Aleitamento materno: mitos, benefícios, dificuldades e soluções
A amamentação1 é um ato natural, presente em muitos animais (mamíferos), inclusive no homem, e tanto constitui a melhor forma de alimentar suas crias nos seus primeiros tempos de vida, quanto de protegê-las em relação a muitas enfermidades infecciosas. O colostro2, como são chamadas as primeiras secreções mamárias, é rico em proteínas3 e contém importantes anticorpos4 que não conseguiram atravessar a barreira placentária. Nesse sentido, o leite materno funciona como “a primeira vacina”. Além disso, na espécie humana o ato de amamentar contribui para gerar afetos positivos entre mãe e bebê.
Embora seja um processo natural, vários aspectos da amamentação1 podem ser aprendidos e aperfeiçoados, para que você possa amamentar com maior sucesso. A amamentação1 deve ser a única forma de alimentar a criança nos primeiros seis meses de vida e pode continuar sendo associada a outros alimentos até os dois anos de idade.
Somente em raríssimas condições a amamentação1 está contraindicada como, por exemplo, em mães portadoras do HIV5 ou que estejam tomando remédios nocivos ao bebê, que se eliminem pelo leite e que não possam ser suspensos. Nesses casos, o médico deve sempre ser consultado a respeito.
Há outros meios de alimentar o bebê, além do aleitamento materno6, mas a amamentação1 é, de longe, o melhor deles. Além disso, geralmente se constitui para a mulher numa experiência tão formidável e gratificante que todo o esforço deve ser feito para viabilizá-la. Justamente por ser uma atividade tão importante, pode ser vivida com grandes ansiedades e apreensões pelas mulheres, principalmente por aquelas que são “marinheiras de primeira viagem”. Esses fatores psicológicos podem acabar contribuindo para que a amamentação1 seja mais difícil do que poderia ser.
Mitos sobre a amamentação1
Comecemos por derrubar alguns mitos comuns, mas que NÃO são verdadeiros:
- “A mulher que faz plástica nos seios7 não consegue amamentar”. Não é verdadeiro. As implantações de silicone em geral são feitas atrás do tecido8 mamário ou mesmo abaixo dos músculos peitorais9 e preservam as ligações das glândulas10 mamárias com os mamilos11, permitindo a amamentação1. No entanto, as próteses muito volumosas ou as cirurgias de redução das mamas12, que implicam numa retirada parcial da glândula13, podem dificultar um pouco, mas não impedir a amamentação1.
- “A amamentação1 engorda”. Não é verdadeiro. Há mulheres que inclusive emagrecem nessa fase. A mulher que amamenta gasta mais calorias14 do que normalmente gastaria, contribuindo para “entrar em forma” mais rapidamente depois do parto.
- “Há mulheres que têm o leite fraco”. Não é verdadeiro. Não há leite fraco. Mesmo mulheres com algum grau de desnutrição15 produzem leite adequado.
- “Mulheres que têm seios7 grandes produzem mais leite do que as que têm seios7 pequenos”. Não é verdadeiro. O tamanho dos seios7 depende do tecido gorduroso16, não das glândulas10 mamárias, que se apresentam aproximadamente na mesma quantidade em todas as mulheres.
- “Não se deve dar o peito17 se o bebê estiver amarelinho” (com icterícia18). Não é verdadeiro. A icterícia neonatal19 é um fenômeno fisiológico20 que, na maioria das vezes, nada tem a ver com a amamentação1.
- “Deve-se parar de oferecer o peito17 quando começam a aparecer os dentinhos”. Não é verdadeiro. A necessidade do leite materno nada tem a ver com a dentição21 da criança.
- “Se a mãe estiver estressada ou nervosa, dar de mamar prejudica o bebê”. Não é verdadeiro. Pode prejudicar a formação do leite ou a relação mãe-bebê, mas não altera a qualidade do leite produzido.
- “O bebê com sobrepeso22 deve mamar menos”. Não é verdadeiro. A evolução ponderal23 do bebê se deve a outros fatores (genéticos, endócrinos, biológicos, etc.) que não a amamentação1.
- “Cerveja preta e canjica aumentam a produção de leite”. Não é verdadeiro. A quantidade de leite produzido é regulada pela hipófise24 e a mãe que se alimenta adequadamente e ingere líquidos em quantidades suficientes terá uma produção adequada de leite, sem necessidade de qualquer tipo de dieta especial.
Benefícios da amamentação1
A amamentação1 traz vários benefícios para a mãe e para o bebê:
Para a mãe:
- Estimula a contração uterina e impõe um gasto calórico maior, ajudando na recuperação da forma física existente antes da gravidez25.
- Previne o câncer26 de mama27 e de útero28 e diminui a incidência29 de muitas outras condições médicas desagradáveis, como doenças cardíacas, derrame30 cerebral, elevação do colesterol31, diabetes32, asma33, etc.
- Diminui a possibilidade de osteoporose34.
- Contribui para criar importantes laços afetivos entre a mãe e o bebê.
Para o bebê:
- Fornece os anticorpos4 que o protegem de muitas enfermidades, sobretudo infecciosas.
- Fornece uma alimentação natural adequada às suas necessidades.
- Melhora a formação da boca35 e o alinhamento dos dentes.
