Líquor - o que pode revelar sua análise?
O que é líquor1?
O líquor1, ou líquido cefalorraquidiano2 (LCR), é um líquido límpido e incolor que preenche e envolve o cérebro3 e a medula espinhal4 e fornece uma barreira mecânica contra eventuais choques do crânio5.
Fisiologia6 do líquor1
O volume normal do líquor1 num adulto sadio varia de 100 a 150 ml. Ele é levemente alcalino e contém cerca de 99% de água. Nos adultos, ele é produzido a uma taxa de 20 ml/h, o que corresponde a aproximadamente 500 ml/24 horas. Isso significa que ele é totalmente renovado a cada seis horas, em média. O líquor1 forma-se principalmente nos ventrículos do cérebro3, é filtrado através das membranas do sistema nervoso7 e reabsorvido pelas veias8 do cérebro3.
Quando o indivíduo sofre um trauma na cabeça9, esse fluido age como uma almofada, amortecendo a força do impacto e distribuindo seu impacto pelo cérebro3 como um todo. Além disso, esse fluido ajuda a manter a pressão dentro do crânio5 a um nível constante. Assim, um aumento no volume de sangue10 ou tecido11 cerebral resulta em uma diminuição correspondente no líquor1 ou, por outro lado, se houver uma diminuição no volume de matéria no crânio5, como ocorre na atrofia12 cerebral, o líquor1 compensa com um aumento no seu volume.
Ademais, o fluido também transporta resíduos metabólicos, anticorpos13, produtos químicos e produtos patológicos de doenças para longe do cérebro3 e da medula espinhal4, para a corrente sanguínea.
Como examinar o líquor1?
O exame do líquor1 pode ajudar a diagnosticar uma série de doenças. Para isso, é necessário obter uma amostra desse fluido, através de uma punção em quatro vias possíveis: lombar, suboccipital, ventricular e cervical lateral.
A punção lombar, a mais comum, é feita por meio da inserção de uma agulha na região lombar14 abaixo da terminação da medula espinhal4, ao nível do saco dural. A aparência do líquor1 assim obtido já pode sugerir algumas enfermidades. Sua aparência normal é descrita como “água de rocha”. Uma aparência turva pode indicar uma inflamação15, provavelmente uma meningite16, a presença de sangue10 no líquido pode indicar uma hemorragia17 no cérebro3 ou ao redor dele, etc.
Além desse aspecto macroscópico, o exame microscópico18, bioquímico, imunológico e citológico do líquido pode informar ao médico sobre várias possíveis condições, como esclerose múltipla19 ou outras condições semelhantes conhecidas como doenças autoimunes20; mielites, encefalites21, leucemia22, demência23 (inclusive Alzheimer24) e as próprias meningites25 ou acidentes vasculares26 cerebrais, ou condições semelhantes que causam sangramento ao redor do cérebro3.
Saiba mais sobre "Punção lombar", "Meningite16", "Hemorragia17 cerebral", "Hidrocefalia27" e "Mielite28 transversa".
O que revelam os achados patológicos do líquor1?
Uma punção liquórica permite medir a pressão no interior do cérebro3. A pressão liquórica normal, ao nível do fundo de saco lombar e quando o paciente se encontra em decúbito lateral29 horizontal, varia entre 7 e 18 cm de água. Ao nível da cisterna magna30 (punção suboccipital) e na posição horizontal, a pressão liquórica normal é cerca de 2 a 3 cm de água menor que na região lombar14. Não há variações significativas ligadas ao sexo ou à cor. As crianças até 10 anos costumam ter pressão liquórica ligeiramente mais alta que pessoas idosas, acima de 60 anos, mas as diferenças são muito pequenas e não apresentam significado clínico. Uma pressão liquórica mais baixa ou mais elevada tem significados clínicos que devem ser avaliados por um médico.
O líquor1 se comunica com o sangue10 por meio da barreira hematoencefálica. Assim, qualquer condição que altere os níveis séricos de uma substância no plasma31 provocará também alterações no líquor1.
O nível do cloreto no sangue10 também irá afetar o nível de cloreto no líquor1. Normalmente, os níveis de cloretos no líquor1 são 1 a 2 vezes maiores do que os níveis séricos. Ao contrário, níveis diminuídos são encontrados nas meningites25 tuberculosa e bacteriana e na criptococose32.
Normalmente, os níveis de glicose33 no líquor1 correspondem a cerca de 2/3 dos índices sanguíneos da glicose33 de jejum no sangue10. São considerados níveis anormais de glicose33 no líquor1 valores inferiores a 40 mg/dl34 e/ou relações glicose33 no líquor1/glicose33 plasmática inferiores a 0,3. Uma grande diminuição da glicose33 no líquor1 é um dado importante no diagnóstico35 das meningites25 bacteriana, tuberculosa e fúngica36, já que nas meningites25 virais, os níveis variam entre normais e apenas discretamente baixos. Também as neoplasias37 com comprometimento meníngeo, a sarcoidose38, a hemorragia subaracnoide39 e a hipoglicemia40 sistêmica, entre outras patologias, cursam com níveis diminuídos de glicose33 liquórica. Níveis elevados de glicose33 no líquor1 não possuem significado clínico, refletindo apenas aumento dos níveis da glicemia41 sistêmica.
Normalmente, cerca de 80% das proteínas42 encontradas no líquor1 são provenientes do plasma31. Em geral, elas equivalem a menos de 1% do nível sanguíneo. O aumento dos níveis liquóricos de proteínas42 é um indicador, embora não-específico, da presença de doença. Elas podem estar elevadas em diferentes patologias, como meningites25, especialmente as bacterianas, doenças neurológicas, hemorragias43 e tumores, entre outras, ou diminuídos em crianças menores de 2 anos de idade e em punções com remoção de grandes volumes, traumas com perda liquórica e aumento da pressão intracraniana. Os níveis normais de proteína na punção lombar são:
- Em adultos: de 15 a 45 mg/dl34.
- Em neonatos44: até 150 mg/dl34.
- Em prematuros: até 500 mg/dl34.
O exame citológico tanto realiza uma contagem total das células45 (citometria) como uma contagem diferencial delas (citologia) em lâminas coradas. Essas contagens tanto são importantes no diagnóstico35 como no acompanhamento do tratamento de algumas doenças. As meningites25 bacterianas agudas apresentam grande celularidade, geralmente acima de 500 leucócitos46/mm3. Já as meningites25 de origem viral, fúngica36 ou tuberculosa apresentam celularidade menor.
Outras avaliações ainda podem ser feitas com objetivos clínicos definidos: índice de imunoglobina no líquor1 / imunoglobina no soro47, eletroforese de proteínas42, ácido láctico, creatinofosfoquinase e desidrogenase láctica48, entre outras.
Leia sobre "Traumatismo49 craniano", "Anestesia50 peridural51 ou epidural52" e "Raquianestesia".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Encyclopedia Britannica, da Revista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora e do SciELO.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.