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As emoções e os órgãos

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Qual é a relação entre as emoções e os órgãos?

A relação entre emoções e órgãos é um tema complexo que tem sido abordado de modos diferentes em várias tradições culturais e sistemas de medicina ao longo da história. Embora haja uma falta de consenso sobre essa questão, tanto no pensamento científico quanto nas concepções populares, algumas ideias a respeito persistem e são usuais.

Na medicina ocidental oficial, o mais comum é considerar que as emoções atuam sobre os órgãos, compartimentando o psicológico e o físico em dois setores separados e concebendo uma relação de causa e efeito entre eles. Assim, a ansiedade causa efeitos sobre os pulmões;1 a raiva2 causa efeitos sobre o fígado3; o medo causa efeitos sobre os intestinos4; etc.

Outras concepções existem, sobretudo no pensamento oriental, que veem esses dois setores como unidos numa única realidade. A ansiedade é a dificuldade respiratória; a raiva2 é o transtorno hepático e vesicular; o medo é a maior contração dos intestinos4; etc. Tudo isso, ao mesmo tempo que os sentimentos que lhes corresponde.

Em realidade, é impossível experimentar alguma emoção psíquica sem que ela apresente também uma manifestação fisiológica5 em algum órgão do corpo. Pode-se, portanto, tentar estudar as relações específicas entre os vários tipos de sentimentos psicológicos e as manifestações orgânicas correspondentes, por mais que o assunto seja fluido e pouco consistente.

Leia sobre "Síndrome6 do intestino irritável", "Doenças psicossomáticas" e "Neuroticismo7".

Quais são as relações específicas entre as emoções e os órgãos do corpo?

Tanto nas concepções populares como na teoria científica, a existência das relações entre as emoções e o corpo físico são reconhecidas. A voz popular fala em “vermelho de raiva” e “mijando de medo”, por exemplo, e a medicina ocidental oficial fala de “úlcera nervosa” e “anorexia8 mental”.

Entretanto, estabelecer relações específicas entre emoções e órgãos do corpo é uma tarefa complexa e nem sempre exequível, porque elas podem variar de pessoa para pessoa e nem sempre são feitas de uma maneira direta. Ainda assim, algumas pesquisas e tradições filosóficas têm abordado essas conexões.

Coração9

O coração9 é reconhecido como um órgão muito sensível aos estados emocionais. Emoções positivas, como a alegria, parecem fortalecê-lo, enquanto as emoções negativas, como a culpa e o remorso, parecem enfraquecê-lo e contribuir para gerar doenças cardíacas. Também a circulação10 sanguínea por meio das artérias11 cardíacas parece ser muito sensível a estados emocionais particulares. Ocorrências como a angina12 pectoris e o infarto do miocárdio13 são reconhecidamente influenciadas por condições emocionais.

Pulmões14

Aos pulmões14 são associadas as emoções de dor e tristeza, além de ansiedade. A sensação de ver negado o próprio espaço físico pode causar problemas de restrições respiratórias e asma15. Ao contrário, os sentimentos de dignidade e orgulho contribuem para a abertura do tórax16 e permitem que os pulmões14 se expandam e trabalhem melhor. A ansiedade cursa sempre com a sensação de “respiração curta” e, às vezes, com dor no peito17.

Garganta18

A garganta18 é o centro da comunicação do corpo e inclui também uma porção do sistema digestivo19. Fortes emoções, como a ansiedade e a tensão, podem causar problemas tais como o clássico “nó na garganta” ou a “dificuldade de engolir”, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. As palavras reprimidas podem causar o mesmo efeito. É notório como a alegria ou a tristeza produzem tons de voz característicos e como, ante situações impactantes, diz-se que a pessoa “perdeu a voz”.

