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Icterícia neonatal fisiológica e Kernicterus. Quais as diferenças?

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O que é a icterícia neonatal1?

A icterícia neonatal1 é caracterizada pelo aparecimento de uma cor amarelo-alaranjada na pele2, nas mucosas3, na conjuntiva4 e em outros tecidos do corpo, que ocorre do segundo ao quinto dias de vida do bebê. Ela comumente desaparece ao final do sétimo dia de vida.

Ela é um fenômeno fisiológico5 normal que afeta cerca de 80% dos recém-nascidos, sendo mais frequente e intensa naqueles bebês6 nascidos prematuramente. Embora seja um acontecimento simples não deve dispensar o acompanhamento médico em virtude da possibilidade de complicações graves.

O que é o Kernicterus7?

Normalmente, a hemoglobina8 liberada pela destruição das hemácias9 (que são células10 com vida de pequena duração) é convertida em bilirrubina11 conjugada no fígado12. Quando esse processo falha, seja por uma excessiva produção de bilirrubina11, seja por insuficiência13 do metabolismo14 hepático, ainda imaturo, a taxa de bilirrubina11 no sangue15 sobe muito e ela pode impregnar certos núcleos cerebrais, gerando uma encefalopatia16 bilirrubínica. Denomina-se Kernicterus7 às importantes sequelas17 neurológicas dessa encefalopatia16. Ele constitui a principal e a mais grave das complicações da icterícia neonatal1 fisiológica18.

Quais são as causas da icterícia neonatal1?

A icterícia neonatal1 deve-se ao acúmulo de bilirrubina11 devido à grande destruição de hemácias9 do recém-nascido e liberação de hemoglobina8, combinada com um metabolismo14 hepático ainda imaturo. É um mecanismo fisiológico5 normal, mas em alguns poucos casos pode ser expressão de uma patologia19 que requer tratamento.

Uma condição peculiar se dá quando existe incompatibilidade sanguínea entre mãe e filho. Por exemplo, se o sangue15 da mãe é Rh negativo e o do bebê é Rh positivo.

Quais são as causas do Kernicterus7?

Normalmente a barreira hematoencefálica é impermeável à bilirrubina11, mas se a concentração dela subir muito, por alguma causa, pode romper essa barreira e depositar-se em certos núcleos cerebrais, ocasionando a morte de neurônios20 correspondentes, levando a um quadro clínico chamado Kernicterus7.

Quais são os sintomas21 da icterícia neonatal1?

Normalmente a icterícia neonatal1 não gera sintomas21. O sinal22 mais claro, observado pelos pais e que deve ser avaliado por um médico, é a coloração amarelo-alaranjada da pele2 que começa nos primeiros três dias de nascimento e muitas vezes é notado primeiramente na conjuntiva4.

Em geral, começa pela testa, nariz23 e tórax24 e vai descendo até os pés; desaparecendo no sentido contrário: pés, pernas, barriga, braços, tórax24 e testa.

Toda icterícia25 que ocorre nas primeiras 24 horas após o nascimento deve ser cuidadosamente investigada por um médico.

Quais são os sintomas21 do Kernicterus7?

Descrevem-se quatro fases:

  • Fase I: hipotonia26 muscular, letargia27 e fraqueza do reflexo de sucção.
  • Fase II: espasticidade28 muscular com ocorrência de opistótono29 e febre30.
  • Fase III: melhora aparente, com diminuição da espasticidade28.
  • Fase IV: sinais31 sugestivos de paralisia32 cerebral, em torno de 2 a 3 meses de vida. Esse quadro pode resultar em morte, mas os sobreviventes podem, na fase crônica, desenvolver paralisia32 cerebral atetoide, perda da audição, displasia33 dentária, paralisia32 do olhar e deficiências no aprendizado, memória e comportamento.

Como se trata a icterícia neonatal1?

As icterícias neonatais de baixa intensidade cedem espontaneamente, sem exigirem tratamentos. O aumento da frequência das amamentações e do número de evacuações ao dia ajuda na eliminação da bilirrubina11 acumulada.

Casos em que essa acumulação é mais intensa (acima de 12mg/dL nas primeiras 24 horas ou 18mg/dL a partir do terceiro dia de vida), como nos casos de incompatibilidade sanguínea mãe-filho, por exemplo, ou outras patologias favorecedoras; o bebê deve ser internado para ser submetido a uma fototerapia (conhecido popularmente como “banho de luz”), a uma exsanguineotransfusão34 (transfusão35 de substituição do sangue15 do bebê por um sangue15 compatível) ou a outra técnica terapêutica36 específica.

Como se trata o Kernicterus7?

O kernicterus7 é devastador, porém evitável. Depois de estabelecidas, as lesões37 cerebrais são irreversíveis. Por isso, os níveis de bilirrubina11 devem se monitorados e controlados pelo médico desde o início.

Todo bebê ictérico deve ser avaliado por um pediatra.

