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Peptídeo natriurético tipo B: o hormônio que o seu coração libera quando está em perigo

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O que é o peptídeo natriurético tipo B?

O peptídeo natriurético tipo B (BNP, do inglês Brain Natriuretic Peptide) é um hormônio1 polipeptídico da família dos peptídeos natriuréticos, que participam do controle do equilíbrio cardiovascular e hidroeletrolítico2.

Embora tenha sido identificado pela primeira vez em tecido3 cerebral de porcos em 1988, a principal fonte de síntese no ser humano é o ventrículo cardíaco4. Ele é liberado principalmente em resposta ao estiramento mecânico das paredes ventriculares, situação comum em insuficiência cardíaca5, hipertensão arterial6 ou cardiomiopatias.

Como ocorre sua síntese e qual é sua estrutura?

O BNP é derivado da clivagem da proteína precursora pré-pró-BNP (134 aminoácidos) em pró-BNP (108 aminoácidos). Este, por sua vez, origina duas moléculas: o BNP ativo (32 aminoácidos) e o fragmento7 inativo NT-proBNP (76 aminoácidos).

O NT-proBNP é clinicamente importante por apresentar maior estabilidade e meia-vida mais longa no plasma8 (60–120 minutos, contra cerca de 20 minutos do BNP), o que facilita sua utilização como biomarcador em exames laboratoriais.

Quais são os principais estímulos para sua liberação?

O BNP é liberado principalmente pelos ventrículos cardíacos9 diante do estiramento da parede ventricular, causado por sobrecarga de volume (aumento da pré-carga) ou de pressão (aumento da pós-carga). Pequenas quantidades podem ser produzidas em átrios e até em outros tecidos, como o cérebro10.

Leia sobre "Distúrbios hidroeletrolíticos", "Parada cardíaca" e "Arritmias11 cardíacas".

Quais funções o BNP exerce no organismo?

O BNP atua como um regulador da homeostase cardiovascular e renal12. Seus efeitos mais relevantes incluem:

  • Natriurese13 e diurese14, promovendo a eliminação de sódio e água pelos rins15 e reduzindo o volume intravascular16.
  • Vasodilatação, que diminui a resistência vascular17 periférica e a pós-carga cardíaca.
  • Inibição do sistema renina-angiotensina-aldosterona, antagonizando os efeitos da angiotensina II e da aldosterona.
  • Ação antifibrótica e anti-hipertrófica, limitando a remodelação cardíaca patológica, como hipertrofia18 e fibrose19 dos cardiomiócitos.

Esses efeitos resultam da ligação do BNP ao receptor NPR-A, que ativa a guanilato ciclase e aumenta os níveis de GMP cíclico nas células20-alvo.

O que regula a expressão do gene do BNP?

A síntese do BNP é modulada por estímulos mecânicos (estiramento ventricular) e por estímulos neuro-hormonais, como catecolaminas, endotelina e citocinas21 inflamatórias.

Na insuficiência cardíaca5, a ativação persistente do sistema renina-angiotensina-aldosterona e do sistema nervoso22 simpático23 amplifica a liberação de BNP. Além disso, idade avançada, sexo, função renal12 e obesidade24 influenciam seus níveis: idosos costumam apresentar valores mais altos, enquanto indivíduos obesos podem ter níveis mais baixos, possivelmente pela maior depuração do peptídeo pelo tecido adiposo25.

Qual é a importância clínica do BNP e do NT-proBNP?

O BNP e o NT-proBNP são amplamente utilizados como biomarcadores na prática clínica, especialmente na insuficiência cardíaca5.

  • No diagnóstico26: em pacientes com dispneia27 de origem incerta, valores normais praticamente excluem insuficiência cardíaca5, enquanto níveis elevados aumentam fortemente a probabilidade da doença.
    • BNP <100 pg/mL descarta insuficiência cardíaca5; >400 pg/mL sugere fortemente o diagnóstico26.
    • NT-proBNP <300 pg/mL descarta a doença; >450 pg/mL em menores de 50 anos ou >900 pg/mL em maiores de 50 anos indicam insuficiência cardíaca5.
  • No prognóstico28: níveis persistentemente elevados estão associados a maior risco de hospitalização e mortalidade29.
  • No monitoramento: a dosagem seriada permite acompanhar a resposta ao tratamento e identificar pacientes que necessitam de intensificação terapêutica30.

Além da insuficiência cardíaca5, o BNP pode estar elevado em casos de embolia31 pulmonar, hipertensão32 pulmonar, valvulopatias e cardiomiopatia hipertrófica.

Ele também se eleva em condições não cardíacas, como insuficiência renal33, sepse34 e hipertireoidismo35, o que reforça a necessidade de interpretação dentro do contexto clínico.

Quais são as limitações do uso do BNP?

Apesar da utilidade, o BNP não é totalmente específico para doenças cardíacas. Idade, sexo, obesidade24, função renal12 e uso de medicamentos podem modificar seus valores. Além disso, condições inflamatórias ou infecciosas podem elevar seus níveis, o que exige correlação com a história clínica, exame físico e outros exames complementares.

Qual é a conclusão sobre seu papel clínico?

O BNP é um componente essencial da fisiologia36 cardiovascular e um biomarcador fundamental na cardiologia contemporânea. Ele auxilia no diagnóstico26, prognóstico28 e manejo da insuficiência cardíaca5, contribuindo também para a compreensão da remodelação cardíaca.