Técnicas corretas para a amamentação1
Até seis meses de idade, a alimentação da criança deve ser exclusivamente constituída de leite materno, administrado de preferência por mamadas no peito17. A partir daí, até cerca de dois anos da idade, ela pode ser intercalada com papinhas e outros alimentos sólidos. Para dar de mamar, adote os seguintes cuidados:
- Lave e seque bem os mamilos11, antes de cada mamada.
- Alterne os lados da mamada. Comece cada mamada no seio36 do lado contrário ao que tenha terminado a mamada anterior. O bebê geralmente suga cada seio36 durante 10 a 15 minutos, mas este tempo varia muito de bebê para bebê. Tenha paciência. Cada bebê tem seu ritmo próprio, mas a mamada nunca é uma coisa rápida.
- Se necessário, use medicamentos, como analgésicos37, cremes, vitaminas, etc. Mas aconselhe-se com um médico, porque há medicamentos que NÃO devem ser tomados durante o aleitamento.
- Os bebês38 têm ritmos diferentes de sugar. Uns são muito ávidos, outros são muito lentos. No entanto, é conveniente que o bebê sugue bastante, porque isso estimula a produção de leite.
- Dê de mamar dentro da primeira hora de vida do bebê. Se possível, ainda dentro da sala de parto. Quanto mais cedo, melhor para o vínculo mãe-bebê e para estimular a produção dos hormônios necessários! Como nos primeiros meses de vida o bebê ainda não formou seu esquema de horários, alimente-o sempre que ele manifestar desejo. Posteriormente, dê de mamar a cada três horas, mas não seja excessivamente rigorosa nisso. Cada bebê tem seu ritmo de fome. Deixe o bebê dormir nos intervalos das mamadas. Aproveite para descansar, você também merece!
- Ache uma posição que seja cômoda para a mãe e para o bebê. Em geral a mãe estará sentada numa poltrona, relaxada, com as costas39 apoiadas e a coluna reta. O bebê deve ser elevado até a altura dos seios7 ou estar apoiado em uma almofada que o coloque nessa posição. Se a mãe estiver deitada, o bebê também deve estar deitado, paralelo a ela e colocado de modo a alcançar comodamente os mamilos11.
- Se sentir sede, antes de amamentar, tome água, leite ou sucos. O ideal é que você não chegue a sentir sede, mas que se mantenha hidratada ao longo do dia.
- A mãe deve estar descansada, bem alimentada e ter dormido bem; coisas que nem sempre são possíveis nessa fase da vida. Mas ela deve contar com a ajuda dos familiares nesta hora, sempre que possível.
- As mãos40 que segurarão o bebê e tocarão os seios7 devem ser bem lavadas, antes de cada mamada.
- Ponha o bebê na posição vertical, para arrotar. É assim que ele elimina o ar que ingeriu enquanto mamava e que causa muitas cólicas41. Não é necessário esperar pelo fim da mamada para que o bebê arrote. Faça intervalos durante as mamadas e procure fazer com que o bebê arrote durante eles. Exercícios de “tapinhas” nas costas39 podem ajudar. Nunca ponha o bebê no berço antes dele arrotar!
- Muitas mulheres produzem leite suficiente para alimentar seu bebê e ainda outros mais. Se a mãe tiver leite em excesso, ele pode ser retirado e conservado em vasilhame de vidro esterilizado. Na geladeira, dura 24 horas; no congelador, até 15 dias! Nesses casos, que tal fazer uma doação para um banco de leite?
Possíveis dificuldades e soluções
Ingurgitamento (ou empedramento) das mamas12
Pode ocorrer um ingurgitamento (ou empedramento) das mamas12, devido à excessiva produção de leite e à maior vascularização e aumento da circulação42 sanguínea das mamas12. Isso pode dificultar a “pega” do bebê e ser dolorido para a mãe. Nesses casos, a mãe deve manter os seios7 elevados, com sutiãs firmes, usar compressas frias no intervalo das mamadas e compressas quentes imediatamente antes delas. Os analgésicos37 podem ser usados, a conselho médico. Se os seios7 estiverem muito volumosos e endurecidos, pode ser retirado leite antes da mamada, para torná-los mais cômodos para o bebê. Nunca suspender a amamentação1!
Insuficiência43 de leite
Em muitas ocasiões essa queixa está mais relacionada à ansiedade materna. A quantidade satisfatória ou não do leite materno deve ser julgada mais por fatores objetivos, como o ganho ponderal23 do bebê e o número de suas micções44 (6 a 8 por dia) que pelas impressões subjetivas das mães ou dos familiares. Se houver uma insuficiência43 real, a amamentação1 deve ser complementada e NÃO substituída por alimentação artificial.
Mastite45
Inflamação46 das mamas12, geralmente infectada por uma bactéria47 conhecida como Staphylococcus aureus, a partir de rachaduras nos bicos dos seios7. Gera dor, edema48, hiperemia49, calor local, febre50, mal-estar e, eventualmente, abscesso51. O tratamento deve ser feito com antibióticos. A mama27 deve ser delicadamente esvaziada e a amamentação1 suspensa, quando necessário. Consulte seu médico a respeito!
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas em parte dos sites The American College of Obstetricians and Gynecologists, American Academy of Family Physicians e World Health Organization (WHO).
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.