 

ABCMED, 2012. Icterícia neonatal fisiológica e Kernicterus. Quais as diferenças?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/saude-da-crianca/254630/ictericia-neonatal-fisiologica-e-kernicterus-quais-as-diferencas.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Icterícia neonatal: Condição bastante comum. Resulta da elevação dos níveis séricos de bilirrubina. Os recém-nascidos apresentam níveis de bilirrubina significativamente maiores que adultos, devido a mecanismos fisiológicos normais, pois apresentam hematócrito mais elevado, maior carga de “heme” por peso, as hemácias de recém-nascidos têm uma menor vida média, apresentam uma deficiência natural de UDP glucuronosiltransferase, com uma menor capacidade de conjugar e excretar a bilirrubina. Observa-se uma menor excreção de bilirrubina relacionada ao menor trânsito intestinal dos recém-nascidos, principalmente nos prematuros. Aqueles em aleitamento materno também apresentam um menor volume fecal, reduzindo ainda mais a excreção da bilirrubina.
2 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
3 Mucosas: Tipo de membranas, umidificadas por secreções glandulares, que recobrem cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
4 Conjuntiva: Membrana mucosa que reveste a superfície posterior das pálpebras e a superfície pericorneal anterior do globo ocular.
5 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
6 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
7 Kernicterus: Forma de icterícia que surge no recém nascido, de especial gravidade pela tendência a produzir alterações neurológicas irreversíveis por impregnação da bilirrubina em áreas do cérebro. Seu tratamento é a fototerapia, que transforma a bilirrubina em uma forma mais estável, incapaz de penetrar no sistema nervoso central, e passível de ser eliminada na urina.
8 Hemoglobina: Proteína encarregada de transportar o oxigênio desde os pulmões até os tecidos do corpo. Encontra-se em altas concentrações nos glóbulos vermelhos.
9 Hemácias: Também chamadas de glóbulos vermelhos, eritrócitos ou células vermelhas. São produzidas no interior dos ossos a partir de células da medula óssea vermelha e estão presentes no sangue em número de cerca de 4,5 a 6,5 milhões por milímetro cúbico, em condições normais.
10 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
11 Bilirrubina: Pigmento amarelo que é produto da degradação da hemoglobina. Quando aumenta no sangue, acima de seus valores normais, pode produzir uma coloração amarelada da pele e mucosas, denominada icterícia. Pode estar aumentado no sangue devido a aumento da produção do mesmo (excesso de degradação de hemoglobina) ou por dificuldade de escoamento normal (por exemplo, cálculos biliares, hepatite).
12 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
13 Insuficiência: Incapacidade de um órgão ou sistema para realizar adequadamente suas funções.Manifesta-se de diferentes formas segundo o órgão comprometido. Exemplos: insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória.
14 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
15 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
16 Encefalopatia: Qualquer patologia do encéfalo. O encéfalo é um conjunto que engloba o tronco cerebral, o cerebelo e o cérebro.
17 Sequelas: 1. Na medicina, é a anomalia consequente a uma moléstia, da qual deriva direta ou indiretamente. 2. Ato ou efeito de seguir. 3. Grupo de pessoas que seguem o interesse de alguém; bando. 4. Efeito de uma causa; consequência, resultado. 5. Ato ou efeito de dar seguimento a algo que foi iniciado; sequência, continuação. 6. Sequência ou cadeia de fatos, coisas, objetos; série, sucessão. 7. Possibilidade de acompanhar a coisa onerada nas mãos de qualquer detentor e exercer sobre ela as prerrogativas de seu direito.
18 Fisiológica: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
19 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
20 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
21 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
22 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
23 Nariz: Estrutura especializada que funciona como um órgão do sentido do olfato e que também pertence ao sistema respiratório; o termo inclui tanto o nariz externo como a cavidade nasal.
24 Tórax: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original Sinônimos: Peito; Caixa Torácica
25 Icterícia: Coloração amarelada da pele e mucosas devido a uma acumulação de bilirrubina no organismo. Existem dois tipos de icterícia que têm etiologias e sintomas distintos: icterícia por acumulação de bilirrubina conjugada ou direta e icterícia por acumulação de bilirrubina não conjugada ou indireta.
26 Hipotonia: 1. Em biologia, é a condição da solução que apresenta menor concentração de solutos do que outra. 2. Em fisiologia, é a redução ou perda do tono muscular ou a redução da tensão em qualquer parte do corpo (por exemplo, no globo ocular, nas artérias, etc.)
27 Letargia: Em psicopatologia, é o estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a pessoa pode ser despertada, mas ao qual retorna logo a seguir. Por extensão de sentido, é a incapacidade de reagir e de expressar emoções; apatia, inércia e/ou desinteresse.
28 Espasticidade: Hipertonia exagerada dos músculos esqueléticos com rigidez e hiperreflexia osteotendinosa.
29 Opistótono: Espasmo em que a coluna vertebral e as extremidades se curvam para diante e o corpo, em arco, fica apoiado sobre a parte de trás da cabeça e os calcanhares. É um espasmo típico do tétano.
30 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
31 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
32 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
33 Displasia: Desenvolvimento ou crescimento anormal de um tecido ou órgão.
34 Exsanguineotransfusão: Troca lenta e sucessiva de um volume de sangue de uma pessoa e reposição com uma quantidade igual de sangue compatível doado.
35 Transfusão: Introdução na corrente sangüínea de sangue ou algum de seus componentes. Podem ser transfundidos separadamente glóbulos vermelhos, plaquetas, plasma, fatores de coagulação, etc.
36 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
37 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
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