Tentativas de suicídio
O que são tentativas de suicídio?
Uma tentativa de suicídio é uma busca de provocar a própria morte que não obteve o resultado desejado. As pessoas que tentam suicídio nem sempre estão convencidas de que esta é a sua única opção e, por isso, nem sempre desejam efetivamente morrer, sendo mais frequente que tenham esgotado suas reservas emocionais para continuar lutando. Algumas tentativas de suicídio são planejadas para não levar à morte, mas para produzir efeitos emocionais.
Do mesmo modo, e às vezes com a mesma efetividade, as ameaças de suicídio geralmente cumprem objetivos emocionais interpessoais. Contudo, as tentativas de suicídio devem sempre ser levadas muito a sério, por mais de um motivo.
Por um “erro de cálculo”, a tentativa de suicídio pode resultar em morte; pode, também, deixar graves sequelas1 permanentes; e sinalizam, por outro lado, um grande sofrimento da pessoa, que pode levá-la ao suicídio efetivamente.
Segundo diversos estudos, 25 a 50% das pessoas que se matam fizeram tentativas anteriores de suicídio. Assim, pois, as pessoas que tenham feito tentativas de suicídio estão em alto risco de cometerem suicídio.
Quais são os fatores que predispõem à tentativa de suicídio?
Os preditores mais assertivos das tentativas de suicídio são o número de ocorrências anteriores e a duração e intensidade do episódio atual de depressão. Assim, o tratamento da depressão, sobretudo em adolescentes e jovens, é uma meta preventiva importante.
A presença de disfunção familiar e altos níveis de suicídio e tentativas recentes entre consanguíneos e conhecidos devem alertar para um alto risco de tentativa futura de suicídio. Os fatores de risco também incluem ideação depressiva ou suicida.
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Quais são as relações entre as tentativas de suicídio e o suicídio efetivado?
Para cada caso de suicídio existem vinte ou mais casos de tentativas de suicídio. O verdadeiro suicídio quase sempre é planejado às escondidas e o ato suicida é pensado para não falhar. As pessoas realmente intencionadas a morrer não fazem tentativas. Em geral, basta um único episódio.
As tentativas de suicídio, ao contrário, quase sempre são alardeadas e calculadas para permitirem socorro a tempo. A relação entre as tentativas de suicídio e o suicídio efetivamente consumado é de 25/1 entre os jovens e de 4/1 entre os mais velhos. É também mais comum entre as mulheres e entre adolescentes de países em desenvolvimento que em países desenvolvidos.
Evidências recentes sugerem que a associação entre tentativas de suicídio e mortes por suicídio pode não ser tão forte quanto antes se pensava. Estima-se que apenas 10 a 15% das pessoas que tentam suicídio acabam morrendo por esse meio. Em caso de repetição da tentativa, a mortalidade2 é maior dentro dos primeiros anos a partir da tentativa inicial.
Quais são as características clínicas das tentativas de suicídio?
Toda tentativa de suicídio é um ato que tem como finalidade encontrar uma solução para um sofrimento intenso, e é marcado por uma atitude interna ambivalente, pois, ao mesmo tempo em que o indivíduo quer alcançar a morte, ele busca ajuda. O próprio ato, em sua natureza ou modalidade, revela essa ambivalência.
Toda tentativa de suicídio deve ser vista como um pedido de socorro, realizado quando o indivíduo não encontra mais sentido para sua vida e o vazio existencial permeia sua alma.
Existe uma quase inabarcável variedade de métodos de tentar o suicídio. Alguns deles têm uma letalidade maior que outros. O uso de arma de fogo resulta em morte em 90% dos casos. Cortar os pulsos tem uma taxa de mortalidade2 muito menor. Cerca de 75% de todas as tentativas de suicídios são feitas por overdose de drogas, mas esse método costuma ser frustrado, seja porque as drogas usadas não são letais ou são tomadas em doses não letais. Essas pessoas sobrevivem em 97% dos casos.
Uma tentativa de suicídio anterior é o principal preditor de uma nova tentativa ou de um eventual suicídio. O risco de suicídio em pacientes que tenham feito tentativas anteriores é centenas de vezes maior que na população geral. Cerca de 17% das pessoas que tentam suicídio ficam com incapacidades permanentes, em consequência às sequelas1 originadas por esse ato.
A reação das religiões e dos grupamentos sociais em relação às tentativas de suicídio são muito variáveis. Historicamente, a igreja católica usava excomungar essas pessoas e proibir os suicidas de receberem os serviços religiosos reservados aos mortos. Embora tenha havido períodos em que algumas sociedades puniam criminalmente a tentativa de suicídio, essa prática quase não existe mais na maioria dos países ocidentais, embora continue sendo tida como uma ofensa criminal na maioria dos países islâmicos.
No final do século XIX, a tentativa de suicídio era considerada na Grã-Bretanha como equivalente à tentativa de assassinato e podia ser punida com enforcamento. Na Índia, a tentativa de suicídio só foi descriminalizada em 2017, e Cingapura só retirou a tentativa de suicídio do seu código penal em 2020. Mesmo atualmente, a tentativa de suicídio continua a ser criminalizada em Gana e na Uganda, por exemplo.
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Como lidar com as tentativas de suicídio?
A maioria das tentativas de suicídio exige atendimento médico imediato, por suas decorrências físicas, mas também requerem uma abordagem psicológica posterior. O médico deve dirigir-se aos sintomas3 e ao desenrolar do quadro clínico e intervir de imediato no sentido de preservar a vida do paciente, podendo ser necessárias intervenções clínicas e, em alguns casos, cirúrgicas.
Ao psicólogo cabe atuar depois, como um facilitador do fluxo de emoções e reflexões ligadas às motivações que levaram a pessoa ao seu ato.
Quais são as complicações possíveis com as tentativas de suicídio?
As tentativas de suicídio podem deixar sequelas1 duradouras ou definitivas, que dificultam a vida posterior da pessoa. Só para citar alguns casos, a título de exemplos, pode ser mencionado que as pessoas que tentam se enforcar ou se envenenar por monóxido de carbono4 e sobrevivem podem enfrentar danos cerebrais permanentes devidos à anóxia5; as pessoas que tomaram overdose de drogas podem sofrer danos graves em alguns órgãos como, por exemplo, fígado6 ou rins7; indivíduos que saltam de uma altura podem sofrer danos irreversíveis em vários órgãos, bem como na coluna e no cérebro8; as pessoas que tentaram se matar ingerindo substâncias cáusticas podem ficar com atresias9 esofágicas graves que complicam muito sua capacidade de alimentação, etc.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do SPRC - Suicide Prevention Resource Center e do NIH – National Institutes of Health.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.