A gravidez e o Coronavírus
A gravidez1 apresenta algum tipo de cuidado especial nesses tempos de coronavírus?
Estar grávida não é apenas gestar, é uma condição que ocupa um âmbito muito maior na vida da mulher, envolvendo (1) o planejamento para engravidar; (2) a preparação para receber o bebê; (3) o acompanhamento da gestação através do seguimento pré-natal; (4) o parto e o pós-parto; (5) a amamentação2; (6) o recebimento de cumprimentos e visitas pelo nascimento do bebê e (7) os cuidados com o bebê.
Cada uma dessas etapas precisa sofrer algumas mudanças em relação ao que ocorre tradicionalmente devido à situação atual com o coronavírus.
O que se sabe até agora é que não existe uma incompatibilidade formal entre gravidez1 e infecção3 pelo coronavírus, mas apenas alguns incômodos que podem ser minimizados ou mesmo evitados.
Até o momento, não se detectou nenhum caso de transmissão vertical, de mãe para filho. Nem se constatou a presença do vírus4 no líquido amniótico5, no sangue do cordão umbilical6, no leite materno ou em secreções orofaríngeas de recém-nascidos. Também não há demonstrações de que as chances das gestantes se contaminarem sejam diferentes das demais pessoas.
As grávidas, como todo mundo, devem procurar evitar a contaminação lavando frequentemente as mãos7 com água e sabão, usando álcool em gel para desinfetar as mãos7 e os objetos e superfícies que tenham que tocar e evitando locais de aglomeração de pessoas.
Leia sobre "Mastite8", "Diferenças entre pré-eclâmpsia9 e eclâmpsia10", "Aleitamento materno11", "Teste de Apgar","Icterícia neonatal12" e "Fototerapia para a icterícia13 do recém-nascido".
Examinemos cada uma das etapas envolvidas na gravidez1:
O planejamento para engravidar
Embora a gravidez1 não seja mais que um estado fisiológico14, não há dúvidas que ela demanda uma condição de maiores exigências habituais. A mulher deve cuidar agora de duas vidas – a sua e a do bebê – e, para que a gravidez1 transcorra normalmente, precisa que seu organismo esteja na plenitude de seu funcionamento normal. Não só o coronavírus, mas qualquer outra condição que debilite o organismo, tem o potencial de prejudicar a gravidez1. Por isso, a mulher deve adiar um pouco seus planos de engravidar se tem a possibilidade de contrair o coronavírus.
A preparação para receber o bebê
De uma maneira geral, tão logo constate a gravidez1, a mulher começa com os preparativos para receber o bebê, tais como preparar o berço do bebê, adquirir seu enxoval, arranjar seu quartinho e tomar outras providências. Isso implica em comprar produtos ou ganhar vários deles de presente. Em tempos de isolamento social estrito ou não, isso fica muito comprometido e deve ser recebido com cuidados especiais. O bebê talvez tenha uma recepção mais simples, mas mais segura.
Comprometimento do pré-natal
O acompanhamento pré-natal é essencial para o desenvolvimento normal da gravidez1, para detectar precocemente algum eventual problema e para ter um parto seguro. Ele visa tanto garantir uma evolução normal do bebê quanto a higidez15 da mulher. Porém, o pré-natal impõe frequentar salas de espera e laboratórios, geralmente cheios de pessoas doentes, e aumentar, assim, os riscos de contaminação, indo na contramão das recomendações de isolamento social. Restringir o pré-natal significa aumentar as chances de ter problemas durante a gravidez1. E isso precisa ser conversado e equilibrado entre o obstetra e a gestante, levando em conta as consultas fundamentais para o desenvolvimento saudável do bebê e a manutenção da saúde16 materna.
O parto e o pós-parto
Ao que se sabe, não há maiores dificuldades para o parto e o pós-parto se uma paciente estiver contaminada pelo coronavírus. No entanto, o parto e o pós-parto são eventos que exigem um maior desempenho do organismo da mulher e por isso o ideal é que ela esteja na plenitude de suas condições físicas. Além disso, se ela é ou não contaminada, ela será internada, mesmo que seja por um período breve, o que aumenta seus contatos com outras pessoas e profissionais de saúde16, aos quais pode transmitir o vírus4 e dos quais pode recebê-lo.
As mulheres que estejam em boas condições gerais de saúde16 podem fazer, normalmente, o parto vaginal. No entanto, aquelas com restrição respiratória e baixa taxa de oxigenação devem ser submetidas à cesárea, a despeito do risco anestésico, e algumas terão de fazer uma interrupção precoce da gravidez1, conforme avaliação e decisão médicas.
A amamentação2
A mãe não contaminada pode amamentar normalmente o bebê, mas deve higienizar bem as mãos7 antes de fazê-lo. Também poderá fazer a ordenha de seu leite e ministrá-lo ao bebê por meio de mamadeiras, caso seja necessário. Se a mulher estiver contaminada, o vírus4 não se transmite pelo leite e, teoricamente, a mãe contaminada não precisa deixar de amamentar por esse motivo.
Como há a possibilidade de que a mãe contaminada possa transmitir a doença através de gotículas respiratórias, ela deve sempre usar máscara ao amamentar. Será um sofrimento muito grande se ela tiver de isolar-se por vários dias de seu bebê e procurar alimentá-lo por outros meios, por isso todas as medidas preventivas devem ser adotadas, evitando tal afastamento entre mãe e filho.
O impedimento de receber visitas
Quem tiver qualquer condição infeciosa, por mais simples que seja, não deve visitar recém-nascidos. Como as pessoas infectadas pelo coronavírus podem não apresentar sintomas17, esses cuidados devem ser redobrados com relação a essa doença. Nesses tempos de coronavírus, a mulher e seu bebê devem evitar receber visitas, embora isso aumente a solidão e certa depressão que podem ocorrer no período pós-parto, e suprima as alegrias e júbilos compartilhados com outras pessoas. Criar novas formas de contato social pode ajudar, como chamadas por vídeo para mostrar o bebê a quem gostaria de visitá-lo ou mandar uma foto do bebê junto com a mamãe e o papai para os familiares. Isso pode alegrar toda a família, que em breve poderá conhecer pessoalmente o recém-chegado.
Os cuidados com o bebê
Toda criança recém-nascida é mais susceptível às infecções18 virais, inclusive ao coronavírus, porque seu sistema imunológico19 ainda é imaturo.
Não há evidências que sugiram que a separação do bebê de uma mãe infectada seja necessária, ainda é cedo para termos esse tipo de informação. O impacto dessa separação, mesmo que adotada por precaução, pode ter um efeito muito deletério para o bebê e a mãe. A situação deve ser decidida caso a caso, com a ajuda do obstetra, do pediatra e, se necessário, de um psicólogo.
Cuidar de um recém-nascido não é tarefa fácil, mas pode ser muito prazerosa se realizada com tranquilidade e coragem. E sem ter em mente que os cuidados precisam ser perfeitos. Toda mulher nasce naturalmente com o dom de cuidar da própria cria e é capaz de fazer isso. Se a mulher tiver que fazer isso sozinha, nesses tempos de coronavírus, ela vai conseguir e precisa acreditar na sua força. Os pais podem e devem ajudar, já que as avós, que geralmente estão sempre por perto nessa fase, precisarão se resguardar em casa neste período.
Veja também sobre "Dieta saudável na gravidez1", "Amamentação2 - alimentos que as mães devem evitar", "Peso normal de um bebê durante a gestação" e "Cólicas20 do Recém-nascido".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da SBMFC - Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade e FIOCRUZ - Brasil.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.