Fígado3 e vesícula biliar20

Esses dois órgãos são vulneráveis às emoções de ira, como a raiva2, a irritabilidade, a frustração, o ressentimento, o ciúme e a inveja, emoções essas que podem danificá-los e irradiar para a cabeça21, causando dores de cabeça21, pescoço22 e ombro, tensão e estresse. Podem também aparecer distúrbios digestivos provocados pelo mal funcionamento do fígado3 e da vesícula biliar20. A voz popular chama de “bilioso” o indivíduo mal-humorado e irritadiço. O próprio termo melancolia (= a bile23 escura), como forma de depressão que causa preocupações excessivas e ansiedade, deriva da observação de alterações da bile23 nessas circunstâncias. Até há alguns anos, todo mal-estar indefinido e mal compreendido era atribuído a uma “doença do fígado”, assim como hoje é referido a uma “depressão”, e as medicações chamadas de “protetoras hepáticas” caíram no gosto popular.

Estômago24

O estômago24, assim como o fígado3, pode coletar emoções de ira, e quando essas emoções se acumulam no estômago24 podem causar úlceras25 e gastrite26. Também passividade, preocupação, ansiedade, tensão e estresse podem causar problemas de estômago24, cólicas27, inchaço28 e até distúrbios como náuseas29 e desordens do apetite.

Intestino

O intestino é sede de muitas desordens psicossomáticas. Distúrbios digestivos causados por emoções são muito frequentes. Emoções melancólicas se emaranham na porção média e inferior do intestino e se manifestam por uma lentificação do funcionamento intestinal. O cólon30 pode sentir os efeitos negativos da preocupação, da ansiedade, do estresse, da tensão e do nervosismo. Algumas predisposições genéticas, como cólon30 irritável, sofrem uma grande influência dos estados emocionais. Mesmo a fisiologia31 normal dos intestinos4 é grandemente dependente de emoções particulares.

Rins32 e bexiga33

O medo e o terror são as emoções que mais afetam os rins32 e a bexiga33, alterando as funções de retenção e evacuação da urina34. Medo e sustos extremos podem levar à perda do controle da função renal35 e urinária.

 

Assim, de um modo simplificado, mas de alguma validade como guia geral, podemos dizer que a relação entre as emoções e os órgãos é mais ou menos a seguinte:

  1. A raiva2, a frustração e o ressentimento afetam o fígado3.
  2. A alegria e a euforia afetam o coração9.
  3. A preocupação afeta os pulmões14 e o baço36.
  4. A melancolia e o ato de remoer pensamentos afetam o baço36.
  5. A tristeza, a mágoa e o pesar afetam os pulmões14.
  6. O medo afeta os rins32.
  7. O choque37 afeta os rins32 e o coração9.
  8. O ódio afeta o coração9.
  9. O desejo ardente afeta o coração9.
  10. A culpa afeta os rins32 e o coração9.
Veja sobre "Resiliência", "Agressividade", "O choro e o riso" e "Autossabotagem".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do Repositório Institucional da UFMG.

