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Morte - Reações e significações

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O que é morte?

Não é necessário definir a morte, porque todo mundo sabe o que seja. No entanto, algumas ideias podem ser acrescentadas, a título de reflexão. Antes daquele preciso momento em que as funções orgânicas cessam, muitas das capacidades individuais vão cessando aos poucos. Há quem diga que o auge da vitalidade física se dá aos 22 anos e que daí em diante começa uma jornada irreversível “ladeira abaixo”.

Na verdade, essa ou um pouco mais, é a idade de pico para um desportista, um ginasta ou um bailarino, por exemplo. Um pouco mais de tempo e a visão1 perde a sua natural acuidade, a força muscular decresce, os cabelos começam a descolorir, a agilidade dos movimentos já não é a mesma de antes, a massa muscular começa a se atrofiar, a força decresce, a pele2 diminui progressivamente a sua vitalidade, a memória reduz sua capacidade, etc.

Esses eventos podem ter seus efeitos minimizados artificialmente e são compensados por novas aquisições mentais, as quais, no entanto, também sofrerão decréscimos posteriores.

Com a idade, as pessoas se tornam mais serenas, acumulam maior experiência com as tarefas da vida, adquirem mais conhecimentos e tornam-se mais tolerantes. Ou seja, no sentido físico, a pessoa vai perdendo vida à medida que o tempo passa e, num certo sentido, no nível mental, vai ganhando mais vida à medida que o tempo evolui, embora também acabe por perder os ganhos auferidos. Em resumo: morre-se aos poucos.

Leia sobre "Morte cerebral3 ou morte encefálica4" e "Doenças que mais matam no mundo e no Brasil".

Reações à morte

A maneira como cada pessoa reage à morte varia muito de um indivíduo para outro, e numa mesma pessoa oscila muito em diferentes momentos na vida. Algumas pessoas têm medo da morte, enquanto outras encaram a ideia com mais tranquilidade. Há as que negam essa realidade e nem sequer gostam de falar sobre ela. Essa negação, que muitos adotam, nunca poderá mudar esse fato inexorável e só envolverá as pessoas em maiores sofrimentos e frustrações.

A morte também tem diferentes significações em diferentes culturas e, por isso, é tributária dos mais diferentes rituais simbólicos em cada local. Um fato notável é que as pessoas temem mais a possibilidade da morte que a certeza dela. As pessoas que sabem estarem condenadas a morrerem num breve tempo não têm, por isso, reações de desespero. Pelo contrário, entregam-se à morte com relativa tranquilidade e morrem de maneira digna. É assim nos condenados à morte por razões sociais ou naqueles que sabem ter uma doença incurável.

A médica Elizabeth Kubler-Ross entrevistou pacientes terminais com o objetivo de conhecer suas reações à morte e descreveu cinco estágios nas reações dos pacientes ao saberem de sua morte iminente:

  1. Negação e isolamento
  2. Raiva5
  3. Barganha
  4. Depressão
  5. Aceitação

Isso para não falar daquelas pessoas que buscam ativamente a morte através do suicídio.

As pessoas reagem diferentemente à morte conforme sejam ainda jovens e tenham uma longa jornada potencial pela frente ou se são avançadas em anos e sentem terem cumprido a jornada que lhes coube viver. Certamente que influi também o balanço que cada um faz de sua vida passada: se ele for positivo, é mais fácil aceitar a morte. Se ele for negativo, a morte será encarada com mais dificuldade ou, ao contrário, poderá ser vista como encerramento de uma existência tormentosa. Não é infrequente que a pessoa idosa, sem pensar no suicídio, deseje morrer. Os jovens sentem a morte como uma frustração e os idosos, se não com aceitação, pelo menos com maior resignação.

Outra questão diz respeito a como as pessoas reagem à morte de familiares ou de pessoas amigas. A reação depende muito da relação que se tinha com a pessoa que partiu. Perder o pai não é o mesmo que perder a mãe, um filho, uma filha ou um amigo. Alguns se afastam defensivamente da pessoa na iminência de morrer. Embora essa possa ser uma atitude preparatória para a perda é também uma atitude que deixa ainda mais isolada a pessoa próxima da morte, no momento que ela mais deveria receber apoio. Essa é certamente uma das razões pelas quais os idosos costumam ser distanciados pelos seus familiares. Mesmo médicos podem sentir dificuldades de continuarem assistindo pacientes desenganados, e poucos profissionais de saúde6 permanecem em contato com o paciente terminal, muito raramente estando a seu lado na hora da morte.