Embora apresente limitações, sua associação com outros biomarcadores e novas tecnologias tende a ampliar o diagnóstico26 precoce, a personalização do tratamento e a melhoria dos desfechos em pacientes com doenças cardiovasculares37.

Veja também sobre "Doença arterial coronariana", "Infarto do miocárdio38" e "Angina39".

 

ABCMED, 2025. Peptídeo natriurético tipo B: o hormônio que o seu coração libera quando está em perigo. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/1494800/peptideo-natriuretico-tipo-b-o-hormonio-que-o-seu-coracao-libera-quando-esta-em-perigo.htm>. Acesso em: 24 set. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
2 Hidroeletrolítico: Aproximadamente 60% do peso de um adulto são representados por líquido (água e eletrólitos). O líquido corporal localiza-se em dois compartimentos, o espaço intracelular (dentro das células) e o espaço extracelular (fora das células). Os eletrólitos nos líquidos corporais são substâncias químicas ativas. Eles são cátions, que carregam cargas positivas, e ânions, que transportam cargas negativas. Os principais cátions são os íons sódio, potássio, cálcio, magnésio e hidrogênio. Os principais ânions são os íons cloreto, bicarbonato, fosfato e sulfato.
3 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
4 Ventrículo Cardíaco: Câmeras inferiores direita e esquerda do coração. O ventrículo direito bombeia SANGUE venoso para os PULMÕES e o esquerdo bombeia sangue oxigenado para a circulação arterial sistêmica.
5 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
6 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
7 Fragmento: 1. Pedaço de coisa que se quebrou, cortou, rasgou etc. É parte de um todo; fração. 2. No sentido figurado, é o resto de uma obra literária ou artística cuja maior parte se perdeu ou foi destruída. Ou um trecho extraído de uma obra.
8 Plasma: Parte que resta do SANGUE, depois que as CÉLULAS SANGÜÍNEAS são removidas por CENTRIFUGAÇÃO (sem COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA prévia).
9 Ventrículos Cardíacos: Câmeras inferiores direita e esquerda do coração. O ventrículo direito bombeia SANGUE venoso para os PULMÕES e o esquerdo bombeia sangue oxigenado para a circulação arterial sistêmica.
10 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
11 Arritmias: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
12 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
13 Natriurese: É o aumento da excreção urinária de sódio; natriuria, natriúria.
14 Diurese: Diurese é excreção de urina, fenômeno que se dá nos rins. É impróprio usar esse termo na acepção de urina, micção, freqüência miccional ou volume urinário. Um paciente com retenção urinária aguda pode, inicialmente, ter diurese normal.
15 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
16 Intravascular: Relativo ao interior dos vasos sanguíneos e linfáticos, ou que ali se situa ou ocorre.
17 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
18 Hipertrofia: 1. Desenvolvimento ou crescimento excessivo de um órgão ou de parte dele devido a um aumento do tamanho de suas células constituintes. 2. Desenvolvimento ou crescimento excessivo, em tamanho ou em complexidade (de alguma coisa). 3. Em medicina, é aumento do tamanho (mas não da quantidade) de células que compõem um tecido. Pode ser acompanhada pelo aumento do tamanho do órgão do qual faz parte.
19 Fibrose: 1. Aumento das fibras de um tecido. 2. Formação ou desenvolvimento de tecido conjuntivo em determinado órgão ou tecido como parte de um processo de cicatrização ou de degenerescência fibroide.
20 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
21 Citocinas: Citoquina ou citocina é a designação genérica de certas substâncias segregadas por células do sistema imunitário que controlam as reações imunes do organismo.
22 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
23 Simpático: 1. Relativo à simpatia. 2. Que agrada aos sentidos; aprazível, atraente. 3. Em fisiologia, diz-se da parte do sistema nervoso vegetativo que põe o corpo em estado de alerta e o prepara para a ação.
24 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
25 Tecido Adiposo: Tecido conjuntivo especializado composto por células gordurosas (ADIPÓCITOS). É o local de armazenamento de GORDURAS, geralmente na forma de TRIGLICERÍDEOS. Em mamíferos, existem dois tipos de tecido adiposo, a GORDURA BRANCA e a GORDURA MARROM. Suas distribuições relativas variam em diferentes espécies sendo que a maioria do tecido adiposo compreende o do tipo branco.
26 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
27 Dispnéia: Falta de ar ou dificuldade para respirar caracterizada por respiração rápida e curta, geralmente está associada a alguma doença cardíaca ou pulmonar.
28 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
29 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
30 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
31 Embolia: Impactação de uma substância sólida (trombo, colesterol, vegetação, inóculo bacteriano), líquida ou gasosa (embolia gasosa) em uma região do circuito arterial com a conseqüente obstrução do fluxo e isquemia.
32 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
33 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
34 Sepse: Infecção produzida por um germe capaz de provocar uma resposta inflamatória em todo o organismo. Os sintomas associados a sepse são febre, hipotermia, taquicardia, taquipnéia e elevação na contagem de glóbulos brancos. Pode levar à morte, se não tratada a tempo e corretamente.
35 Hipertireoidismo: Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma produção destes nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda de peso, hiperatividade, exoftalmia.
36 Fisiologia: Estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
37 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
38 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
39 Angina: Inflamação dos elementos linfáticos da garganta (amígdalas, úvula). Também é um termo utilizado para se referir à sensação opressiva que decorre da isquemia (falta de oxigênio) do músculo cardíaco (angina do peito).

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