ABCMED, 2024. As emoções e os órgãos. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1467222/as-emocoes-e-os-orgaos.htm>. Acesso em: 3 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Pulmões;: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
2 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
3 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
4 Intestinos: Seção do canal alimentar que vai do ESTÔMAGO até o CANAL ANAL. Inclui o INTESTINO GROSSO e o INTESTINO DELGADO.
5 Fisiológica: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
6 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
7 Neuroticismo: Compreende um domínio da personalidade. As características dele são muito associadas a dimensões neuróticas da personalidade, como ansiedade, depressão, tensão, irracionalidade; geralmente apresenta características de baixa auto-estima e tendência a sentimentos de culpa.
8 Anorexia: Perda do apetite ou do desejo de ingerir alimentos.
9 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
10 Circulação: 1. Ato ou efeito de circular. 2. Facilidade de se mover usando as vias de comunicação; giro, curso, trânsito. 3. Movimento do sangue, fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos do corpo e do coração.
11 Artérias: Os vasos que transportam sangue para fora do coração.
12 Angina: Inflamação dos elementos linfáticos da garganta (amígdalas, úvula). Também é um termo utilizado para se referir à sensação opressiva que decorre da isquemia (falta de oxigênio) do músculo cardíaco (angina do peito).
13 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
14 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
15 Asma: Doença das vias aéreas inferiores (brônquios), caracterizada por uma diminuição aguda do calibre bronquial em resposta a um estímulo ambiental. Isto produz obstrução e dificuldade respiratória que pode ser revertida de forma espontânea ou com tratamento médico.
16 Tórax: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original Sinônimos: Peito; Caixa Torácica
17 Peito: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original
18 Garganta: Tubo fibromuscular em forma de funil, que leva os alimentos ao ESÔFAGO e o ar à LARINGE e PULMÕES. Situa-se posteriormente à CAVIDADE NASAL, à CAVIDADE ORAL e à LARINGE, extendendo-se da BASE DO CRÂNIO à borda inferior da CARTILAGEM CRICÓIDE (anteriormente) e à borda inferior da vértebra C6 (posteriormente). É dividida em NASOFARINGE, OROFARINGE e HIPOFARINGE (laringofaringe).
19 Sistema digestivo: O sistema digestivo ou digestório realiza a digestão, processo que transforma os alimentos em substâncias passíveis de serem absorvidas pelo organismo. Os materiais não absorvidos são eliminados por este sistema. Ele é composto pelo tubo digestivo e por glândulas anexas.
20 Vesícula Biliar: Reservatório para armazenar secreção da BILE. Através do DUCTO CÍSTICO, a vesícula libera para o DUODENO ácidos biliares em alta concentração (e de maneira controlada), que degradam os lipídeos da dieta.
21 Cabeça:
22 Pescoço:
23 Bile: Agente emulsificador produzido no FÍGADO e secretado para dentro do DUODENO. Sua composição é formada por s ÁCIDOS E SAIS BILIARES, COLESTEROL e ELETRÓLITOS. A bile auxilia a DIGESTÃO das gorduras no duodeno.
24 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
25 Úlceras: Feridas superficiais em tecido cutâneo ou mucoso que podem ocorrer em diversas partes do organismo. Uma afta é, por exemplo, uma úlcera na boca. A úlcera péptica ocorre no estômago ou no duodeno (mais freqüente). Pessoas que sofrem de estresse são mais susceptíveis a úlcera.
26 Gastrite: Inflamação aguda ou crônica da mucosa do estômago. Manifesta-se por dor na região superior do abdome, acidez, ardor, náuseas, vômitos, etc. Pode ser produzida por infecções, consumo de medicamentos (aspirina), estresse, etc.
27 Cólicas: Dor aguda, produzida pela dilatação ou contração de uma víscera oca (intestino, vesícula biliar, ureter, etc.). Pode ser de início súbito, com exacerbações e períodos de melhora parcial ou total, nos quais o paciente pode estar sentindo-se bem ou apresentar dor leve.
28 Inchaço: Inchação, edema.
29 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
30 Cólon:
31 Fisiologia: Estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
32 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
33 Bexiga: Órgão cavitário, situado na cavidade pélvica, no qual é armazenada a urina, que é produzida pelos rins. É uma víscera oca caracterizada por sua distensibilidade. Tem a forma de pêra quando está vazia e a forma de bola quando está cheia.
34 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
35 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
36 Baço:
37 Choque: 1. Estado de insuficiência circulatória a nível celular, produzido por hemorragias graves, sepse, reações alérgicas graves, etc. Pode ocasionar lesão celular irreversível se a hipóxia persistir por tempo suficiente. 2. Encontro violento, com impacto ou abalo brusco, entre dois corpos. Colisão ou concussão. 3. Perturbação brusca no equilíbrio mental ou emocional. Abalo psíquico devido a uma causa externa.
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