Overdose - conceito, causas, características e tratamento
O que é overdose?
De uma maneira ampla, denomina-se overdose ao uso de qualquer substância, inclusive da água, em doses maiores do que as que seriam adequadamente processadas pelo organismo. Assim, a overdose de qualquer substância acontece quando as substâncias são usadas em quantidades superiores às que o organismo é capaz de suportar.
O uso corrente, no entanto, tem reservado o termo, num sentido mais estrito, para o uso excessivo de substâncias tóxicas ilícitas1. A overdose causa graves danos ao organismo, podendo, inclusive, levar à morte. As overdoses mais comuns e danosas incluem, entre outras, as de álcool, opiáceos, excitantes cerebrais, entorpecentes, alucinógenos ou uma mistura dessas substâncias.
O termo overdose também é usado para se referir à resposta biológica quando o corpo humano2 recebe um excesso de determinada substância ou mistura de substâncias. Geralmente, as overdoses podem ser divididas em duas categorias: (1) depressivas e (2) estimulantes.
Quais são as causas da overdose?
A overdose de drogas é causada pelo uso excessivo acidental ou intencional da substância. As overdoses acidentais, na maioria dos casos, acontecem com uma criança pequena ou com um adulto com deficiências mentais. Um adulto também pode erroneamente ingerir uma substância ou medicação indevida.
As overdoses intencionais são usadas com o objetivo de ficar “alto” ou para prejudicar a si mesmo, talvez podendo representar uma tentativa de suicídio. As pessoas que propositadamente tomam uma overdose de medicamentos frequentemente sofrem de condições subjacentes de saúde3 mental que podem ou não ter sido diagnosticadas anteriormente.
Qual é o mecanismo fisiológico4 de ação da overdose?
As overdoses das drogas acontecem quando o metabolismo5 de uma pessoa não pode desintoxicar a droga mais rapidamente do que ela é absorvida. O mecanismo específico de ação da overdose depende de que substância tenha sido usada.
As overdoses da maioria das substâncias tóxicas depressoras (opioides, álcool e benzodiazepínicos, por exemplo) causam depressão respiratória. Isso acontece porque elas se encaixam em receptores específicos que comandam a respiração. Se a pessoa não consegue respirar ou não está respirando o suficiente, os níveis de oxigênio no sangue6 diminuem e os lábios e dedos ficam azulados (cianose7). A falta de oxigênio afeta outros órgãos vitais, como o coração8 e o cérebro9, levando à inconsciência10, coma11 e, a seguir, à morte. O dano cerebral começa a ocorrer dentro de 3-5 minutos sem oxigênio e logo em seguida sobrevém a morte.
Com overdoses de depressores do sistema nervoso12, sobreviver ou morrer depende totalmente da respiração e do oxigênio. Felizmente, esse processo raramente é instantâneo. As pessoas deprimem a respiração lentamente, em minutos ou horas após o uso da droga. A não ser quando as pessoas são “encontradas mortas com uma agulha no braço”, geralmente há tempo para intervir entre quando uma overdose começa a agir e antes que a vítima morra.
Leia sobre "Insuficiência respiratória13", "Abuso da cocaína", "Usos e abusos dos anorexígenos14" e "Oxicodona: remédio ou droga?".
Quais são as principais características clínicas da overdose?
Depressores que afetam o sistema nervoso central15 incluem opioides, benzodiazepínicos e álcool, entre outras drogas. Os depressores diminuem a pressão arterial16, a temperatura corporal, a frequência cardíaca e a respiração. Quando um depressor é usado em excesso pode levar a pessoa a parar completamente de respirar e, se o oxigênio for incapaz de chegar ao cérebro9, danos permanentes podem ocorrer dentro de três a cinco minutos, logo após o quê sobrevém a morte. As associações de substâncias depressoras são uma combinação particularmente perigosa, agravando os sintomas17.
Os estimulantes também agem no sistema nervoso central15, mas no caminho oposto ao dos opioides. Eles aumentam a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e a temperatura corporal e aceleram a respiração. Por causa dessas reações, os usuários podem experimentar ataques de raiva18 e comportamentos erráticos. Enquanto alguns estimulantes, como a cocaína ou as anfetaminas, são relativamente diretos nessas ações, outros podem ter algumas propriedades alucinógenas intermediárias, como o ácido lisérgico ou os cogumelos. Quando os estimulantes são usados em excesso, podem causar convulsões, derrames, ataque cardíaco e morte.
Como o médico trata a overdose?
A overdose é uma palavra assustadora, uma situação potencialmente grave, muitas vezes associada à morte, e deve sempre ser tratada num hospital. Entrar no caminho da recuperação não é fácil, mas é sempre possível.
No caso dos depressores, o naloxone (Narcan®) é um medicamento antagonista19 de opioides usado para combater os efeitos da overdose desse tipo de droga (morfina e heroína, por exemplo). Especificamente, o naloxone é usado em overdoses de opioides para combater a depressão do sistema nervoso central15 e do sistema respiratório20, permitindo que uma vítima de overdose respire normalmente. O naloxone é um medicamento não viciante, que só funciona se uma pessoa tiver opioides em seu organismo, e não tem qualquer efeito se os opioides estiverem ausentes.
Embora seja administrado normalmente pelo pessoal de atendimento a emergências, o naloxone pode ser também administrado por leigos minimamente treinados, o que o torna ideal para tratar a overdose em pessoas que receberam medicação para a dor com opiáceos e em pessoas que usam heroína ou outros opioides. O naloxone pode ser injetado no músculo, na veia ou sob a pele21 ou pulverizado no nariz22. Ele desaparece do corpo em 20 a 90 minutos.
Pacientes agitados ou violentos podem precisar de alguma forma de contenção física e, às vezes, de medicamentos sedativos para que os efeitos excitatórios desapareçam. Isso pode ser perturbador para a pessoa e para os membros da família, mas é importante lembrar que o que a equipe médica faz é proteger a pessoa que está cuidando.
Profissionais da área médica fazem grandes esforços para usar o mínimo de força e quantidade de medicamentos necessários. Às vezes, a pessoa tem que ser intubada (ter um tubo colocado na sua via aérea) para que o médico possa proteger os pulmões23 ou ajudar a pessoa a respirar durante o processo de desintoxicação.
Veja também: "Interação entre álcool e drogas psicotrópicas", "Posso beber tomando remédios?" e "Os perigos da automedicação24".
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.