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Vasa previa - conceito, causas, clínica, diagnóstico, tratamento e evolução

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O que é vasa previa?

Normalmente, os vasos sanguíneos1 que suprem o feto2 de oxigênio e nutrientes durante a gestação correm dentro do cordão umbilical3, protegidos pela Geleia de Wharton, uma substância mucosa4 que envolve os vasos do cordão protegendo-os de quaisquer tipos de traumatismos. Vasa prévia é uma condição extremamente rara que pode ocorrer durante a gestação em que os vasos sanguíneos1 correm perto da abertura interna do colo do útero5, desprotegidos pelas membranas próprias do cordão umbilical3, ficando interpostos entre o orifício interno do colo6 e a apresentação fetal.

“Vasa previa” ou “vasa praevia” é uma expressão em latim que pode ser entendida como “vasos à frente” (do feto2) ou prévios a ele.

Veja também sobre "Prolapso7 do cordão umbilical3", "Placenta prévia" e "Descolamento prematuro de placenta".

Quais são as causas da vasa previa?

Na vasa previa os vasos sanguíneos1 que ligam a placenta ao feto2 correm desprotegidos sobre o orifício cervical interno e ficam, por isso, muito mais vulneráveis. Pensa-se que a condição surja de uma placenta localizada previamente ao feto2 no início da gestação (placenta prévia).

À medida que a gravidez8 progride, o tecido9 placentário que envolve os vasos do colo do útero5 se atrofia10 e a placenta cresce preferencialmente em direção à parte superior do útero11. Isso deixa os vasos desprotegidos sobre o colo do útero5 e no segmento uterino inferior.

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome12 da vasa previa?

Os vasos sanguíneos1 de suprimento do feto2, desprotegidos pelo cordão umbilical3 ou pela placenta, ficam muito vulneráveis e correm o risco de rompimento quando as membranas de suporte se rompem, e isso acontece em muitos casos, dando origem a um sangramento maciço da circulação13 fetoplacentária com exsanguinação fetal ocorrendo rapidamente, levando o feto2 rapidamente à morte.

Quais são as implicações clínicas da vasa previa?

Existem três tipos de vasa prévia.

No tipo (1) há uma inserção velamentosa, um tipo defeituoso de ligação do cordão umbilical3 à placenta, com vasos correndo sobre a extremidade interna do colo do útero5.

No tipo (2), os vasos desprotegidos correm entre os lóbulos de uma placenta bilobada.

No tipo (3), uma parte da placenta que recobre o colo do útero5 sofre atrofia10. Nesse tipo, há uma inserção normal do cordão da placenta e a placenta possui apenas um lóbulo. No entanto, os vasos em uma margem da placenta estão expostos.

Leia sobre "Líquido amniótico14", "Sangramentos na segunda metade da gravidez8" e "Sofrimento fetal ou hipóxia15 neonatal".

Como o médico diagnostica a vasa previa?

As primeiras suspeitas de vasa previa são feitas com base na apresentação e/ou nos resultados da ultrassonografia16 pré-natal de rotina. Antes do advento da ultrassonografia16 quase todos os diagnósticos eram feitos a partir de bebês17 que nasciam mortos. No entanto, após o início da prática de realização de ultrassonografia16 durante a gestação, muitos casos podem ser detectados durante a gravidez8, antes que ocorra a ruptura catastrófica das membranas.

No que se refere a sintomas18, a tríade clássica da vasa previa é:

  • Ruptura da membrana
  • Sangramento vaginal indolor
  • Bradicardia19 ou morte fetal

O diagnóstico20 mais definitivo é confirmado por ultrassonografia16 transvaginal. Os vasos fetais podem ser vistos passando diretamente perto do óstio21 cervical interno e o mapeamento deles pode ser feito por meio do Doppler colorido, usado como um adjuvante.

O exame de desnaturação22 alcalina também pode detectar a presença de hemoglobina23 fetal no sangue24 vaginal, pois a hemoglobina23 fetal é resistente à desnaturação22 na presença de NaOH (hidróxido de sódio) a 1%. A detecção de hemoglobina23 fetal no sangramento vaginal confere certeza diagnóstica.

A vasa previa deve ser distinguida do prolapso7 do cordão umbilical3, porque nela os vasos sanguíneos1 fetais, sem a proteção da geleia de Wharton, podem ser vistos sobre a porção interior do colo do útero5.

Como o médico trata a vasa previa?

As mulheres com vasa prévia devem ter um parto cesariano programado para antes da ruptura das membranas (bolsa d’água). Em virtude de que é difícil prever o momento da ruptura dessa membrana, o parto cesáreo deve ser programado para a 35ª ou 36ª semana de gestação, idade gestacional que oferece um equilíbrio razoável entre o risco de morte e o de prematuridade.

Alguns médicos recomendam que a gestante seja internada em hospital a partir da 32ª semana de gestação, para garantir à paciente uma maior proximidade da sala de cirurgia caso seja necessário um parto de emergência25, se ocorrer sangramento, se a paciente entrar em trabalho de parto ou se as membranas se romperem.