Alguns pacientes morrem sem saber que morreram, por assim dizer, seja porque a morte vem a eles tão subitamente que não lhes dá tempo para perceber a sua chegada, seja porque já se encontram num estado de consciência que não lhes permite perceber exatamente a realidade. Mesmo aqueles pacientes acometidos por uma doença crônica e progressiva, aparentemente lúcidos, encontram-se num estado particular de consciência, no qual a possibilidade de morrerem assume aspectos inteiramente desconhecidos para as pessoas que têm consciência normal. É assim também para aqueles que agonizam durante algum tempo em virtude de acidentes ou traumas. Os mecanismos psíquicos de negação atuam tão fortemente que, para eles, a noção de sofrimentos, de ameaça à vida e a avaliação do tempo assumem aspectos inusitados e desconhecidos das pessoas em situações normais.

Saiba mais sobre "Ideação suicida", "Suicídio" e "Eutanásia".

Significações do morrer

O morrer tem significações diferentes para cada pessoa. Umas sentem a morte como uma privação de vida, outras como um apartar-se das pessoas queridas, e outras, ainda, como um não conhecer o futuro ou como uma dolorosa despedida.

As pessoas que têm filhos sentem um grande pesar em abandoná-los, juntamente à crença, nem sempre verdadeira, de que não serão tão bem tratados quanto elas poderiam tratá-los.

Aquelas que eventualmente estejam sofrendo, podem sentir a possibilidade da morte como um alívio bem-vindo. Certas expressões mais ou menos protocolares em relação à morte deveriam ser levadas mais a sério e tomadas na sua significação literal, para entender-se o morrer. Fala-se em “foi descansar”, “foi melhor para ele”, “sono eterno”, “melhor morrer que viver desse jeito”, etc. Para muitas pessoas atravessando um grande sofrimento, a morte é sentida como um alívio. O mesmo pode ser dito daqueles que acompanham a longa agonia de pessoas moribundas e que, em razão disso, tiveram de alterar suas rotinas, aumentar suas preocupações e restringir suas atividades.

O que é, então, morrer com dignidade? É aceitar a morte como uma decorrência natural da vida, sem revoltas ou sofrimento. E, de certa forma, por incrível que pareça, confortar os que ficam ajudando-os a aceitar a perda da pessoa que se vai.

Veja também sobre "Morte fetal", "Morte súbita" e "Morte súbita do lactente7".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Revista Científica FacMais, da UCSAL - Universidade Católica do Salvador e da Universidade Federal Fluminense.

ABCMED, 2023. Morte - Reações e significações. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/1433545/morte-reacoes-e-significacoes.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
2 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
3 Morte cerebral: Um dos conceitos aceitos para MORTE CEREBRAL é o de que “O indivíduo que apresenta cessação irreversível das funções cardíaca e respiratória OU cessação irreversível de TODAS as funções de TODO o encéfalo, incluindo o tronco cerebral, está morto“. Esta definição estabeleceu a sinonímia entre MORTE ENCEFÁLICA e MORTE DO INDIVÍDUO. A nomenclatura MORTE ENCEFÁLICA tem sido preferida ao termo MORTE CEREBRAL, uma vez que para o diagnóstico clínico, existe necessidade de cessação das atividades do córtex e necessariamente, do tronco cerebral. Havendo qualquer sinal de persistência de atividade do tronco encefálico, não existe MORTE ENCEFÁLICA, portanto, o indivíduo não pode ser considerado morto. Como exemplos desta situação, podemos citar os anencéfalos, o estado vegetativo persistente e os casos avançados da Doença de Alzheimer. Ainda existem vários pontos de discussão sobre o conceito de MORTE CEREBRAL.
4 Encefálica: Referente a encéfalo.
5 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
7 Lactente: Que ou aquele que mama, bebê. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
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