutuações cognitivas marcadas por períodos de lucidez alternados com confusão ou sonolência;
- alucinações15 visuais detalhadas e recorrentes (com visões de pessoas ou animais);
- e sintomas7 parkinsonianos como rigidez, bradicinesia18 e instabilidade postural (o tremor costuma ser menos proeminente do que na doença de Parkinson9).
Outros achados incluem transtorno do sono REM, frequentemente antecedendo a demência1 em anos; hipersensibilidade a neurolépticos19; sintomas7 autonômicos (hipotensão20 ortostática, constipação21, incontinência urinária22, disfunção erétil); e manifestações neuropsiquiátricas (depressão, ansiedade, apatia23 e delírios).
A combinação variável desses sinais24 dificulta o diagnóstico25.
Como o médico faz o diagnóstico25?
O diagnóstico25 é clínico, baseado em critérios de consenso. É necessária a presença de demência1 progressiva, com declínio cognitivo26 interferindo na vida diária, associada a pelo menos uma característica central (flutuações cognitivas, alucinações15 visuais recorrentes, parkinsonismo, transtorno do sono REM ou hipersensibilidade a neurolépticos19).
Exames complementares podem auxiliar: SPECT ou PET mostram redução na captação dopaminérgica; a polissonografia27 pode confirmar o transtorno do sono REM; e a ressonância magnética28 ajuda a excluir diagnósticos diferenciais, embora não seja específica. Testes neuropsicológicos são úteis para avaliar memória, atenção e funções visuoespaciais.
A diferenciação com Alzheimer29 e demência1 frontotemporal é fundamental.
Em que se baseia o tratamento?
Não há cura. O tratamento é sintomático30 e multidisciplinar, voltado para qualidade de vida. Inibidores da colinesterase podem melhorar cognição31 e reduzir alucinações15. A levodopa é usada para sintomas7 motores, mas com cautela pelo risco de exacerbar sintomas7 psicóticos. Para delírios ou alucinações15 graves, pode-se considerar antipsicóticos atípicos em baixas doses, como a quetiapina, evitando neurolépticos19 típicos. Antidepressivos auxiliam em sintomas7 afetivos.
Medidas não farmacológicas incluem fisioterapia32 para mobilidade, terapia ocupacional33 para autonomia, terapia cognitivo26-comportamental para sintomas7 psiquiátricos e apoio aos cuidadores, com adaptações ambientais para reduzir riscos.
Como são a evolução e o prognóstico34 da doença?
A DCL2 apresenta evolução progressiva, com expectativa média de vida de 5 a 8 anos após o diagnóstico25 (geralmente mais curta que na doença de Alzheimer6). O declínio cognitivo26 e motor tende a ser contínuo, resultando em dependência funcional total nos estágios finais, com disfagia35, mutismo36 e imobilidade.
Quais são as possíveis complicações?
As principais complicações incluem quedas frequentes devido ao parkinsonismo, pneumonia37 aspirativa decorrente de disfagia35, reações adversas a neurolépticos19 com rigidez e sedação38 grave, declínio funcional acelerado e disfunções autonômicas graves, como hipotensão20 ortostática, predispondo a síncopes39 e traumatismos.
Veja também sobre "Doenças nervosas degenerativas40", "Mal de Alzheimer29" e "Distúrbio neurocognitivo".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do National Institute on Aging e da SciELO.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.