Na etapa final da gravidez8, deve-se fazer um monitoramento contínuo para detectar uma eventual compressão ou ameaça de ruptura dos vasos do cordão. O exame deve ser feito duas vezes por semana, começando na 28ª/30ª semana, ou a admissão à maternidade para monitoramento contínuo ou para exame a cada 6 a 8 horas a partir da 30ª semana.

Como há risco de parto prematuro, recomenda-se a administração de esteroides à mãe para promover uma mais rápida maturação pulmonar fetal.

Como evolui a vasa previa?

Cerca de 56% dos casos de vasa prévia que não são diagnosticados resultam em natimortos. No entanto, quando a condição é detectada durante a gravidez8, as chances de sobrevivência26 do feto2 sobem para 97%.

Leia também sobre "Cuidados necessários com os prematuros", "Cuidados com o recém-nascido", "Anomalias do cordão umbilical3" e "Coto umbilical do recém-nascido".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Febrasgo – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e da Mayo Clinic.

ABCMED, 2021. Vasa previa - conceito, causas, clínica, diagnóstico, tratamento e evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/gravidez/1398010/vasa-previa-conceito-causas-clinica-diagnostico-tratamento-e-evolucao.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Vasos Sanguíneos: Qualquer vaso tubular que transporta o sangue (artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias).
2 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
3 Cordão Umbilical: Estrutura flexível semelhante a corda, que conecta um FETO em desenvolvimento à PLACENTA, em mamíferos. O cordão contém vasos sanguíneos que transportam oxigênio e nutrientes da mãe ao feto e resíduos para longe do feto.
4 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
5 Colo do útero: Porção compreendendo o pescoço do ÚTERO (entre o ístmo inferior e a VAGINA), que forma o canal cervical.
6 Colo: O segmento do INTESTINO GROSSO entre o CECO e o RETO. Inclui o COLO ASCENDENTE; o COLO TRANSVERSO; o COLO DESCENDENTE e o COLO SIGMÓIDE.
7 Prolapso: Deslocamento de um órgão ou parte dele de sua localização ou aspecto normal. P.ex. prolapso da válvula mitral, prolapso uterino, etc.
8 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
9 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
10 Atrofia: 1. Em biologia, é a falta de desenvolvimento de corpo, órgão, tecido ou membro. 2. Em patologia, é a diminuição de peso e volume de órgão, tecido ou membro por nutrição insuficiente das células ou imobilização. 3. No sentido figurado, é uma debilitação ou perda de alguma faculdade mental ou de um dos sentidos, por exemplo, da memória em idosos.
11 Útero: Orgão muscular oco (de paredes espessas), na pelve feminina. Constituído pelo fundo (corpo), local de IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO e DESENVOLVIMENTO FETAL. Além do istmo (na extremidade perineal do fundo), encontra-se o COLO DO ÚTERO (pescoço), que se abre para a VAGINA. Além dos istmos (na extremidade abdominal superior do fundo), encontram-se as TUBAS UTERINAS.
12 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
13 Circulação: 1. Ato ou efeito de circular. 2. Facilidade de se mover usando as vias de comunicação; giro, curso, trânsito. 3. Movimento do sangue, fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos do corpo e do coração.
14 Líquido amniótico: Fluido viscoso, incolor ou levemente esbranquiçado, que preenche a bolsa amniótica e envolve o embrião durante toda a gestação, protegendo-o contra infecções e choques mecânicos e térmicos.
15 Hipóxia: Estado de baixo teor de oxigênio nos tecidos orgânicos que pode ocorrer por diversos fatores, tais como mudança repentina para um ambiente com ar rarefeito (locais de grande altitude) ou por uma alteração em qualquer mecanismo de transporte de oxigênio, desde as vias respiratórias superiores até os tecidos orgânicos.
16 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
17 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
18 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
19 Bradicardia: Diminuição da freqüência cardíaca a menos de 60 batimentos por minuto. Pode estar associada a distúrbios da condução cardíaca, ao efeito de alguns medicamentos ou a causas fisiológicas (bradicardia do desportista).
20 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
21 Óstio: Pequeno orifício, especialmente o de entrada de um órgão oco ou de um canal.
22 Desnaturação: 1. Perda daquilo que é da natureza, que é característico ou próprio de algo; descaracterização, desfiguração, adulteração, desnaturalização. 2. Em bioquímica, é a perda da estrutura tridimensional de uma macromolécula em razão da exposição a agentes como o calor e a acidez. 3. Na genética, é a separação das duas cadeias de nucleotídeos componentes da molécula de ADN.
23 Hemoglobina: Proteína encarregada de transportar o oxigênio desde os pulmões até os tecidos do corpo. Encontra-se em altas concentrações nos glóbulos vermelhos.
24 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
25 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
26 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
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