Morte - Reações e significações
O que é morte?
Não é necessário definir a morte, porque todo mundo sabe o que seja. No entanto, algumas ideias podem ser acrescentadas, a título de reflexão. Antes daquele preciso momento em que as funções orgânicas cessam, muitas das capacidades individuais vão cessando aos poucos. Há quem diga que o auge da vitalidade física se dá aos 22 anos e que daí em diante começa uma jornada irreversível “ladeira abaixo”.
Na verdade, essa ou um pouco mais, é a idade de pico para um desportista, um ginasta ou um bailarino, por exemplo. Um pouco mais de tempo e a visão1 perde a sua natural acuidade, a força muscular decresce, os cabelos começam a descolorir, a agilidade dos movimentos já não é a mesma de antes, a massa muscular começa a se atrofiar, a força decresce, a pele2 diminui progressivamente a sua vitalidade, a memória reduz sua capacidade, etc.
Esses eventos podem ter seus efeitos minimizados artificialmente e são compensados por novas aquisições mentais, as quais, no entanto, também sofrerão decréscimos posteriores.
Com a idade, as pessoas se tornam mais serenas, acumulam maior experiência com as tarefas da vida, adquirem mais conhecimentos e tornam-se mais tolerantes. Ou seja, no sentido físico, a pessoa vai perdendo vida à medida que o tempo passa e, num certo sentido, no nível mental, vai ganhando mais vida à medida que o tempo evolui, embora também acabe por perder os ganhos auferidos. Em resumo: morre-se aos poucos.
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Reações à morte
A maneira como cada pessoa reage à morte varia muito de um indivíduo para outro, e numa mesma pessoa oscila muito em diferentes momentos na vida. Algumas pessoas têm medo da morte, enquanto outras encaram a ideia com mais tranquilidade. Há as que negam essa realidade e nem sequer gostam de falar sobre ela. Essa negação, que muitos adotam, nunca poderá mudar esse fato inexorável e só envolverá as pessoas em maiores sofrimentos e frustrações.
A morte também tem diferentes significações em diferentes culturas e, por isso, é tributária dos mais diferentes rituais simbólicos em cada local. Um fato notável é que as pessoas temem mais a possibilidade da morte que a certeza dela. As pessoas que sabem estarem condenadas a morrerem num breve tempo não têm, por isso, reações de desespero. Pelo contrário, entregam-se à morte com relativa tranquilidade e morrem de maneira digna. É assim nos condenados à morte por razões sociais ou naqueles que sabem ter uma doença incurável.
A médica Elizabeth Kubler-Ross entrevistou pacientes terminais com o objetivo de conhecer suas reações à morte e descreveu cinco estágios nas reações dos pacientes ao saberem de sua morte iminente:
- Negação e isolamento
- Raiva5
- Barganha
- Depressão
- Aceitação
Isso para não falar daquelas pessoas que buscam ativamente a morte através do suicídio.
As pessoas reagem diferentemente à morte conforme sejam ainda jovens e tenham uma longa jornada potencial pela frente ou se são avançadas em anos e sentem terem cumprido a jornada que lhes coube viver. Certamente que influi também o balanço que cada um faz de sua vida passada: se ele for positivo, é mais fácil aceitar a morte. Se ele for negativo, a morte será encarada com mais dificuldade ou, ao contrário, poderá ser vista como encerramento de uma existência tormentosa. Não é infrequente que a pessoa idosa, sem pensar no suicídio, deseje morrer. Os jovens sentem a morte como uma frustração e os idosos, se não com aceitação, pelo menos com maior resignação.
Outra questão diz respeito a como as pessoas reagem à morte de familiares ou de pessoas amigas. A reação depende muito da relação que se tinha com a pessoa que partiu. Perder o pai não é o mesmo que perder a mãe, um filho, uma filha ou um amigo. Alguns se afastam defensivamente da pessoa na iminência de morrer. Embora essa possa ser uma atitude preparatória para a perda é também uma atitude que deixa ainda mais isolada a pessoa próxima da morte, no momento que ela mais deveria receber apoio. Essa é certamente uma das razões pelas quais os idosos costumam ser distanciados pelos seus familiares. Mesmo médicos podem sentir dificuldades de continuarem assistindo pacientes desenganados, e poucos profissionais de saúde6 permanecem em contato com o paciente terminal, muito raramente estando a seu lado na hora da morte.
Alguns pacientes morrem sem saber que morreram, por assim dizer, seja porque a morte vem a eles tão subitamente que não lhes dá tempo para perceber a sua chegada, seja porque já se encontram num estado de consciência que não lhes permite perceber exatamente a realidade. Mesmo aqueles pacientes acometidos por uma doença crônica e progressiva, aparentemente lúcidos, encontram-se num estado particular de consciência, no qual a possibilidade de morrerem assume aspectos inteiramente desconhecidos para as pessoas que têm consciência normal. É assim também para aqueles que agonizam durante algum tempo em virtude de acidentes ou traumas. Os mecanismos psíquicos de negação atuam tão fortemente que, para eles, a noção de sofrimentos, de ameaça à vida e a avaliação do tempo assumem aspectos inusitados e desconhecidos das pessoas em situações normais.
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Significações do morrer
O morrer tem significações diferentes para cada pessoa. Umas sentem a morte como uma privação de vida, outras como um apartar-se das pessoas queridas, e outras, ainda, como um não conhecer o futuro ou como uma dolorosa despedida.
As pessoas que têm filhos sentem um grande pesar em abandoná-los, juntamente à crença, nem sempre verdadeira, de que não serão tão bem tratados quanto elas poderiam tratá-los.
Aquelas que eventualmente estejam sofrendo, podem sentir a possibilidade da morte como um alívio bem-vindo. Certas expressões mais ou menos protocolares em relação à morte deveriam ser levadas mais a sério e tomadas na sua significação literal, para entender-se o morrer. Fala-se em “foi descansar”, “foi melhor para ele”, “sono eterno”, “melhor morrer que viver desse jeito”, etc. Para muitas pessoas atravessando um grande sofrimento, a morte é sentida como um alívio. O mesmo pode ser dito daqueles que acompanham a longa agonia de pessoas moribundas e que, em razão disso, tiveram de alterar suas rotinas, aumentar suas preocupações e restringir suas atividades.
O que é, então, morrer com dignidade? É aceitar a morte como uma decorrência natural da vida, sem revoltas ou sofrimento. E, de certa forma, por incrível que pareça, confortar os que ficam ajudando-os a aceitar a perda da pessoa que se vai.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Revista Científica FacMais, da UCSAL - Universidade Católica do Salvador e da Universidade Federal Fluminense.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.