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Ganho secundário

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O que é ganho secundário?

Os conceitos de ganhos primário e secundário foram introduzidos por Freud em 1923. Na Psicanálise, a ideia de ganho secundário se refere às vantagens pessoais advindas da neurose1, mas o conceito se espraiou pela Medicina como os benefícios que um transtorno ou doença podem fornecer ao paciente e que podem justificar o seu desejo de continuar doente.

Na Psicanálise, o ganho secundário faz parte da resistência à melhora e, na Medicina, ele sabota os desejos de cura, dificultando a adesão ao tratamento ou não o seguindo corretamente. Em busca de benefícios secundários, algumas pessoas podem mesmo simular de forma deliberada e consciente algum mal na verdade inexistente, o que constitui uma fraude ou tentativa de fraude. Mas o ganho secundário também pode se dar de modo mais automático e inconsciente, como parte da dinâmica da reação à doença.

Chama-se ganho primário àquele que decorre direta e objetivamente da doença. Por exemplo, certos sintomas2 de fato impedem uma pessoa de comparecer a um trabalho desgastante, fazer uma viagem indesejada ou atender a qualquer outro compromisso desagradável. Nesse caso, a doença poupa o indivíduo de um conflito entre forças psicológicas opostas. Também pode ser que forças externas proporcionem a vantagem do adoecimento, como no caso do trabalhador que sofre um acidente de trabalho e deve ser afastado de sua função.

Então, o ganho primário serve para livrar a pessoa de ansiedade e conflito e o ganho secundário são as vantagens que as pessoas têm quando o sintoma3 é usado para manipular outras pessoas ou situações e dificultar a cura.

Chama-se benefício terciário um processo bem menos estudado, quando uma terceira pessoa, como um parente ou amigo do paciente, é levado a ganhar simpatia ou outros benefícios a partir da doença da vítima. Por exemplo, quando um indivíduo procura tirar vantagens do fato de ter um pai doente.

Outros assuntos relacionados "O que é neurose1?", "O que é histeria?", "Transtorno de ansiedade" e "Transtorno do Pânico".

Quais são as motivações dos ganhos secundários?

Várias razões são impulsionadoras de ganhos secundários, desde os ganhos emocionais representados pela maior atenção, demonstrações de afeto, cuidados, condescendência e proteção por parte das demais pessoas (inclusive dos médicos) até a dispensa de certas obrigações sociais e os ganhos materiais advindos do adoecer, como a dispensa de trabalhar ou de melhores condições de trabalho, ajudas governamentais, recebimento de benefícios econômicos etc. Para muitas pessoas o fato de terem atenção e proximidade com o médico durante a consulta já representa um ganho importante e elas se tornam “adictas” aos médicos, recorrendo a eles por motivos mínimos ou mesmo supondo motivos que de fato não existem.

Como identificar que estejam existindo ganhos secundários?

Os ganhos secundários podem ser muito sutis e encobertos, de tal forma que o médico muitas vezes tem dificuldades de detectá-los e mesmo a pessoa que os recebe não esteja consciente deles. A pessoa que sofre por uma doença ou emoções que a oprimem é, na verdade, uma pessoa infeliz e com frequência se queixa da sua situação. Contudo, ela reconhece que a sua situação poderia ser pior, já que, apesar do sofrimento, o ocorrido lhe concede alguns privilégios, como ter por perto as pessoas que gosta, ficar sem trabalhar (o que nem sempre é interpretado como vantagem por muitas pessoas), conseguir mudanças nas pessoas próximas já que estas farão o possível para que melhore o estado e a dor da pessoa que está mal etc. As doenças que mais comumente geram benefícios secundários são aquelas com menor potencial de sofrimento porque é necessário que o “prazer” de estar doente seja maior que o sofrimento ocasionado pela doença. Embora os ganhos secundários prestem um “benefício” para a pessoa doente, frequentemente é um tormento para as pessoas em volta, que são vistas como um instrumento de sua recuperação.

Para garantir a continuidade dos benefícios secundários, o paciente “sabota” o tratamento, esquecendo-se das medicações, indo frequentemente ao médico por motivos banais, negligenciando ou descumprido os tratamentos... ao mesmo tempo que enfatiza, às vezes muito exageradamente, sua condição de doença.

Veja mais em "Quatro maneiras de lidar com o estresse", "Cuidados paliativos4 e a ajuda que eles podem oferecer" e "Insônia. Informações básicas para quem sofre com ela".
ABCMED, 2018. Ganho secundário. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1328028/ganho-secundario.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Neurose: Doença psiquiátrica na qual existe consciência da doença. Caracteriza-se por ansiedade, angústia e transtornos na relação interpessoal. Apresenta diversas variantes segundo o tipo de neurose. Os tipos mais freqüentes são a neurose obsessiva, depressiva, maníaca, etc., podendo apresentar-se em combinação.
2 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
4 Paliativos: 1. Que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal (diz-se de medicamento ou tratamento); anódino. 2. Que serve para atenuar um mal ou protelar uma crise (diz-se de meio, iniciativa etc.).
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