Restrição calórica e longevidade
O que é restrição calórica?
Restrição calórica significa reduzir a ingestão média de calorias1 diárias abaixo do habitual, sem desnutrição2 ou privação dos nutrientes essenciais. Não estaria muito errado dizer que a restrição calórica é uma “subnutrição sem má nutrição”. Ela significa reduzir entre 30 e 40% o consumo típico de calorias1, mantendo todos os nutrientes e vitaminas necessários para sustentar a vida.
Falando popularmente, significa “comer menos”, não comer pior. Bem observado, as pessoas comem mais do que é necessário para fins nutricionais: comem incentivadas por hábitos, pelo sabor dos alimentos, pela aparência estética das comidas, pela presença de companhias, etc.
Esses padrões de restrição alimentar estão sendo estudados como possíveis maneiras de manter uma boa saúde3 e viver mais. Eles não devem ser apenas planos temporários de perda de peso (dietas), mas padrões duradouros de hábitos alimentares. O interesse em seus benefícios potenciais à saúde3 e ao envelhecimento decorre de décadas de pesquisa com uma grande variedade de animais (vermes, aranhas, insetos e roedores), nos quais a alimentação restrita em calorias1 atrasou o aparecimento de distúrbios relacionados à idade e, em alguns estudos, prolongou a vida útil desses animais.
Os primatas não humanos agora estão sendo testados, mas o resultado desses testes ainda não é conhecido. Resultados preliminares, no entanto, sugerem que a restrição de calorias1 em macacos os torna mais saudáveis e eles tendem a viver mais do que seus colegas alimentados livremente. Por exemplo, um novo estudo mostra que o sistema imunológico4 de macacos rhesus idosos em uma dieta restrita em calorias1 se assemelha ao sistema imunológico4 de animais mais jovens.
Dados esses resultados favoráveis em animais, os pesquisadores estão estudando se a restrição calórica também afeta positivamente a saúde3 e a vida útil das pessoas.
Leia sobre "Dieta cetogênica", "Cetose", "Dieta do jejum" e "Desnutrição2".
Qual é a relação entre a restrição calórica e a longevidade nos humanos?
Alguns estudos têm sugerido que a restrição calórica pode trazer benefícios à saúde3 dos seres humanos, no entanto, mais pesquisas são necessárias antes de entendermos seus efeitos a longo prazo.
Algumas pessoas praticaram voluntariamente graus extremos de restrição calórica ao longo de muitos anos, acreditando que assim preservariam a saúde3 e prolongariam a vida. De fato, estudos sobre esses indivíduos encontraram níveis marcadamente baixos de fatores de risco para doenças cardiovasculares5 e diabetes6, diretamente relacionadas ao envelhecimento. Os estudos também encontraram outros efeitos cujos benefícios e riscos a longo prazo são incertos, bem como reduções no interesse sexual.
Muitos estudos e a experiência clínica mostraram que pessoas obesas ou com sobrepeso7 que perdem peso fazendo dieta podem melhorar sua saúde3. Mas, os cientistas ainda têm muito a aprender sobre como a restrição calórica afeta pessoas que não têm excesso de peso, incluindo os idosos. Eles também não sabem se esses padrões alimentares são seguros ou mesmo factíveis a longo prazo. Em resumo, não há evidências suficientes para recomendar esse regime alimentar de maneira generalizada. Caso a pessoa resolva segui-lo, deve ser monitorada de perto por um médico ou nutricionista8.
A restrição calórica pode ou não estender o número total de anos que um humano pode esperar viver, mas, sem dúvidas, aumenta o número de anos que uma pessoa possa esperar permanecer saudável. Reduzir ou atrasar doenças relacionadas à idade até o final da vida representaria uma enorme melhoria na qualidade de vida de muitos, se não da maioria dos idosos.
Como age a restrição calórica?
Os cientistas ainda não sabem porque a restrição calórica atrasa as doenças relativas à idade e prolonga a vida útil de animais de laboratório. Neles, a restrição calórica afeta muitos processos que têm a ver com a regulação da taxa de envelhecimento, como inflamações9, metabolismo10 do açúcar11, manutenção de estruturas de proteínas12, capacidade de fornecer energia para processos celulares e modificações no DNA. Outro processo que é afetado pela restrição calórica é o estresse oxidativo, que é a produção de subprodutos tóxicos do metabolismo10 do oxigênio que podem danificar células13 e tecidos.
No entanto, ainda não sabemos de todos os fatores que são responsáveis pelos efeitos da restrição calórica no envelhecimento e nem mesmo sabemos se outros fatores também contribuem. Mas, afora outros fatores, a máquina orgânica de produzir energia tem de trabalhar menos e, possivelmente, com menor desgaste.
Durante a restrição calórica, como durante o jejum, o corpo consome glicose14 e glicogênio15 enquanto existem, depois se volta para as reservas de gordura16, que é liberada na forma de cetonas. Esses produtos químicos ajudam as células13 (especialmente as células13 cerebrais) a continuar seu trabalho com capacidade total. Os pesquisadores pensam que como as cetonas são uma fonte de energia mais eficiente que a glicose14, elas podem proteger contra o declínio relacionado com o envelhecimento no sistema nervoso central17. Além disso, as cetonas também podem inibir o desenvolvimento do câncer18, porque as células13 malignas não conseguem obter energia das cetonas.
Estudos mostram que as cetonas também podem ajudar a proteger contra doenças inflamatórias e a reduzir o nível de insulina19 no sangue20, o que poderia proteger contra o diabetes mellitus21 tipo 2, que geralmente acomete pessoas idosas. Mas, por outro lado, muitas cetonas no sangue20 podem ter também efeitos prejudiciais à saúde3. Essa é uma das razões pelas quais os pesquisadores querem entender mais sobre como as dietas de restrição calórica funcionam, antes de recomendá-las.
Embora as dietas de restrição calórica sejam difíceis de manter, o estudo dos mecanismos de restrição calórica é muito importante.
Veja também sobre "Cálculo22 do IMC23", "O perigo das dietas para emagrecer" e "Dieta mediterrânea24".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites do NIH – National Institute of Aging, da American Federation for Aging Research e do Jornal da USP -Universidade de São Paulo.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.