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Autossabotagem

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O que é autossabotagem?

É surpreendente que o desejo das pessoas de êxito nas suas atividades possa ser sabotado consciente ou inconscientemente pela própria pessoa. Por incrível que possa parecer, algumas pessoas sentem medo e/ou desconforto com o sucesso e procuram sabotá-lo. Asserções como “Você não é capaz de fazer isso!”, “Isso é muito difícil!”, “Se você tentar, vai falhar” soam como vindas de uma pessoa tirânica e cruel que deseja destruir a autoconfiança de outra.

Infelizmente, muitas vezes, o “tirano” é a própria pessoa. A autossabotagem é o comportamento que “cria” obstáculos para o próprio desenvolvimento e interfere negativamente em objetivos de longo termo. As pessoas nem sempre estão cientes de seu auto boicote e dos danos que isso está causando, porque os efeitos desse comportamento podem não se manifestar por algum tempo.

Quando não se consegue o que se deseja, o hábito é colocar a culpa em causas externas, mas se a pessoa olhar para trás e refletir um pouco acabará por ver que desempenhou um papel no fracasso de seus próprios planos. Ela se sabotou!

Quais são as causas da autossabotagem?

Há muitas razões potenciais pelas quais uma pessoa pode agir de maneira a prejudicar seus próprios objetivos. Algumas pessoas passam grande parte de suas vidas lutando fortemente por sucesso profissional, fama, dinheiro, comida, bebida, sexo e outras tentações, mas as forças que levam à autossabotagem podem ser igualmente fortes, embora mais sutis, como o acúmulo de crenças disfuncionais1 e distorcidas que levam as pessoas a subestimar suas capacidades e mesmo a destruir os pequenos êxitos que alcançam. Dessas pessoas pode-se dizer que são autodestrutivas e “desfazem com uma das mãos2 o que constroem com a outra”.

Uma das interpretações da origem da autossabotagem está na infância, no núcleo familiar, que é onde a pessoa adquire referências, constrói sua base de atuação no mundo, assimila traços da personalidade das pessoas com quem convive e adquire sentimentos de abandono, rejeição, culpa, dentre outros. Há correntes que pensam de forma diferente da citada.

Saiba mais sobre "Como lidar com o estresse", "Depressões" e "Transtorno de ansiedade generalizada".

Como se manifesta a autossabotagem?

Entre os comportamentos mais comuns de autossabotagem estão a procrastinação (adiamento), a automedicação3 com drogas ou álcool, a alimentação "confortável" e várias formas de autolesão. Esses atos podem parecer úteis no momento em que são feitos, mas acabam minando os objetivos pessoais. O pior é que a pessoa muitas vezes não reconhece o que está acontecendo. Em vez disso, atribui sua falta de sucesso a causas externas.

O sinal4 de que uma pessoa está sabotando a si mesma é quando ela se detém, sem nenhuma razão, ao tentar alcançar seus objetivos. A habilidade e o desejo existem, mas algo impede a pessoa de seguir em frente. Ou então, ela sente que não pode fazer algo que é capaz de fazer ou que não deve fazer algo, mesmo sabendo que, no fundo, quer ou precisa fazê-lo.

Existem alguns temas comuns no comportamento de autossabotagem:

  • Procrastinação (adiamento): deixa sempre “para depois”, começa projetos, mas nunca os termina.
  • Desmotivação: sente-se desmotivado ou incapaz de prosseguir, mesmo quando há muitas oportunidades interessantes.
  • Sonho sem ação: sonha em fazer algo, mas nunca toma uma atitude que leve a caminhar nessa direção.
  • Preocupação com coisas que realmente não deveriam importar.
  • Temor de que se falhar, os outros vão pensar negativamente sobre a pessoa.
  • Preocupação de que se for bem sucedido, os amigos não gostarão mais dela.
  • Duvida de si mesmo e de suas habilidades, mesmo que "saiba" e seja muito capaz.
  • Sente-se estressado(a) e ansioso(a) e talvez sofra de depressão inexplicável ou ataques de pânico ao tentar conseguir algo importante.
  • Sentimento frequente de raiva5.
  • Uso de uma comunicação agressiva e assertiva sem tomar medidas para mudar isso.
  • Destruição de relacionamentos com os outros (família, amigos, colegas de trabalho), com suas manifestações de raiva5, ciúmes e ressentimentos.
  • Sentimentos de inutilidade.
  • Exagero ao valorizar as conquistas de outras pessoas, diminuindo seu próprio esforço e merecimento.
  • Leva em consideração até mesmo críticas injustas ou equivocadas.
  • Permite que as outras pessoas a derrubem ou humilhem.

