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Lisencefalia - causas, características, diagnóstico e evolução

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O que é lisencefalia?

A lisencefalia, também denominada agiria, chamada literalmente de “cérebro liso”, corresponde a um transtorno congênito1 pouco comum da formação do cérebro2, caracterizado pela microcefalia3 e ausência das circunvoluções4 normais, no todo ou em partes do cérebro2. A prevalência5 da lisencefalia é estimada em 1/100.000 nascimentos.

Foram identificados mais de 20 tipos de lisencefalia, mas a maioria deles pode ser dividida em 2 categorias: (1) lisencefalia tipo um, ou lisencefalia clássica, e (2) e lisencefalia tipo 2, ou lisencefalia em paralelepípedos (porque a imagem radiográfica sugere essa aparência).

Quais são as causas da lisencefalia?

A lisencefalia é uma desordem genética, de caráter autossômico6 dominante, causada por um defeito da migração neuronal que normalmente ocorre entre a 12ª e 24ª semanas da gestação. Ela é devida à deleção do cromossomo7 17p13.3, bem como anomalias na formação do córtex cerebral.

Devido aos avanços na genética, novos genes estão sendo identificados e implicados na causa da lisencefalia. As infecções8 por vírus9 e a diminuição do fluxo sanguíneo recebido pelo feto10 no início da gestação também têm sido acusados de interferir no desenvolvimento do sistema nervoso central11, causando sinais12 de lisencefalia.

Leia sobre: "Hidrocefalia13", "Macrocefalia", "Microcefalia3" e "Meningocele e meningomielocele" e "Espinha bífida14".

Qual é o substrato fisiopatológico da lisencefalia?

Quando o desenvolvimento intrauterino do feto10 progride normalmente, entre a décima segunda e a décima quarta semanas após a fertilização15, as células nervosas16 do embrião começam a se mover das regiões do cérebro2 onde são geradas para outras diferentes. A migração neuronal é o processo pelo qual os neurônios17 migram para a posição final no cérebro2 durante o desenvolvimento do sistema nervoso18, resultando nos giros e sulcos cerebrais. Na lisencefalia, esse processo de migração celular não ocorre adequadamente.

O pregueamento do córtex cerebral, formando giros e sulcos, é importante no desenvolvimento da função cerebral geral e das habilidades cognitivas. Os giros e sulcos são importantes tanto porque eles separam as diferentes regiões funcionais do cérebro2, quanto porque aumentam a superfície da área cortical cerebral. Os neurônios17 são criados a princípio na zona ventricular e daí migram para a zona cortical. Se essa migração é defeituosa ou deixa de existir, causa giros reduzidos ou ausentes.

Quais são as características clínicas da lisencefalia?

A lisencefalia caracteriza-se pela ausência de circunvolunções e fissuras19 (giros e sulcos) no córtex cerebral, conferindo ao cérebro2 um aspecto liso. As crianças com lisencefalia geralmente têm um pronunciado retardo do desenvolvimento, porém isso varia grandemente de uma criança para outra, dependendo do grau de malformação20 cerebral e do grau de controle das convulsões.

As crianças afetadas apresentam comprometimento psicomotor21 grave, déficit de crescimento, convulsões e espasticidade22 e/ou hipotonia23 muscular. Outros sintomas24 do distúrbio podem incluir aparência facial incomum, dificuldade para engolir e anomalias nas mãos25 e nos dedos das mãos25 e/ou dos pés.

Como o médico diagnostica a lisencefalia?

A lisencefalia é caracterizada pela ausência ou redução dos sulcos e giros da superfície cerebral e um córtex espessado. Os sinais12 dessa condição podem ser detectados pela ultrassonografia26 por volta da 23ª semana de gestação e devem ser confirmados por uma ressonância magnética27 pré-natal.

Se o médico suspeitar de lisencefalia, devido ao histórico familiar e/ou aos resultados da ultrassonografia26 pré-natal, ele poderá solicitar exames especializados durante a gravidez28. Esses testes incluem: DNA fetal livre de células29, amniocentese30 ou amostragem de vilosidades coriônicas31.

Um diagnóstico32 diferencial entre lisencefalia e polimicrogiria33 é de máxima importância, pois mesmo radiologistas experientes costumam confundir as duas situações.

Como o médico trata a lisencefalia?

A lisencefalia não tem cura, mas as crianças afetadas podem apresentar progressos no seu desenvolvimento ao longo da vida. Os tratamentos disponíveis são sintomáticos e dependem da gravidade e localização das malformações34 cerebrais. Cuidados de suporte podem ser necessários para ajudar nas necessidades de alimentação ou outras.

As convulsões podem ser problemáticas, mas medicações anticonvulsivantes podem ser uma ajuda importante. A hidrocefalia13 (acúmulo excessivo de líquido no cérebro2) é rara, mas pode exigir uma derivação circulatória ventrículo-peritoneal do líquido cerebrorraquidiano.

Se a alimentação se tornar difícil, um tubo de gastrostomia35 pode e deve ser instalado para que o paciente seja bem alimentado.

Como evolui a lisencefalia?

O prognóstico36 da lisencefalia varia, dependendo da malformação20 e da gravidade da síndrome37. Muitos indivíduos permanecem em um nível de desenvolvimento de 3 a 5 meses. A expectativa de vida38 é curta e muitas crianças com lisencefalia morrerão antes dos 10 anos de idade. No entanto, algumas crianças com lisencefalia serão capazes de rolar, sentar-se, alcançar objetos e sorrir socialmente.

