Personalidade borderline - como ela pode ser reconhecida?
O que é o transtorno de personalidade borderline?
Em inglês, border significa borda, fronteira; line quer dizer linha. Chama-se de Transtorno de Personalidade Borderline (Transtorno de personalidade limítrofe, Transtorno de personalidade emocionalmente instável ou Transtorno de intensidade emocional) a uma condição mental grave e complexa na fronteira da neurose1 e da psicose2, cujos sintomas3 se manifestam com plena intensidade na adolescência ou início da vida adulta, com instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem, dos afetos e de impulsividade acentuada.
O termo foi usado pela primeira vez em 1884 e originalmente designava um grupo de pacientes que vivia no limite da sanidade mental. Um diagnóstico4 autônomo e positivo da doença se tornou mais preciso na década de 1980.
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Quais são as causas do transtorno de personalidade borderline?
Os fatores envolvidos no transtorno de personalidade borderline são vários e abrangem desde a predisposição genética até experiências emocionais precoces e fatores ambientais, com destaque para as situações traumáticas, abusos e negligência5.
O transtorno de personalidade borderline é cinco vezes mais frequente em parentes de primeiro grau de pessoas com o transtorno do que na população em geral. Ele também incide mais em família com pai ou mãe usuário de drogas ou com transtorno de personalidade antissocial e transtorno depressivo ou bipolar.
Cerca de 80% dos pacientes com transtorno de personalidade borderline são originários de casamentos conflituosos dos pais e passaram por negligências e abusos físicos e sexuais dentro da família. Porém, há pacientes com familiares absolutamente normais.
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Quais são as principais características clínicas do transtorno de personalidade borderline?
As pessoas com transtorno de personalidade borderline sofrem de grande instabilidade emocional, desregulação afetiva excessiva, sentimentos intensos e polarizados do tipo “tudo ótimo e tudo péssimo” ou “eu te adoro e eu te odeio”, angústia de abandono e percepção de invasão do self, entre outros, que podem gerar comportamentos impulsivos perigosos.
São comuns atos autolesivos, tentativas de suicídio e sentimentos profundos de vazio e tédio. Pessoas com transtorno de personalidade borderline apresentam alterações súbitas e expressivas do humor e suas relações interpessoais são intensas e instáveis sendo muito difícil o convívio próximo a elas.
Elas temem o abandono e com frequência vivenciam sentimentos crônicos de vazio e reação pungente ao estresse. Protagonizam ameaças ou tentativas de suicídio e automutilação. O modus operandis desses pacientes traz um grande sofrimento interno e também para os que convivem com ele. Uma só palavra mal colocada, uma situação inesperada sem relevância ou uma leve frustração pode levar o borderline a um acesso de raiva6 e ódio que duram em média poucas horas.
Como o médico diagnostica o transtorno de personalidade borderline?
Não há nenhum teste laboratorial que confirme o diagnóstico4 de transtorno de personalidade borderline, que é exclusivamente clínico. Segundo a quinta versão do Manual Diagnóstico4 e Estatístico de Distúrbios Mentais (DSM-V), americano, para que se diagnostique alguém como tendo um transtorno de personalidade borderline devem ser constatados:
- Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginário.
- Padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos.
- Instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo.
- Impulsividade descontrolada (gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar).
- Recorrência7 de ameaças suicidas ou automutilantes.
- Instabilidade afetiva.
- Sentimentos crônicos de vazio.
- Raiva6 intensa e inapropriada.
- Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas3 dissociativos intensos.
Como o médico trata o transtorno de personalidade borderline?
O tratamento a longo prazo do transtorno de personalidade borderline é a psicoterapia. O objetivo é ir além dos sintomas3, buscando o desenvolvimento duradouro das capacidades psíquicas do paciente. Nenhuma medicação até hoje mostrou-se promissora para tratar essa condição. No entanto, medicamentos sintomáticos podem ser usados, com eficácia variada: antidepressivos para a depressão, estabilizadores do humor para problemas interpessoais e de raiva6, ansiolíticos para controle da ansiedade, antipsicóticos para a impulsividade.
O terapeuta deve ser mais ativo, mais próximo e mais participante que o comum. O borderline pode oscilar o humor e romper com as relações que poderiam dar certo, inclusive a psicoterapia. Os atendimentos demandam muita energia do especialista e ele tem que estar à disposição 24 horas por dia. Normalmente, o transtorno de personalidade borderline demora a ser diagnosticado e durante muitos anos pode ser confundido com mau comportamento.
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Como evolui o transtorno de personalidade borderline?
Os sintomas3 do transtorno de personalidade borderline tendem a melhorar muito a partir dos 30-35 anos e a desaparecer depois dos 40 anos. Os tratamentos psicoterápicos e medicamentosos, no entanto, podem diminuir em muito a intensidade deles, mesmo antes dessas idades.
Quais são as complicações possíveis do transtorno de personalidade borderline?
A pessoa com transtorno de personalidade borderline tende a mostrar um grande descontrole e uma incômoda impulsividade no trabalho, nos esportes, no consumo de tabaco, álcool e drogas, os quais podem resultar em distúrbios alimentares, obesidade8 mórbida, promiscuidade, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez9 indesejada, problemas com a lei, dilapidação do patrimônio, graves acidentes, entre outros.
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As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.