Quando a menopausa afeta músculos e articulações
O que é síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
A menopausa2 marca o fim da fase reprodutiva da mulher, geralmente entre 45 e 55 anos, com a cessação permanente da menstruação3 por 12 meses consecutivos. Esse período é acompanhado por alterações hormonais profundas, especialmente a queda acentuada dos níveis de estrogênio, progesterona e, em menor grau, testosterona.
Embora os sintomas4 vasomotores (“ondas de calor”) e geniturinários sejam mais conhecidos, cerca de 70% das mulheres na pós-menopausa2 relatam queixas musculoesqueléticas que interferem significativamente na qualidade de vida. Essas manifestações formam um conjunto clínico denominado Síndrome1 Musculoesquelética da Menopausa2 (SMM), reconhecida nos últimos 15 anos como distinta, embora ainda subdiagnosticada.
A SMM é um espectro de sintomas4 dolorosos e funcionais que afetam músculos5, tendões6, ligamentos7, articulações8 e ossos, desencadeados ou agravados pela transição da menopausa2. Trata-se de um fenômeno multifatorial e progressivo, que engloba sintomas4 de variadas naturezas, ocorrendo na ausência de doença reumática inflamatória sistêmica ou lesão9 estrutural grave preexistente.
Quais são as causas da síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
A causa principal é a hipoestrogenia crônica (baixa produção de estrogênio). O estrogênio exerce efeitos tróficos diretos e indiretos no tecido conjuntivo10. Receptores estrogênicos estão presentes em condrócitos11, sinoviócitos, fibroblastos12 tendíneos, miócitos e osteoblastos/osteoclastos13, de foram que a subativação deles:
- reduz a síntese de todos os tipos de colágeno14;
- aumenta a degradação proteica;
- favorece a reabsorção óssea;
- reduz a síntese de proteoglicanos na cartilagem articular15, com perda de hidratação e elasticidade16;
- diminui a perfusão microvascular sinovial e muscular por queda de óxido nítrico endotelial;
- e aumenta a sensibilidade à dor por modulação descendente reduzida de serotonina e noradrenalina17 no corno dorsal medular.
Fatores agravantes incluem índice de massa corporal18 elevado; sedentarismo19, que acelera a sarcopenia; tabagismo, que tem ação antiestrogênica e pró-inflamatória; deficiência de vitamina20 D; e histórico de sobrecarga articular por microtraumas repetitivos.
Veja sobre "Irregulares menstruais", "Terapia de Reposição Hormonal ou TRH" e "Reposição hormonal com hormônios bioidênticos".
Qual é a fisiopatologia21 da síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
A fisiopatologia21 é multifásica e envolve três eixos principais: (1) eixo degenerativo22; (2) eixo inflamatório; e (3) eixo metabólico-endócrino23.
No eixo 1:
- há redução de condrócitos11 viáveis nas cartilagens24 e fissuração precoce;
- o colágeno14 tipo I dos tendões6 e ligamentos7 torna-se mais rígido e menos elástico;
- ocorre atrofia25 de fibras tipo II (rápidas) nos músculos5, com infiltração gordurosa (sarcopenia tipo menopausa2);
- os ossos trabeculares têm sua microarquitetura comprometida, com trabéculas26 mais finas e desconexas, diminuindo 2 a 3% ao ano nos primeiros 5 anos pós-menopausa2.
No eixo 2:
- as citocinas27 pró-inflamatórias estão elevadas na sinóvia e nos músculos5, mesmo sem infecção28;
- há maior participação de mecanismos de sensibilização central, com microglia ativada por hipoestrogenia, originando sintomas4 semelhantes aos da fibromialgia29;
- ocorre disfunção do eixo hipotálamo30-hipófise31-adrenal, com cortisol basal elevado, mas resposta ao estresse atenuada.
No eixo 3:
- há resistência insulínica relativa;
- ocorre disfunção mitocondrial muscular com menor biogênese;
- observa-se alteração do microbioma32 intestinal com redução de enterolactona.
Quais são as características clínicas da síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
O quadro típico surge em mulher de 48-58 anos, 1 a 3 anos após a menopausa2, com:
- Artralgias33 (dor articular difusa, especialmente em joelhos, ombros, mãos34 e coluna)
- Mialgias35 (dor muscular generalizada ou localizada)
- Rigidez matinal ou pós-repouso
- Fraqueza muscular proximal36 (dificuldade para subir escadas ou levantar os braços, por exemplo)
- Tendinopatias (especialmente do manguito rotador37 e/ou tendão de Aquiles38)
- Síndrome1 do túnel do carpo (mais prevalente na perimenopausa)
- Dor lombar crônica de origem degenerativa39 acelerada
- Perda de densidade mineral óssea (osteopenia/osteoporose40 precoce).
