Neofobia alimentar - Não provei, mas já não gostei!
O que é neofobia alimentar1?
Neofobia alimentar1 é, literalmente, o “medo de alimentos novos”. Caracteriza-se pela rejeição ou recusa a experimentar alimentos "novos", não familiares. Ou seja, trata-se de uma resistência individual em comer alimentos diferentes do padrão de consumo até então habitual. A frase que poderia simbolizar a neofobia alimentar1 é: “não provei, mas já não gostei”.
Normalmente, isso acontece como um comportamento característico de uma etapa do desenvolvimento infantil, entre os 2 e os 6 anos, mas pode se estender a idades maiores e continuar mesmo na vida adulta.
A criança tem uma preferência espontânea pelo sabor doce e a quase todos os outros ela tem de ser acostumada, via treinamento. As preferências alimentares de uma criança quase nunca estão em conformidade com suas necessidades nutricionais e, para se alimentar adequadamente, ela deve ser algo “contrariada” em seus gostos. Para uns essa adequação se dá sem maiores problemas, mas para outros ela configura uma verdadeira batalha, geralmente mais intensa quando os pais procuram introduzir alimentos novos.
Leia sobre "Alimentação infantil: orientações para o 1º ano de vida", "Dicas para melhorar a alimentação" e "Alimentação saudável".
Quais são as causas da neofobia alimentar1?
A relutância em provar novos alimentos é característica de todos os animais onívoros, entre os quais podemos incluir os humanos. Trata-se de uma reação atávica inata de segurança diante dos potenciais perigos de que muitos alimentos podem ser tóxicos. Assim, diante do contato com novos produtos, a atitude é de precaução, evitando-os sempre que possível.
Além da preferência pelo sabor, que é algo único e pessoal, existe a influência de fatores econômicos, psicossociais, culturais, familiares e biológicos. Entretanto, a influência mais marcante na formação dos hábitos alimentares de um indivíduo é produto da interação da criança com a mãe. A primeira influência ambiental acontece ainda durante a gestação. As crianças tendem a consumir os mesmos alimentos que a mãe consumia durante a gravidez2 e amamentação3, porque os sabores variáveis do leite materno proporcionam a familiaridade para estabelecer um padrão de aceitação alimentar da criança. A neofobia alimentar1 infantil também pode ser influenciada pela neofobia parental. Se os pais não consomem determinado alimento ou grupo de alimentos, essa rejeição pode passar para os filhos, que seguirão esses exemplos.
Certamente, há também fatores genéticos que, no entanto, são mais difíceis de determinar.
Quais são as principais características clínicas da neofobia alimentar1?
Na primeira infância, sobretudo entre os 2 e 6 anos, algum grau de neofobia alimentar1 é comum e até esperado como parte do desenvolvimento normal. As aversões alimentares diminuem a partir dos oito ou nove anos de idade e é incomum que elas persistam na adolescência e na idade adulta, embora isso possa acontecer.
Os sintomas4 e sinais5 da neofobia alimentar1 incluem:
- Recusa em comer novos alimentos que persistem além da primeira infância.
- Grande medo de alimentos novos.
- Impacto social significativo: atividades importantes, como festas e viagens escolares, são evitadas devido ao medo de ter que comer novos alimentos.
- Impacto psicológico: o medo de alimentos desconhecidos causa angústia e ansiedade importantes.
Como lidar com a neofobia alimentar1, visando superá-la?
A estratégia principal para que a criança venha a aceitar o alimento novo é continuar oferecendo. A criança precisa experimentar o mesmo alimento entre oito e dez vezes para poder definir se realmente gosta ou não gosta dele. Para conseguir isso, o alimento deve ser apresentado de diferentes formas, variando os formatos, cores, texturas e temperatura das receitas. Uma das maneiras de fazer isso é disfarçar os alimentos novos, o que pode fazer com que a criança se acostume com o sabor deles. Isso não significa enganar a criança, mas apresentar o alimento sob formas novas. Talvez isso possa ser feito incrementando o visual dos pratos preferidos pela criança. Por fim, deve-se investir na diversão, oferecendo comidas de formas divertidas e que explorem a imaginação, procurando dar aos ingredientes a forma de animais ou rostinhos humanos ou outros. A criatividade e o bom humor durante as refeições são fundamentais!
A recusa normal de alimentos novos deve ser distinguida da neofobia alimentar1 tanto pela sua intensidade quanto pelo nível de comprometimento do comportamento social.
Como evolui em geral a neofobia alimentar1?
É comum e até esperado que as crianças adotem comportamentos neofóbicos seletivos e que seu repertório alimentar se expanda após esse período de neofobia alimentar1. No entanto, as crianças que ingeriram menos variedade de alimentos na primeira infância serão os adultos que ingerirão menos variedade posteriormente, mantendo algum grau de neofobia. Há uma chance maior de uma criança gostar de um novo alimento se for introduzido antes do período de neofobia/seletividade do que se for introduzido durante esse período. Portanto, desde que não haja suspeita de alergias alimentares, deve ser dado acesso à maior variedade possível de alimentos na menor idade possível.
Entender a neofobia alimentar1 e a sensibilidade sensorial das crianças é importante para a compreensão das questões subjacentes relacionadas à aceitação limitada dos alimentos no desenvolvimento típico de crianças pequenas e para ajudar os pais a criarem padrões de ingestão alimentar saudáveis para os filhos.
Veja também sobre "Bulimia6 nervosa", "Anorexia nervosa7", "Ortorexia nervosa" e "Síndrome8 da distorção da imagem corporal".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites do The Journal of Nutrition, do Clinical Nutrition Journal e da Schoen Clinic – Newbridge.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.