À medida que a pessoa continua nessa espiral de sentimentos, ela se tornará cada vez mais frustrada, desanimada e irritada consigo mesma. Esses sentimentos impedem de fazer o que for preciso para se libertar e, neste círculo vicioso, a pessoa vai se afundando, sem procurar ajuda.

Como resolver a autossabotagem?

Felizmente, é possível escapar do comportamento de autossabotagem e isso começa com o reconhecimento das mensagens negativas que a pessoa envia para si mesma. Apenas reconhecer as consequências autodestrutivas de um determinado comportamento não garante que a pessoa se desvincule dele, mas há técnicas que tornam possível superar qualquer forma de autossabotagem. Existem terapias comportamentais que podem ajudar a interromper padrões arraigados de pensamento e ação enquanto fortalecem os processos de deliberação e de autorregulação. Elas podem reconectar as pessoas com seus objetivos e valores.

Leia sobre "Terapia cognitvo comportamental", "Psicoterapia" e "Psiquiatra, psicólogo ou psicanalista".

A própria pessoa também pode fazer muito por si mesma, mediante uma atividade disciplinada que envolve:

  • Reconhecer seu comportamento de autossabotagem, como o primeiro passo para modificá-lo.
  • Verificar que objetivos manteve por um longo tempo e nunca conseguiu realizar.
  • Verificar em que falha consistentemente, sem nenhuma razão óbvia.
  • Verificar em que áreas está sempre adiando suas decisões.
  • Reconhecer se está faltando motivação para fazer algo que pensa em fazer.
  • Reconhecer que se acha frequentemente irritada ou frustrada e que isso pode estar afetando seus relacionamentos.
  • Verificar se outras pessoas não estão ficando frustradas com as expectativas a seu respeito.
  • Admitir e tomar as providências necessárias ao notar que há algo em sua vida que poderia fazer melhor do que faz.
  • Procurar ajuda psicológica caso não consiga melhorar sozinho.

Uma vez identificado o problema, a pessoa deve tentar modificá-lo:

  • Flagre o pensamento sabotador no momento em que ele estiver acontecendo e procure desfazer-se dele. A pessoa deve pensar no que costuma dizer para si mesma quando se envolve nesse comportamento e modificá-lo. O momento ideal para fazer isso é quando a pessoa está envolvida no comportamento.
  • Desafie seu pensamento de autossabotagem, contrariando-o. Pergunte: que pensamentos mais profundos estão por trás desse pensamento de autossabotagem? Esses pensamentos são racionais e baseados em fatos claros? As tentativas malsucedidas do passado impediram desnecessariamente que você fizesse uma mudança positiva?
  • Reconstrua sua autoconfiança. Pergunte a si mesmo o que você pode fazer de positivo ou encorajador.
  • Conquiste objetivos menores antes de alcançar os grandes objetivos que você não conseguiu alcançar no passado.
  • Transforme suas suposições e coloque-as na perspectiva correta.
  • Dê valor aos pequenos passos na direção da recuperação da auto-estima.
Veja também sobre "Estresse", "Transtorno do pânico", "Distimia" e "Transtorno ansioso social".

 

ABCMED, 2018. Autossabotagem. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1329023/autossabotagem.htm>. Acesso em: 12 out. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Disfuncionais: 1. Funcionamento anormal ou prejudicado. 2. Em patologia, distúrbio da função de um órgão.
2 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
3 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
4 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
5 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
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