Aspiração e doença respiratória são as causas mais comuns de doença ou morte. No passado, a expectativa de vida38 era de cerca de dois anos de idade. No entanto, com os avanços no controle de convulsões e tratamentos para doenças respiratórias, a maioria das crianças vive muito além dessa idade.

Com outros avanços na terapia e maior disponibilidade de serviços e equipamentos, algumas crianças com lisencefalia são capazes de andar com vários graus de assistência e realizar outras funções antes consideradas muito avançadas.

Saiba mais: "Gravidez28 de risco", "Pré-natal", "Malformações34 fetais" e "Paralisia39 cerebral infantil".

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do NIH - National Institutes of Health e da NORD - National Organization for Rare Disorders.

ABCMED, 2022. Lisencefalia - causas, características, diagnóstico e evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1429940/lisencefalia-causas-caracteristicas-diagnostico-e-evolucao.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Congênito: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
2 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
3 Microcefalia: Pequenez anormal da cabeça, geralmente associada à deficiência mental.
4 Circunvoluções: 1. Volta feita em redor de um centro comum. 2. Contorno sinuoso. 3. Em anatomia geral, são as dobras sinuosas da face externa do cérebro.
5 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
6 Autossômico: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
7 Cromossomo: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
8 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
9 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
10 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
11 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
12 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
13 Hidrocefalia: Doença produzida pelo aumento do conteúdo de Líquido Cefalorraquidiano. Nas crianças pequenas, manifesta-se pelo aumento da cabeça, e nos adultos, pelo aumento da pressão interna do cérebro, causando dores de cabeça e outros sintomas neurológicos, a depender da gravidade. Pode ser devido a um defeito de escoamento natural do líquido ou por um aumento primário na sua produção.
14 Espinha bífida: Também conhecida como mielomeningocele, a espinha bífida trata-se de um problema congênito. Ela é caracterizada pela má formação no tubo neural do feto, a qual ocorre nas três primeiras semanas de gravidez, quando a mulher ainda não sabe que está grávida. Esta malformação pode comprometer as funções de locomoção, controle urinário e intestinal, dentre outras.
15 Fertilização: Contato entre espermatozóide e ovo, determinando sua união.
16 Células Nervosas: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO.
17 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
18 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
19 Fissuras: 1. Pequena abertura longitudinal em; fenda, rachadura, sulco. 2. Em geologia, é qualquer fratura ou fenda pouco alargada em terreno, rocha ou mesmo mineral. 3. Na medicina, é qualquer ulceração alongada e superficial. Também pode significar uma fenda profunda, sulco ou abertura nos ossos; cesura, cissura. 4. Rachadura na pele calosa das mãos ou dos pés, geralmente de pessoas que executam trabalhos rudes. 5. Na odontologia, é uma falha no esmalte de um dente. 6. No uso informal, significa apego extremo; forte inclinação; loucura, paixão, fissuração.
20 Malformação: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
21 Psicomotor: Próprio ou referente a qualquer resposta que envolva aspectos motores e psíquicos, tais como os movimentos corporais governados pela mente.
22 Espasticidade: Hipertonia exagerada dos músculos esqueléticos com rigidez e hiperreflexia osteotendinosa.
23 Hipotonia: 1. Em biologia, é a condição da solução que apresenta menor concentração de solutos do que outra. 2. Em fisiologia, é a redução ou perda do tono muscular ou a redução da tensão em qualquer parte do corpo (por exemplo, no globo ocular, nas artérias, etc.)
24 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
25 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
26 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
27 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
28 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
29 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
30 Amniocentese: Consiste na obtenção do líquido amniótico que banha o feto através da punção da cavidade amniótica. Realizada entre 15 a 18 semanas de gravidez, para avaliar problemas genéticos do bebê.
31 Vilosidades coriônicas: A superfície da bolsa amniótica é recoberta por projeções chamadas vilosidades coriônicas, que penetram no endométrio. Ao redor das vilosidades formam-se lacunas por onde circula o sangue materno. Assim elas permitem trocas de substâncias entre o sangue do embrião, que circula nas vilosidades, e o sangue materno, que circula nessas lacunas. Alimento e oxigênio passam do sangue da mãe para o feto, enquanto excreções e gás carbônico fazem o caminho inverso. As vilosidades coriônicas são formadas a partir de um acúmulo de células oriundas do citotrofoblasto que se projetam para o sinciciotrofoblasto iniciando esse desenvolvimento no final da segunda semana de gestação quando são classificadas como primárias. Nas semanas seguintes, tornam-se ramificadas e se denominam vilosidades coriônicas secundárias e posteriormente, terciárias quando, então, formam a parte funcional da membrana placentária na porção embrionária.
32 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
33 Polimicrogiria: Malformação do córtex cerebral causada por falhas no seu desenvolvimento. É caracterizada por um número excessivo de pequenos giros e laminação anormal, conferindo à superfície cortical uma aparência irregular e grosseira.
34 Malformações: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
35 Gastrostomia: Procedimento cirúrgico realizado para fixar uma sonda alimentar. Um orifício artificial é criado na altura do estômago para fazer uma ligação direta do meio externo com o meio interno do paciente.
36 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
37 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
38 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
39 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
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