Sintomas4 associados incluem insônia, humor depressivo, fadiga41 crônica e ganho de peso central. A flutuação dos sintomas4 ao longo do dia é comum e pode mimetizar quadros reumatológicos funcionais.
Como o médico diagnostica a síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
A SMM é um diagnóstico42 de exclusão, mas com características temporais claras, com início ou piora acentuada nos 2-5 anos que sucedem a última menstruação3. O diagnóstico42 é clínico, devendo seguir uma história médica de início na peri/pós-menopausa2, ausência de trauma, sem febre43 e sem perda ponderal44. O exame físico deve mostrar dor à palpação45 difusa, sem sinais flogísticos46.
Nos exames de laboratório, um FSH maior que 30 UI/L + estradiol menor que 20 pg/mL confirma menopausa2. A PCR47 e a VHS48 são normais ou levemente elevadas (<2x normal). Frequentemente há deficiência de vitamina20 D e hipotireoidismo49 subclínico. As imagens de RX de mãos34 e joelhos mostram ausência de erosões e possível osteopenia precoce.
A avaliação deve sempre excluir artrites inflamatórias, polimialgia reumática e doenças da tireoide50.
Leia sobre "Miomas uterinos", "Pólipos51 uterinos", "Adenomiose52" e "Endometriose53".
Como o médico trata a síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
O tratamento é multimodal, individualizado e escalonado, podendo incluir:
- Medidas não farmacológicas
- Exercício físico supervisionado
- Hidroterapia54 ou pilates
- Fisioterapia55 (TENS, ultrassom, liberação miofascial, reeducação postural, ergonomia)
- Terapia cognitivo56-comportamental para dor crônica, adesão ao tratamento e manejo de sintomas4 emocionais associados
- Reposição hormonal
- Tem indicação forte se os sintomas4 vasomotores são intensos e se não houver contraindicações (tromboembolismo57, câncer58 hormônio59-dependente ou outras).
- O esquema preferencial é o estrogênio transdérmico (patch 50 mcg/dia) + progesterona micronizada cíclica ou contínua.
- Geralmente, há benefício musculoesquelético, com redução de 40-60% na dor em cerca de 3 meses.
- Tratamento farmacológico sintomático60
- Analgésicos61
- Anti-inflamatórios tópicos ou sistêmicos62 curtos
- Suplementação63 de vitamina20 D, cálcio e magnésio
- Tratamento da osteoporose40 ou de fratura64 prévia
O manejo deve priorizar a restauração da força muscular e a manutenção da função cotidiana, evitando dependência prolongada de analgésicos61. O acompanhamento conjunto com ginecologista, reumatologista e fisioterapeuta é o ideal.
Como evolui a síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
A fase aguda dura de 0 a 3 anos pós-menopausa2 e o pico de sintomas4 ocorre em 80% das pacientes. A fase subaguda65 dura de 3 a 7 anos, com estabilização ou regressão parcial dos sintomas4 tratados. A fase crônica dura mais que 7 anos, persistindo em 30-40% das mulheres, com dor residual, especialmente se a sarcopenia não for revertida.
Com intervenção precoce, 70% das pacientes alcançam remissão funcional em 12-18 meses. Sem tratamento, 25% evoluem para incapacidade moderada. Estudos longitudinais mostram que intervenções nos primeiros 5 anos pós-menopausa2 reduzem em 50% o risco de dependência funcional aos 70 anos.
A velocidade da recuperação depende diretamente do nível de atividade física e da adesão ao tratamento.
Quais são as complicações possíveis com a síndrome1 musculoesquelética da menopausa2?
Há um risco cerca de 2,5 vezes maior de fratura64 osteoporótica em vértebra, punho e colo femoral66. Pode ocorrer sarcopenia grave com quedas recorrentes; fibromialgia29 secundária; depressão maior; doença cardiovascular, devido à imobilidade e ganho de peso; incontinência urinária67 de esforço por fraqueza do assoalho pélvico68; e perda de autonomia, com necessidade de cuidador em 5-10% das mulheres aos 70 anos.
Tendinopatias crônicas e incapacidade funcional persistente podem limitar atividades básicas, como caminhar ou carregar peso.
Veja também sobre "15 sintomas4 de câncer58 que muitas mulheres ignoram", "Perda involuntária69 de urina70 em mulheres", "Frigidez feminina" e "Queda da libido71".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Taylor & Francis Group e da National Library of Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.










